Estrada de Ferro Patopolense

História do Peninha, publicada pela primeira vez em 1974.

Ao que me parece, esta história é inspirada em “O salário do medo”, filme Francês de Henri-Georges Clouzot que recebeu a Palma de Ouro do Festival de Cannes de 1953.

O filme conta a história de quatro homens desempregados de uma obscura cidadezinha da América do Sul, que aceitam uma missão perigosa: transportar uma carga altamente explosiva de nitroglicerina em caminhões sem nenhuma segurança, ao longo de estradas em péssimas condições. É um filme de tensão com toques de um humor negro especialmente mórbido.

Apesar da referência, a história em quadrinhos que vemos publicada é bem menos tétrica, é claro. Papai tem inclusive o cuidado de deixar claro que o Peninha (similarmente contratado para um trabalho parecido, mas por linha férrea e não caminhão) nunca esteve em nenhum perigo real, para não preocupar demais o jovem leitor.

Enfim, é o que dizem por aí, sobre doações à igreja e “bondades” similares: “quando a esmola é muita, até o santo desconfia”. O leitor atento deve desconfiar de que algo está errado quando o Peninha, demitido a patadas do Jornal A Patada pela enésima vez, é contratado um pouco fácil e efusivamente demais por uma empresa ferroviária para um trabalho que parece simples, mas que também tem um fundo de mistério. É como tudo na vida: se parece bom demais para ser verdade, provavelmente é mesmo.

Esta parece ser a única história de papai, e uma de somente duas histórias nacionais, onde o antagonista do Tio Patinhas Pão-Duro MacMônei aparece. Ele preferia usar o Patacôncio como inimigo, e chegou também a inventar outros inimigos escoceses, como Harpagão Mac Shato e Jerônimo Nheka. Todos eles bem menos “maus” que o MacMônei, que é um antagonista bem mais “da pesada”.

O nome da empresa ferroviária de Patópolis é inspirado em antigas estradas de ferro cafeeiras do Estado de São Paulo, que levavam o nome das cidades onde ficavam suas sedes: Companhia Ituana, Estrada de Ferro Sorocabana e Companhia Mogiana.

(E agradeço ao amigo Tiago Cardoso por me alertar de que esta história ainda não havia sido comentada. Se alguém souber de mais alguma que ele escreveu e eu não comentei, é só avisar.)

Publicidade

As Aventuras De Pen-Hur

História do Peninha, de 1984.

Também poderia facilmente se chamar “As Desventuras de Pen Hur”, pela quantidade de encrencas pelas quais o herói terá de passar, mas “Aventuras” também está ótimo.

A inspiração vem do clássico filme “Ben Hur”, de 1959, estrelado por Charlton Heston. Juntamente com “Cleópatra” e outros do gênero, este foi um daqueles filmes épicos que marcaram várias gerações, chegando aos anos 1970 e 1980 ainda com a mesma fama e capacidade de cativar os espectadores.

A trama de papai como de costume consegue transformar um grande drama em uma comédia, mas ainda assim é razoavelmente fiel ao original. Quem conhecer a história do filme e ler a HQ, ou, ao contrário, ler a HQ e depois for ver o filme, certamente reconhecerá boa parte da história.

Os nomes dos personagens são todos adaptados, é claro, para um maior efeito cômico. Assim, o centurião Messala, principal vilão da história vira “Xatus Pacas”, por motivos óbvios, e o “centurião bom”, de nome Arrios, acaba virando “Arrius Equus”, em uma brincadeira com a expressão “arre, égua” e uma alusão ao amor dos romanos antigos por seus cavalos.

Alguns elementos são mantidos, como a mocinha por quem o herói é apaixonado sendo prometida contra a vontade a outro, as galés e a corrida de bigas, pontos fortes do filme. Outros elementos são atenuados, como a tentativa de suicídio do centurião bonzinho, que vira um acidente de quase afogamento no mar, e ainda outros são totalmente eliminados, como a existência da mãe e da irmã do herói, a doença delas e as referências ao Cristianismo. Essas partes mais trágicas e religiosas não “cabem” no estilo da Disney nem no número de páginas proposto para as histórias.

Como sempre, é um bom ponto de partida para que o leitor vá pesquisar mais um pouco, e de preferência ler um livro ou assistir a um filme ou dois.

