Se já houvesse internet nos anos 1980, este material seria, muito provavelmente, um blog. Com seu afiado senso crítico, papai comentava um pouco de tudo, de política e políticos a arte e cultura, entremeando aqui e ali com textos muito pessoais e até poéticos, sempre baseado nas últimas notícias e tendências da época.
Algumas destas colunas – publicadas originalmente no “Jornal de Hoje”, de Campinas/SP – são francamente satíricas, outras são terrivelmente irônicas. Muitas delas poderiam terminar com um internético e retumbante “#SQN”, enquanto algumas são gravemente sérias. Parte das situações e problemas aqui descritos parecerão ao leitor bastante surreais. Outros serão perturbadoramente familiares.
01/03/1980 – Maluf, o Futuro Presidente
“O governador Paulo Maluf representa o que de pior o regime autoritário pôde assegurar nos seus 15 anos de obscurantismo: o populismo descarado, a manipulação da máquina do Estado a serviço da corrupção política e a degradação final da moral política”.
Essa declaração não é minha e sim do deputado José Costa, do pMDB de Alagoas. Já outro deputado, Hélio Duque, também do pMDB do Paraná declarou a respeito:
– “Entristece a Nação o espetáculo de degradação política que se monta no Brasil, a partir de São Paulo, com o apoio de Paulo Maluf”.
Ninguém ignora que Maluf deseja ser o sucessor do general Figueiredo na Presidência da República. Como até agora ninguém falou em eleições diretas para a Presidência, em 1984, Maluf conta com a realização de indiretas, por meio de votos dos congressistas. Segundo Hélio Duque, o Legislativo está se desgastando, desde já, com as denúncias de aliciamento de parlamentares, feito pelo governador de São Paulo e que têm sido divulgadas pela imprensa.
Para tanto, Maluf estaria interessado em abrir uma agência do Banco do Estado de São Paulo no Congresso. Para Hélio Duque, “isso é trágico e está a exigir explicações das mesas da Câmara e do Senado, já que proibiram a instalação das sedes dos partidos, alegando falta de espaço para isso”. A manipulação dos dinheiros públicos para fins políticos e eleitoreiros é proibida por lei, bem como o uso de prédios e repartições públicas para essa mesma finalidade. Todavia, todos sabem que os políticos da antiga Arena (hoje PDS ou Arenão) sempre foram useiros e vezeiros nessa prática e jamais houve punição para quem quer que fosse.
Se é verdade que Maluf está agindo assim para se tornar no próximo presidente eleito pela via indireta, tudo que resta às forças vivas da Nação, bem como ao povo brasileiro, é a urgente modificação da Constituição, para que as próximas eleições para o posto máximo do Governo sejam realizadas pelo voto direto e secreto. Só assim teremos um legítimo representante do povo no Palácio do Planalto.
Desde 1960 que eu não voto para Presidente da República. A grande maioria dos eleitores brasileiros, então, nunca votou, pois tem menos de 30 anos de idade… Acredito que a realização dessas eleições, pela via direta seja a máxima aspiração da nossa gente.
Quanto a Maluf, nada tenho contra ele, pessoalmente. E apenas mais um fruto do regime em que ainda vivemos, onde o povo não escolhe seus governantes. Eu mesmo já sugeri a candidatura de Maluf para presidente há cerca de um mês… Para presidente da Arábia Saudita, é claro!
04/03/1980 – A Emenda Tampão
Para fazer frente à “Emenda Lobão”, proposta pelo deputado Édison Lobão, do PDS do Maranhão, que propõe o retorno das eleições diretas para governadores, em 1982, o governo, num golpe de mestre, acaba de apresentar uma outra emenda, já chamada de “emendão”, ou de “emenda tampão”.
Proposta pelo ministro da Justiça, Abi-Ackel, esta “emenda tampão” propõe não apenas a volta das eleições diretas para governadores, como também o fim da eleição indireta de senadores, acabando assim com os chamados “senadores biônicos”.
À primeira vista, a ideia que se faz da “emenda tampão” é ótima, pois ela faz parte, segundo fontes governamentais, do processo de abertura e re-democratização do general Figueiredo. Todavia, se analisarmos melhor essa emenda, notaremos que ela não passa de uma medida de emergência do governo, para impedir a votação e a aprovação da “Emenda Lobão”.
A “Emenda Abi-Ackel” (outro nome que já lhe deram) só será votada no próximo ano e, como não propõe prazos para sua entrada em vigor, poderá somente ser sancionada pelo general Figueiredo em 1982. Além disso, ela não extingue os atuais mandatos dos “senadores biônicos”, só propõe que não sejam eleitos outros, no futuro… Ao que tudo indica, não é mais do que uma medida para ganhar tempo e impedir uma vitória oposicionista.
Curiosamente, Edison Lobão não é da oposição e sim um ex-arenista, hoje nos quadros do PDS, ou Arenão; mas a aprovação da sua proposta favorece a oposição e não ao governo. O próprio presidente nacional da comissão provisória do pMDB, deputado Ulysses Guimarães, é favorável à aprovação da “Emenda Lobão”, pois ela é mais concreta e abre a corrida sucessória desde já.
É precisamente este o ponto que não interessa ao governo: os candidatos a governador, tendo tempo para se tornarem conhecidos pelos futuros eleitores diretos, ou seja, o povo, estariam com seus programas de governo claramente expostos em 1982. E o que ocorreria então? Uma vitória maciça da oposição! Quem é louco de votar em candidatos do PDS, que nada mais querem fazer do que dar continuidade ao que está aí?!
Assim, desesperado, o governo se finge de bonzinho e sai com essa emenda “Abi-Ackel”, que, por ter sido lançada numa ocasião de emergência e ter a finalidade de funcionar mesmo como um “tampão”, já ganhou um outro apelido do povo brasileiro, cujo humor satírico não perdoa nada.
Se vocês querem que eu conte, eu vou dizer qual foi o novo nome que inventaram para essa emenda governamental:
“Emenda Modess”!
05/03/1980 – As Águas Vão Rolar
1980, de acordo com os babalaôs da Bahia, é um ano regido pela Orixá Oxum, entidade feminina que rege as águas doces e reina sobre as fontes e cachoeiras, rios e lagos. O jogo de búzios apontou também que o ano seria chuvoso, com ocorrência de enchentes calamitosas em todo o Brasil.
Muita gente, que não acredita “nessas coisas”, duvidou quando essas profecias foram feitas, no fim do ano passado… Mas os fatos aí estão, para comprovar que elas tinham fundamento: chuvas torrenciais e enchentes são hoje lugar comum do Amazonas ao Rio Grande do Sul, sendo mais graves ao longo do Rio São Francisco.
E o que é pior: o Governo está se revelando tanto imprevidente quanto incompetente para solucionar o problema. Tudo o que os nossos governantes sabem fazer é decretar “estado de calamidade pública”.
Mesmo sem consultar os búzios, os nossos homens públicos deveriam ter tomado medidas quando, no ano passado, enchentes se verificaram nas mesmas regiões deste ano, ainda que em menores proporções. Não é preciso se ter uma bola de cristal para saber que, com o crescente desmatamento do nosso País, o equilíbrio ecológico, que existe há milhões de anos, fica rompido. Sem as matas, a terra perde o poder de absorção das águas; enquanto rios subterrâneos secam, os da superfície recebem um grande acúmulo de água, o que provoca as enchentes e a destruição das lavouras.
Caem as pontes, alagam-se as estradas, inundam-se as cidades. O povo brasileiro, tão sofrido, está morrendo de fome e de sede, ao longo dos nossos principais rios. De sede, porque a água barrenta dos rios não serve para beber… E as enchentes inundam os reservatórios de água limpa, além de inundar os locais onde a água potável é bombeada para as cidades ribeirinhas.
O transporte está parando em quase todo o Brasil. Como se sabe, quase tudo é transportado por caminhões (o que é outro absurdo) que estão atolados, aos milhares, nas estradas de terra do nosso interior. Os produtos perecíveis transportados por esse meio caríssimo, tendo em vista o custo do petróleo, estão perecendo, como não poderia deixar de ser.
Com isso, somando-se a perda de safras inteiras, morte de gado, doenças e outros flagelos que acompanham as enchentes, deveríamos declarar estado de calamidade pública no Governo brasileiro. Quem sabe, se o Mário Andreazza, nosso ministro do Interior, tivesse ido num candomblé, alguma providência prévia teria sido tomada. Pelo menos, ele poderia ter tomado um banho de cheiro, ou de descarrego com sal grosso; quem sabe uma defumação ou coisa semelhante…
Se isso não ajudasse a combater as enchentes, talvez resolvesse o problema de imprevidência, aclarando as ideias do ministro que só soube, em época anterior, fazer obras faraônicas do tipo Transamazônica e Ponte Rio Niterói. Seria bom também Delfim Neto (e talvez o Governo todo) ir se benzer nos terreiros, porque, do jeito que a coisa vai, o “Modelo Econômico Brasileiro” irá por água a baixo.
06/03/1980 – Que bobagem!
Ao comentar um relatório feito pelo Chase Manhattan Bank sobre a economia brasileira, o prof. Antoninho (como a esposa chama carinhosamente o prof. Delfim Neto) declarou à imprensa: BOBAGEM!
O Chase é um dos maiores e mais conceituados bancos do mundo. O que o professor-ministro não gostou, é que o relatório afirma que o Brasil vai aumentar em muito o seu endividamento externo, apresentando um enorme déficit na sua balança comercial, neste ano.
Para o prof. Delfim, isso é bobagem… Ele deve achar que o endividamento externo do Brasil também não passa de bobagem, não é? E o interno, então? E a divida que o governo tem para com o povo brasileiro? Também será bobagem?