***************

Já leste o meu livro? Quem ainda não leu está convidado a conhecer minha biografia de papai, à sua espera nas melhores livrarias: Marsupial – Comix – Cultura 

A História dos Quadrinhos no Brasil, e-book de autoria de papai, pode ser encontrado na Amazon 

Ópera-Rock Rural

História da Companhia Teatral Peninha, de 1975.

Não satisfeita em azucrinar os cidadãos de Patópolis com suas – aham – “encenações” sem pé nem cabeça, a CTP resolve levar sua, bem, “arte” à área rural da cidade em um palco montado na carroceria de um caminhão. Os resultados serão hilários, é claro, mas não da maneira pretendida pelos personagens.

O teatro de rua inspirado em tradições que remontam à Idade Média, inclusive com o costume do show itinerante, é o tema central da CTP. A piada interna, com a saudação em acorde de Dó maior (um “olá” em Dó, outro em Mi e outro em Sol), também é uma marca registrada da trupe.

ctp-rock

Papai junta aqui vários conceitos tomados das artes performáticas e os combina em algo que parecia insólito na época, mas que foi se tornando cada vez mais comum ao longo das décadas. Como sempre, ele estava uns 30 anos à frente de seu tempo.

Como eu disse, o conceito do teatro de rua itinerante remonta à Idade Média. Dessa tradição nasceu o conceito do Circo, e hoje em dia temos também grupos de pessoas que levam o cinema aos confins do Brasil, como o CineSolar e o TelaBrasil, por exemplo.

Já a Ópera é um tipo de entretenimento que combina música e teatro e que se popularizou nos séculos XVII e XVIII. A Ópera Rock é algo inventado nos anos 1960, e o Rock Rural também existe e tem seus principais representantes no Brasil em Sá e Guarabyra a partir dos anos 1970. Essa pode, muito provavelmente, ter sido a inspiração para esta história.

Mais recentemente temos artistas como o cantor Meno e sua “Ópera Rock Caipira”, e até mesmo a banda de rock Jethro Tull enveredando pelo conceito de Ópera Rock Rural.

ctp-rock1

Outra piada interessante da história é a referência a “Rock” como se fosse uma pessoa, um “artista de cinema”. Essa é uma referência à canção “Esse Tal de Roque Enrow“, de Rita Lee, do álbum “Fruto Proibido”, de 1975. E a canção é uma referência ao galã Rock Hudson, que era famoso nos anos 1950 e 1960, exatamente na época em que o estilo musical seu “xará” começou a ficar popular. Isso deu um “nó” na cabeça de alguns pais mais caretas, que não conseguiam entender pelo que era, exatamente, esse fanatismo todo de seus filhos.

***************

Já leste o meu livro? Quem ainda não leu está convidado a conhecer minha biografia de papai, à sua espera nas melhores livrarias: Marsupial – Comix – Cultura 

A História dos Quadrinhos no Brasil, e-book de autoria de papai, pode ser encontrado na Amazon 

Zezi E Rosi

História do Zé Carioca, de 1984.

Em mais uma produção do tio cineasta da Rosinha, Cecilio B. de Milho, hoje temos uma filmagem baseada no livro “O Guarani” de José de Alencar. Este clássico da literatura brasileira teve tanto sucesso em seu tempo que virou ópera ainda no século XIX, pela batuta do maestro Carlos Gomes, além de ser realmente adaptado para o cinema e a TV em várias ocasiões ao longo do século XX.

Por tudo isso é claro que não poderia faltar uma adaptação para os quadrinhos, e é também claro que várias delas foram feitas ao longo dos anos. Se bem que, como papai sempre fazia, este não é um retrabalho rigorosamente fiel do clássico, mas uma variação sobre o tema. É um convite para que o leitor pesquise mais. Ele aproveita aqui alguns dos personagens e cenas do livro, mas a história, na verdade, é outra.

O que temos aqui é mais um dos mistérios “policiais” de papai, que o leitor atento é sutilmente convidado a investigar. Uma série de acidentes estranhos está acontecendo no set de filmagem. Enquanto isso, e como se não bastasse, o Zé Galo está sendo chato como sempre, se intrometendo e querendo tomar o lugar do Zé no filme só para poder beijar a Rosinha, que está fazendo o papel de mocinha.

Será o Zé Galo o vilão que está sabotando as filmagens? Quem está acostumado com as histórias de papai não vai ter dificuldade nenhuma em descobrir a verdade, apesar das investigações atrapalhadas do Zé.