Nos quase 16 anos da “Redentora”, a divida externa do País aumentou milhares de vezes… E a interna mais ainda. O povo deve cobrar do governo essa divida imensa: ele lhe deve melhores condições de vida, escola para o primeiro e segundo graus, alimentação digna, moradia, direito pleno de voto, melhor distribuição de terras, melhor distribuição de renda, salários condizentes com o custo de vida, emprego para todos, creches para as mães que trabalham, orfanatos para os menores abandonados, asilos para os velhos também abandonados, assistência médica efetiva etc., etc., etc. e tal!
Aos estudantes que terminam o segundo grau, o Governo deve vagas para todos, nas faculdades; aos que terminam os estudos superiores, ele deve empregos dignos e salários condizentes com um diploma universitário.
Aos empresários nacionais, o Governo deve indenizações pelo abuso cometido pelas multinacionais em nosso País, que não deixam lugar para a pequena e média empresa, levando milhares de firmas idôneas à falência.
Ao povo nordestino, ele deve bilhões, pelos prejuízos causados pelas secas e enchentes, pois nada fez para resolver esses dois angustiantes problemas. Aos agricultores, deve assistência, financiamento de máquinas, aumento do crédito rural, estabilidade para os trabalhadores do campo e seguro sobre as safras.
Aos índios, o governo deve tudo, pois nada fez senão permitir a espoliação desses deserdados da sorte. Aos negros e mulatos, descendentes de antigos escravos africanos, deve muito mais, pois a Lei Afonso Arinos não é cumprida e os “homens de cor” são marginalizados, não conseguindo bons empregos e nem um lugar digno na sociedade, com raríssimas exceções.
Mas o professor-ministro só sabe rir, achando tudo isso uma grande bobagem. Ao povo só resta uma pequena vingança: apelidar esse risonho e gordo professor, que de tudo zomba com ar de superioridade. Um jornalista amigo meu sugeriu um apelido engraçado: BOBO DA CORTE!
08/03/1980 – Os índios em pé de guerra!
Rufam os trocanos(l), soam os maracás(2), no tujupá(3) os guerreiros dançam, pintados com urucu(4), a cor da guerra. Os pajés(5) são consultados sobre o destino da luta, o murubixaba(6), erguendo a sua borduna(7) lança o grito tão temido: jucá-jucá(8)!
Tudo isto aconteceria se os nossos índios já não estivessem tão aculturados como estão… Mas, não. Hoje, já não há mais rituais preparatórios para a guerra, no município amazonenses de Boca do Acre. Em vez disso, quatro índios Apurinas embarcaram para Brasília, a fim de exigir da Funai a retirada imediata de várias famílias de colonos e do fazendeiro João Sorbile de suas terras, situadas no km 45 da BR-317, naquele município.
“Se a Funai não der jeito, vai ter briga”, limitou-se a declarar um dos índios, José Apurina. Ele explicou que pretendem retornar de Brasília dentro de quatro dias, com uma comissão do órgão, para fazer um levantamento da situação. No inicio de fevereiro, cerca de 500 índios Apurinas se reuniram em conselho e decidiram que esta é a última vez que vão recorrer à Funai e que, se a situação não for resolvida, eles irão à guerra.
Segundo José Apurina e seus três companheiros, o fazendeiro João Sorbile está fornecendo armas aos colonos e instigando-os a matar os índios, se eles não quiserem deixar suas terras. Os índios já estão sendo impedidos de nadar, pescar e colher castanhas nas margens do Rio Acre, numa região que fica dentro da reserva indígena Apurina. Devido a uma falha de demarcação da Funai, em 1976, os colonos estão se aproveitando para a invasão.
Ainda segundo José Apurina, até um agente da Polícia Federal e um funcionário da Funai no Acre fizeram ameaças aos índios, para que eles não reivindicassem o restante da área que lhes pertence.
Enquanto isso, no Paraná, onde o cacique Angelo Kretã morreu ao tentar reivindicar a posse de terras que lhe foram tomadas pelo ex-governador Moisés Lupion (de triste memória), também se fala de guerra, de luta armada contra os “civilizados”, se os colonos não se retirarem das terras indígenas.
A luta prossegue, esperemos que de forma pacífica. Vamos rezar, se preciso, a Tupã(9), para que a Funai termine brevemente a demarcação das terras indígenas, tomando ainda medidas efetivas para impedir a invasão das mesmas e a consequente matança dos indígenas, a tiros, facadas, ou por meio da transmissão de moléstias e difusão de bebidas alcoólicas e até tóxicos.
Anauê (l0)
(l) tambor de guerra – (2) chocalhos rituais – (3) terreiro para danças rituais e litúrgicas – (4) fruto que produz tinta vermelha – (5) sacerdote – (6) cacique – (7) clava de guerra – (8) morte – (9) divindade máxima dos índios – (l0) Saudação tupi-guarani, da qual os integralistas se apropriam indevidamente.
11/03/1980 – Uma Emenda Ampla, Geral e Restrita
Supresa! Com essa o governo não contava… Uma emenda ampla, geral e irrestrita, apresentada muito antes da “Emenda Lobão” e da “Emenda Tampão Abi-Ackel” (ou Emenda Modess) está ainda por tramitar no Congresso Nacional. E quem é o autor dessa emenda total? Orestes Quércia!
O mais curioso é que o próprio senador já nem se lembrava de ter apresentado essa emenda, tanto tempo faz que ele a elaborou. O mais curioso é que ele prevê não só a eleição direta para governadores estaduais (como a “Lobão”), como também a extinção dos senadores biônicos (como a “Abi-Ackel”) e ainda por cima, a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte e… ELEIÇÕES DIRETAS PARA PRESIDENTE DA REPÚBLICA! Tcham-tcham-tcham-tcham!
Cheia de dedos, e liderança do PDS (vulgo “Arenão”) já começou a procurar um meio de sabotar essa super emenda, pois todos sabem que o general Figueiredo é contra as eleições diretas para a Presidência, de acordo com suas próprias declarações à imprensa, rádio e televisão. – “Eleições diretas? – disse ele – Se depender de mim, nunca ocorrerão!”
Os “pedessistas” já pensam em anexar as três emendas, “Lobão”, “Abi-Ackel” e “Quércia”, para desse modo votar duma vez só as diversas proposições, já que elas tratam de um só assunto: eleições diretas. Porém, atrás dessa ideia da turma do Arenão, existe uma intenção muito clara e muito má…
A intenção é só aprovar os itens com os quais o general-presidente concorda: eleições diretas para governadores em 1982 e extinção dos senadores de proveta, mas só quando acabarem os mandatos dos atuais biônicos.
Mais uma vez, os lideres da ex-Arena, hoje “Arenão” ou PDS, vêm a público para demonstrar que são anti povo brasileiro, anti democracia plena e anti tudo que não seja favorável a seus próprios interesses, que são nada mais, nada menos, do que os interesses do grupo que está no governo.
Ainda que, através das muitas artimanhas, o PDS seja hoje maioria na Câmara e no Senado, podendo assim boicotar emendas, votar leis a seu bel prazer etc., etc., resta-nos um consolo: com a emenda ampla, total e irrestrita do senador Orestes Quércia (que é sempre bom lembrar, e ao PMDB), os alicerces da grande encenação que já estava preparada para boicotar a emenda ‘Lobão’ e aprovar a emenda “Abi-Ackel” só no ano que vem, estão seriamente abalados.
Se os nosso políticos, que hoje fazem parte do PDS, tivessem um pingo de vergonha na cara, aprovariam de vez essa emenda total, acabando de vez com o arbítrio e com a exceção, restabelecendo eleições diretas em todos os níveis e instituindo uma Assembléia Nacional Constituinte, o que é a máxima aspiração do povo brasileiro. Eu disse “se tivesse um pingo de vergonha na cara”, mas, para que sonhar? Se tivessem isso, minha gente, não fariam parte do PDS.
12/03/1980 – E o morto falou!
— “Enquanto eu for vivo, nenhum ladrão será eleito em São Paulo!” — esta inusitada declaração foi feita pelo Sr. Jânio da Silva Quadros, ex-prefeito, ex-governador de São Paulo, ex-presidente da República e ex- uma porção de coisa, que deixou órfãos milhões de brasileiros, ao renunciar à essa Presidência, em 1961.
Isso foi dito no momento em que o Sr. Quadros embarcava para uma “tournée” pelas aí, num navio de alto luxo, que deverá, se não me engano, fazer a volta ao mundo e trazer o “homem da vassoura” de volta ao Brasil, brevemente, o que é uma pena.
Eu acho que o Sr. Quadros está meio por fora da situação de São Paulo, e mesmo da situação nacional. Cassado em 1964 (dizem que por uma vingança pessoal do marechal Costa e Silva, que teria colocado o nome do ex-presidente encabeçando a primeira lista de cassações, o que lhe deu a honra de ser o cassado número um do golpe militar), ele deve ter ficado muito alheio aos acontecimentos políticos, nesses quase 16 anos.
Jânio jura que não é candidato a coisa alguma, entre um Whisky e outro, mesclado com uma cervejinha e uma boa caipira, daquela que derrubou o guarda… Mas há quem jure que elementos do PDS, ex-membros da extinta Arena e ex-membros da ainda mais extinta UDN (já morta e enterrada), estejam dispostos a lançar o Sr. Quadros a candidato a governador de São Paulo, no próximo pleito de 1982, que será o primeiro a ser realizado pelo voto direto, desde o golpe militar.
Se o Sr. Quadros não é candidato, por que está fazendo declarações políticas desse tipo? E o que ele quer dizer com “nenhum ladrão será eleito”? A quem ele se refere? Talvez ainda esteja pensando no seu velho inimigo político, o Sr. A. de Barros (como o “Estadão” sempre chamou esse político), esquecendo-se de que esse ilustre senhor já não faz mais parte do mundo dos vivos…
Agora, se o Sr. Quadros está se referindo a uma certa eleição indireta que houve em São Paulo, recentemente, aí então é que ele está por fora de tudo, mesmo. Há quem diga que o tal do ladrão já está eleito e vai continuar no posto, doa a quem doer.