E temos também mais algumas referências. O braço do sabotador é mostrado lançando uma lata de biscoitos da marca “Aymoré“, popular nos anos 1970, na cena do “ataque dos índios”, que faz parte do livro.

ZC Rosi

Já a menção a uma fictícia empresa chamada “Xanxada Filmes” é referência a uma filmagem de O Guarani, ainda recente naquela época, feita em 1979 por um cineasta especializado em filmes eróticos, as chamadas “Pornochanchadas”. A “Chanchada” é um estilo cinematográfico genuinamente brasileiro, caracterizado por um humor às vezes ingênuo, às vezes até de mau gosto, e em estilo de paródia ou sátira de outras produções.

****************

Já leste o meu livro? Quem ainda não leu está convidado a conhecer minha biografia de papai, à sua espera nas melhores livrarias: Marsupial – Comix – Cultura – Monkix 

A História dos Quadrinhos no Brasil, e-book de autoria de papai, pode ser encontrado na Amazon

***************

Tenho o prazer de anunciar um novo livro, que não é sobre quadrinhos, mas sim uma breve história do Rock and Roll. Chama-se “A História do Mundo Segundo o Rock and Roll”, e está à venda nos sites do Clube de Autores agBook

Zé Lamparina

História do Zé Carioca, de 1981.

Esta é mais uma da série “como não fazer um filme”. Desta vez a produção (que é mais um dos empreendimentos culturais da Rosinha) é mais séria, com boas fantasias e equipamentos de filmagem, atores “de verdade” convidados e até um diretor profissional, mas é claro que também não vai dar lá muito certo.

Como sempre papai abusa dos nomes satirizados, como Cecílio B. de Milho (Cecil B. DeMille) para o cineasta tio da Rosinha, e Tôni Rangos (Tony Ramos) para um certo ator que é um “famoso galã de telenovelas” e que será, aqui, o foco de todo o ciúme do Zé. O “Tio Cecílio” é criação de papai, e foi usado novamente em mais uma história com o tema cinema alguns anos depois.

ZC Lamparina

O Zé pode até ser parecido com Zé Lamparina, o Rei do Cangaço, que é mais uma brincadeira com o cangaceiro Lampião, mas é também um canastrão nato. Nenhuma cena com a presença dele pode resultar em alguma coisa que preste. E assim, de novo, a atuação descamba para algo parecido com as antigas brincadeiras de “bangue bangue” das crianças, incluindo os “tiros” dados aos berros, quando acaba a espoleta.

ZC Lamparina1

****************

Já leste o meu livro? Quem ainda não leu está convidado a conhecer minha biografia de papai, à sua espera nas melhores livrarias: Marsupial – Comix – Cultura – Monkix 

O Cavalo-de-Ferro

História do Pena Kid, de 1976.

A estrela de hoje é o trem, e tudo gira em torno dele. A estrada de ferro está chegando a Pacífica City, no legendário faroeste, trazendo consigo o progresso e o desenvolvimento. Até mesmo o assalto cometido pelos Metraltons tem menos importância na história do que o trem, e o ataque dos índios também não passa de “cena de filme”.

E por falar em filmes, é neles que papai foi buscar a inspiração: “The Iron Horse” (O Cavalo de Ferro) é um filme mudo dos EUA que foi lançado em 1924, dirigido por John Ford e produzido pela Fox Film. Ele conta a história, iniciada em 1825, dos fatos, intrigas, disputas políticas e conflitos (incluindo a clássica cena do ataque dos índios) que levaram à abertura da primeira linha férrea nos EUA. Ele pode, aliás, ser assistido aqui, com as vinhetas (meio mal) legendadas em Português, mas está valendo.

Em 1966 uma série para TV, também ambientada no velho oeste e chamada de Iron Horse/Cavalo de Ferro, foi lançada com 47 episódios divididos em duas temporadas. A abertura dessa série pode ser vista aqui.

PK Ferro

O resto são os geniais meta-quadrinhos de sempre, primeiro com uma pequena demonstração de como se fazia o rafe, e depois com os costumeiros palpites do Tio Patinhas e as soluções mirabolantes do Peninha.

PK Ferro1

****************

Já leste o meu livro? Quem ainda não leu está convidado a conhecer minha biografia de papai, à sua espera nas melhores livrarias: Marsupial – Comix – Cultura – Monkix 

Gilda em Hollywood

História da Turma do Lambe Lambe, de Daniel Azulay, criada em julho de 1982 e publicada pela Editora Abril em novembro do mesmo ano.