Bem, o Sr. Quadros afirmou que nenhum ladrão seria eleito enquanto ele estivesse vivo… Vai ver, mesmo, que ele já morreu e esqueceu de cair. A família enlutada pede que não sejam enviadas flores e nem vassouras, (aham!) perdão, nem coroas!
13/03/1980 – Bye Bye, Brasil!
Não, infelizmente eu não vou falar do filme genial de Cacá Diegues, onde se vê o confronto de um Brasil primitivo, porém rico em cultura e tradição, minérios e matas, com um outro Brasil (será Brazil?) aculturado e dominado pelos estrangeiros… Pobre e desgraçado Brazil.
Vou falar, sim, do nosso Brasil atual, da nossa realidade, que nenhum filme, por mais genial que seja, consegue retratar. De um Brasil espoliado, retalhado e vendido, que cada vez fica menor.
Depois do precedente do projeto Jari, que foi cedida a um milionário americano, Daniel Keith Ludwig, uma área maior do que a Bélgica, na Amazônia, virou moda vender o Brasil aos pedacinhos a firmas multinacionais, totalmente alheias aos interesses do nosso País e totalmente voltadas para o lucro puro e simples, para a exploração da nossa terra e da nossa pobre gente, cada vez mais pobre.
Sim, o Brasil ficou menor, na semana que passou… O deputado Hélio Duque (pMDB-PR) acusou frontal e diretamente o ministro da Agricultura, Arhaury Stabile, de estar favorecendo uma multinacional, a Sharp, na aquisição de um milhão de hectares de terras no Mato Grosso. Depois do Jari, essa será a maior área agrícola do Brasil, que, pra falar a verdade, não mais será do Brasil…
O Deputado denunciou que o atual ministro é diretor licenciado da Sharp, e que familiares do próprio Presidente da República, “na pessoa de um de seus filhos” é um alto funcionário do grupo multinacional.
Por que a Sharp, que fabrica equipamentos eletrônicos, está investindo na área agropecuária? O mesmo deputado esclareceu que “sem dúvida decorre da vantagem logística obtida pela empresa que, solidamente enquistada no poder estatal, parte para, usufruindo das vantagens da legislação de incentivos fiscais, ocupar a terra, com segurança, amparo e privilégios do próprio sistema oficial!”
Traduzindo em miúdos, o governo está dando vantagens paca às multinacionais, enquanto tudo nega aos brasileiros menos afortunados, que cometeram o crime de nascerem pobres, num País subdesenvolvido economicamente, hoje alvo de lucro para o capital estrangeiro.
Pobre Brasil (ou Brazil?) que está sendo retalhado e vendido a preço de banana. Já que ninguém toma nenhuma atitude em defesa da nossa Pátria, só nos resta dizer: Bye Bye, Brasil! Adiós! Au Revoir! Adio, caro! Arrivederci! Sayonará! Auf Der Sien! Good Bye! Aloha! Ciao! Asta luego! Adeus, minha terra amada, meu Brasil brasileiro, meu caboclo inzoneiro! Ary Barroso está morto e já não pode mais cantar-te nos seus versos…
14/03/1980 – Os Últimos dos Yanomamis
São pouco mais de 16 mil silvícolas, que vivem parte no Brasil e parte na Venezuela, dividindo-se em grupos familiares, cada um variando de 40 a 100 indivíduos. Vivem em plena liberdade e ainda conservam seus valores naturais e culturais, seus usos e costumes. Os Yanomamis ainda são numerosos, mas eles estão morrendo aos milhares, depois de contato com os “civilizados”.
Há pouco tempo, grandes epidemias contraídas nesse contato dizimaram as aldeias, até mesmo as mais longínquas, matando milhares de velhos, mulheres, crianças e até mesmo guerreiros adultos e fortes. Em 1975 foi inaugurado um trecho da estrada Perimetral Norte, durante o governo do general Geisel, que teria um total de 245 km, dos quais hoje só são utilizados 45 km, e apenas por veículos da Funai.
Todavia, na época da construção dessa estrada de duvidosa utilidade, iniciada no governo do general Médici, só no primeiro trecho de 65 km, desapareceram 13 aldeias dos Yanomamis. No trecho seguinte, os peões passaram e desmaiaram uma vasta região, mas a estrada nem chegou a ser feita. Assim mesmo, mais oito aldeias desapareceram do mapa.
Dessas mais de vinte aldeias, só sobreviveram 40 indígenas, que hoje vivem à beira dessa estrada, em condições miseráveis, misturados com os colonos e quase todos doentes, com tuberculose, doenças venéreas etc., além de serem transformados em alcoólatras. O que salvou, ainda, o resto dos Yanomamis da destruição total, foi a crise do petróleo, que parou a estrada da morte.
Porém, outra ameaça paira sobre esses indígenas: a descoberta de cassiterita, um mineral importante, numa área de um raio de 80 km, junto à Serra dos Surucucus, onde, segundo a mitologia Yanomami, surgiu a humanidade. Ali vivem cerca de 3.800 índios, só no lado brasileiro.
O paraíso terrestre, onde ainda vivem os Yanomamis, está ameaçado. Eles não conheciam as doenças, nem mesmo a malária, que foi trazida da Europa ou da África, nos porões dos navios negreiros. Outra doença que agora os aflige é a onchocercose, que produz a cegueira e foi trazida por missionários que antes trabalhavam na África.
Existe um projeto de defesa dos Yanomamis: a criação de um parque nacional que, além de dar condições de vida a esses aborígenes, ainda consolidaria a fronteira do Brasil com a Venezuela. Essa ideia nasceu em 1968 e até agora não foi concretizada, pois o governo de Roraima tem projetos de mineração, de estradas e de colonização, que afetariam a área proposta para o parque. A Sociedade Anti-escravista da ONU, em Londres, já solicitou a criação urgente desse parque ao Governo Brasileiro.
Em fins de 79, a Associação Americana de Antropologia também assinou uma moção às nossas autoridades, pedindo a efetivação dessa medida. E segundo se diz, o governador de Roraima, Brigadeiro Ottomar de Souza Pinto, que era um dos maiores oponentes a esse projeto, mudou de ideia.
Nem por isso o vice-presidente da Comissão de Segurança Nacional, deputado Hélio Campos ex-Arena-RO), deixou de ameaçar de encaminhar à Câmara Federal uma modificação da Lei 6.001, cri. 26, alterando o Estado do índio, com um projeto de lei proibindo a criação de parques indígenas na fronteira, numa faixa de 150 km de extensão. Se esse projeto for aprovado pelos membros da ex-Arena (hoje PDS), que são maioria no Congresso, estaremos vendo, muito em breve, o fim dos últimos dos Yanomamis.
15/03/1980 – Gióia, Bicho!
Para evitar tragédias do tipo que culminaram com a morte do estudante Carlos Alberto de Souza, em Mogi, o deputado Gióia Júnior (PDS-SP) apresentou na câmara um projeto de lei que proíbe a prática do trote estudantil em todo o território nacional, ou qualquer tipo de constrangimento físico ou moral impingido aos estudantes que ingressarem nas faculdades, após os exames vestibulares.
Está de parabéns o deputado do PDS, principalmente porque é raro ver-se alguém desse partido apresentar um projeto que beneficia as camadas médias da população, que hoje já estão chegando às faculdades. Todavia, é triste constatar que, neste País, só se fecha a porta depois que o ladrão já passou por ela… Antes da morte do rapaz, ninguém tinha pensado em abolir essa estúpida violência sem sentido, que é o trote estudantil.
Há mais de quarenta anos, um calouro matou um veterano, em Piracicaba, (SP) pelo mesmo motivo: trote. Violentamente espancado parque não queria se submeter a vexames, o calouro correu até a “república” em que residia, apanhou uma arma e disparou contra os veteranos, matando um deles.
Naquela época, talvez pela menor repercussão do fato, nada foi feito para acabar com o trote. Talvez agora essa prática abominável termine, mas, se não for possível acabar com ela, pode-se pensar em modificá-la.
Em vez de submeter os calouros (ou “bichos”, como são chamados) a vexames morais e físicos, os veteranos poderiam fazer com que os novatos ajudassem a moralizar as nossas faculdades, por exemplo, distribuindo folhetos à população e à imprensa, onde as falhas do nosso sistema de ensino fossem postas a nu…
Dessa forma, o povo ficaria sabendo não só das irregularidades acontecidas no interior das nossas universidades (do tipo Puc de Campinas, onde constatou-se a existência de super-alunos privilegiados, entre inúmeras outras falhas, a ponto dos estudantes apelidarem a instituição de AraPucc, como também seriam denunciadas outras falhas do próprio sistema de ensino.
Assim, o povo ficaria sabendo que, nas universidades brasileiras, pobre é raridade e negro é minoria absoluta. O sistema elistista procura impedir que as camadas da classe média para baixo cheguem aos cursos ou candidatos á faculdade de cursar os malfadados pré-vestibulares, os abomináveis “cursinhos”, que são caríssimos. E ainda querem acabar com a faculdade grátis!
O próprio sistema de vestibulares já é, em si, uma abominação. Todo estudante que tira seu diploma secundário (de 2º grau) deveria ter o direito imediato à faculdade, como ocorre nos países desenvolvidos. Diploma universitário não deveria ser privilégio de ninguém!
Outro expediente para afugentar os pobres das universidades é o chamado período integral onde o aluno tem de passar o dia todo assistindo a aulas práticas e teóricas. Assim, quem trabalha não pode cursar faculdade, deixando as poucas vagas existentes para os filhos dos ricos, que dispõem de tempo livre só para estudar. Os livros, então, são só para os milionários.
Seria necessário criar mais faculdades, mais vagas, mais classes, contratar mais professores universitários etc., urgente. Mas, é claro que o governo não tem verbas para isso… Dinheiro grosso, só existe para projetos mirabolantes, do tipo “Usina Atômica”, “Mudança de Capital”, etcetera e tal.