Pode-se dizer que este foi mais um de vários “projetos especiais”, dos quais papai era convidado a participar de tempos em tempos. A cada vez que aparecia um novo autor para publicar seu projeto pela Abril, a “casa” disponibilizava seus melhores artistas para participar, e papai entre eles.

A “paleta de personagens” de Azulay mistura figuras mistas de animais, como ocorre com os personagens da Disney, e seres mais antropomórficos, ao estilo MSP e Ely Barbosa. Ao que parece, quanto mais jovem o personagem, menor a chance de ele ser representado como um animal. Todas as crianças representadas têm uma aparência bastante humana. Já os adultos são todos meio zoomórficos.

Já a história em si é uma aventura em Hollywood, que logo de saída começa com a Gilda, uma personagem atriz e cantora com cara de vaca que lembra bastante a Clarabela da Disney (e Gilda, um filme clássico dos anos 1940), saindo do avião para participar da gravação de um filme.

Gilda Hollywood

É uma comédia de erros, com muitas confusões, um caso de identidade trocada, uma crise de soluços que ameaça por tudo a perder e até mesmo tietagem por parte do Bufunfa, o elefante namorado da Gilda, com uma atriz famosa. O nome da tal atriz, Bô Dearaque, é um daqueles trocadilhos que com o tempo se tornaram uma marca registrada de papai, e uma referência à atriz Bo Derek.

Gilda Hollywood1

****************

Já leste o meu livro? Quem ainda não leu está convidado a conhecer minha biografia de papai, à sua espera nas melhores livrarias.

Marsupial: http://www.lojamarsupial.com.br/ivan-saidenberg-o-homem-que-rabiscava

Comix: http://www.comix.com.br/product_info.php?products_id=23238

Cultura: http://www.livrariacultura.com.br/p/ivan-saidenberg-o-homem-que-rabiscava-15071096

Monkix: http://www.monkix.com.br/serie-recordatorio/ivan-saidenberg-o-homem-que-rabiscava-serie-recordatorio.html

O Superastro

História do Morcego Vermelho, publicada pela primeira vez em 1973.

No mundo dos filmes para o cinema nada é o que parece ser. Atores representam outras pessoas, e é difícil às vezes saber onde acaba a atuação e começa a realidade. Já houve até casos de acidentes em encenações de teatro e sets de filmagem que, pelo menos num primeiro momento, foram confundidos com a encenação que estava acontecendo até um momento antes.

Papai usa aqui essa ambiguidade para criar uma hilária confusão, onde até a identidade secreta do Morcego Vermelho é revelada, mas continua em segredo, e no fim quase é revelada de verdade.

MOV Astro

O Tio Patinhas está fazendo um filme sobre as aventuras do Morcego Vermelho, e para economizar contrata o Peninha para fazer o papel do herói, porque o próprio Morcego pediu um cachê muito caro. Isso aliás já aconteceu muito no cinema, e até a própria Disney contratou Aurora Miranda, irmã menos famosa de Carmem Miranda, para estrelar seu filme “Você Já Foi à Bahia?” justamente porque (diz a lenda que) a Carmem pediu um cachê muito alto.

Mas as contratações “baratas” do Patinhas não param por aí: para o papel dos Metralhas ele contrata um bando de vagabundos do cais do porto, mas o barato sai caro: os verdadeiros metralhas acabam pagando mais para tomar o lugar dos “atores” no set de filmagem, e ter acesso à Caixa Forte.

MOV Astro1

A Margarida iria fazer o papel de Maga Patalójika, mas quando ela se adoenta, o Pato Donald é recrutado para o papel. Até o Mickey e o Pateta são contratados para a equipe técnica, o primeiro como iluminador, e o segundo como cinegrafista. Se bem que, com o Pateta no comando da câmera, as coisas complicam um pouco.

A frase “Morcego, sai da lata”, usada na primeira página, é uma alusão a um antigo comercial de uma marca de azeite, cujo slogan “Maria, Sai da Lata”, com sua musiquinha, acabou ficando tão popular que virou uma brincadeira na boca do povo, justamente para “acordar” aquelas pessoas distraídas que parecem viver dentro de seu mundinho particular.

MOV Astro2