Para Gióia Júnior, nota dez. Para o governo, zero!
19/03/1980 – Parabéns a Você:
O governo do general Figueiredo completou um ano! Um ano de ABERTURA, de LIBERDADE e de DAMOCRACIA… Como é mesmo que se escreve esta palavra? DAMOCRACIA não… Ah, sim: DEMACRACIA! (Tinha me esquecido.)
Comemorando seu primeiro aniversário, o governo mandou apreender o semanário “O PASQUIM”, já famoso alternativo da imprensa carioca, também chamado de “O RATO QUE RUGE”. O motivo da apreensão do número 559 desse jornal, que é o rei da imprensa nanica, foi (ao que parece) a capa da edição, onde se via mulher gorda, com faixa de campeã, fotografada de costas e com as nádegas á mostra (segundo as agências noticiosas).
Deve ter sido só por isso, pois, na contra-capa, havia uma homenagem ao General Figueiredo, onde ele aparecia sobre um bolo de aniversário, rodeado pelos ministros Murilo Macedo, César Cals, Hélio Beltrão e Delfim Neto. Eu não pude ver essa homenagem, já que o jornal foi apreendido. Mas é uma pena, pois deveria estar muito bonita…
O “Pasquim”, provavelmente, será incurso na Lei da Imprensa, o que não é novidade para aquele hebdomadário, pois sua diretoria já foi processada quatro vezes, sendo três pela Lei de Segurança Nacional e uma pela Lei de Imprensa. O último processo, segundo ainda as agências noticiosas, corre na 2ª Auditoria Militar, sob a acusação de ofender o ministério do general em exercício anterior, com uma reportagem sob o titulo “Mar de Lama”. Deve ser engano das agências, pois houve uma ANISTIA, como todos sabemos, tão ampla quanto possível (segundo o próprio governo). Assim, esse processo tem de estar arquivado, não é?
Com essa apreensão de “O PASQUIM”, está provado que a DECRAMACIA é uma realidade, pois o governo não titubeou em apreender um jornal que homenageava o seu primeiro aniversário, com bolo, velinhas e tudo o mais! Não se podem permitir nádegas à mostra na capa de jornais ou revistas, não é mesmo? Quem olhar para qualquer banca de jornal em nosso País poderá constatar como o governo é zeloso nesse ponto: não há nenhuma bun… Digo, nádega à mostra, nenhum seio, nenhuma mulher pelada nas capas das revistas!
Eu, pelo menos, nunca vi indecências desse tipo. A propósito, preciso trocar de óculos, pois o médico me disse que, com meus 25 graus de miopia, posso perder a visão… Mas, isto não tem nada a ver com o que estou escrevendo agora.
O governo está de parabéns! Outras agências noticiosas, provavelmente tendenciosas e controladas pelos Comunistas, disseram ainda que foram apreendidos, anteriormente, durante o atual governo aniversariante, outros jornais como “A Tribuna de Imprensa”, também do Rio de Janeiro, e o “Coojornal”, de Porto Alegre, mas é claro que isso são inverdades!
Não posso crer que os diretores do “Coojornal” estejam respondendo a inquérito policial-militar e nem sujeitos a serem incursos na Lei de Segurança Nacional… Estamos numa época de ABERTURA! De ANISTIA! De LIBERDADE e de DECROMACIA, digo, DEMACROCIA, não… DOMACRA… Ah, deixem pra lá, esqueci mesmo como é que se escreve essa palavra.
21/03/1980 – Pedras no Salim
Um dia antes de seu governo completar um ano, o Sr. Paulo Salim Maluf se viu envolvido num lamentável incidente, na cidade de São Carlos, onde quase dois mil estudantes, protestando contra o ensino pago nos colégios e universidades do estado, que o governador indireto quer instituir, chegaram a atirar pedras contra sua caravana, além de sapatos, garrafas e outros objetos.
Não podemos aprovar esta atitude dos exaltados estudantes, que ainda retardaram a saída do Sr. Maluf daquela cidade, por quase duas horas, até que chegaram reforços da Polícia Militar, gritando “slogans”, agitando faixas e cantando paródias de músicas com letras alusivas ao governador indireto em exercício…
Achamos que os jovens se excederam um pouco, ao cantar uma paródia da música “UM LENCINHO”, onde afirmavam que o Sr. Maluf tem muita vontade de roubar. Além disso, ainda gritaram coisas do tipo: – “O povo paga imposto, Maluf põe no bolso!” – além do já famoso refrão: – “Um, dois, três, Maluf no xadrez!”
Exageros da juventude, pois, como se sabe, o Sr. Paulo Salim Maluf é a honestidade e a retidão em pessoa, pois não conta com nenhuma passagem pela polícia e nunca foi preso ou processado por crime algum…
E bem verdade que ele esteve envolvido num rumoroso processo de falência fraudulenta e corrupção, que atingiu a firma de seu sogro e da qual a sua digníssima esposa era acionista. Mas o Sr. Maluf se saiu muito bem desse processo, afirmando: – “Não sou e nunca fui diretor da Lutfalla!”
Foi mesmo uma injustiça com o governador, tudo o que ocorreu. Ao saber que, em virtude de sua presença em São Carlos, havia se esgotado todo o estoque de ovos e tomates da cidade, o Sr. Maluf declarou: – “Isso prova que vivemos numa época de fartura, pois os alimentos podem até ser utilizados para outras finalidades!” – Uma pérola do pensamento filosófico, que deveria ser incluída nos livros de ensino do estado e divulgada entre os alunos de 1° e 2° graus!
Os estudantes também se excederam um pouco, ao decidir, em assembléia, que o Sr. Maluf teria de passar a pé, pelo meio deles, para sair da cidade. Formaram até o famoso “corredor polonês”, no qual quem entra dificilmente sai do outro lado. Esses meninos são mesmo uns abusados, não?
Mas, a cidade de São Carlos não deve sentir-se diminuída por isso, pois, como o Sr. Maluf declarou, cercado por dezenas de membros de sua comitiva e do PDS que o aplaudiam até antes mesmo dele abrir a boca, na única cena que permitiu que fosse televisionada, após a chegada das tropas de reforço da PM: – “Sei que o povo ordeiro de São Carlos nada tem a ver com o que ocorreu! Estou certo de que os estudantes que fizeram tal manifestação são forasteiros e não pertencem a esta pacífica cidade!
Quem diria, heim! São Carlos tem mais de dois mil estudantes forasteiros! Vai ver que nem brasileiros eles são… Provavelmente são elementos cubanos, infiltrados em nosso País e disfarçados de cearenses, baianos, gaúchos, mineiros e até paulistas!
Esses comunistas não tomam jeito, mesmo!
22/03/1980 – Tão Cedo, Macedo?
Adivinhe quem é: | d) O Coringa |
a) Dr. Silvana | e) Dr. Stigma |
b) Pinguim | f) Gavião |
c) Cabeça de Ovo | g) Murilo Macedo |
O ministro Murilo Macedo, do Trabalho, reconheceu “a ocorrência de greve” no Porto de Santos. Segundo as agências noticiosas, isso é o mesmo que fazer uma declaração de ilegalidade da greve dos portuários. O Decreto-Lei n° 1.632, de 4 de novembro de 1978 proíbe greves nos setores considerados de Segurança Nacional, ou que sejam de atividades essenciais.
Uma dedução óbvia das agências noticiosas… Como diria Sherlock Holmes a seu fiel companheiro: – “Elementar, meu caro Watson!” – esse decreto também è chamado de “Lei anti greve” e pode ser acionado a qualquer momento contra qualquer tipo de movimento paredista dos trabalhadores brasileiros, pois, se assim o governo desejar, poderá ampliar o conceito de “atividades essenciais” a todas as atividades nacionais.
Ora, o próprio nome do ministério brasileiro já diz: “Ministério do Trabalho” e não, como seria de se desejar, “Ministério dos Trabalhadores”, assim como o dia 1° de Maio, em nosso País, se chama “Dia do Trabalho.”, quando deveria ser Dia do Trabalhador!
O sistema elitista introduzido no País, a partir de 1964, com reforço em 1968, não visa amparar, de modo algum, o trabalhador brasileiro. Todo o sistema está voltado para o amparo ao Capital, para a segurança das empresas privadas e para os investimentos das multinacionais.
Assim, o que esperar do Sr. Macedo, que tem a obrigação de cumprir as funções no Ministério do Trabalho, que podem ser resumidas do seguinte modo: botar a turma pra trabalhar.
“Trabalha, trabalha, nego!” – já dizia a letra de antiga música sobre os tempos da escravidão. E isso ai, trabalhadores do Brasil; depois que Getúlio Vargas se suicidou (?) em 1954, ninguém mais iniciou um discurso, nesta terra, dirigindo-se a vocês. O que o atual governo espera é que vocês trabalhem bastante, quietinhos, de boca fechada, aceitando sempre os salários determinados pelos números estipulados previamente pelo Dr. Delfim.
Os grevistas de Santos podem ser punidos com afastamento, suspensão ou demissão de suas atividades. Tropas federais já estão na cidade, impedindo qualquer reação passional da parte dos trabalhadores e o negócio, mesmo, é voltar ao trabalho, se não quiserem ficar na rua da amargura…
Ao pressentir o fim inevitável do AI-5 (de triste memória), o governo do general Geisel criou essa lei n° 1.632 que, enquanto existir, vai acabar mesmo com qualquer tentativa reivindicatória do operariado brasileiro. Já que os tempos são de “abertura” (segundo o governo atual), que tal abolir essa lei e criar outra, mais democrática, que permita aos trabalhadores brasileiros reivindicar reajustes de salários (aumento, nem pensar!) de acordo com os reais índices inflacionários?
Eu sabia que o ministro Macedo iria declarar ilegal a greve de Santos, muito antes de abrir qualquer jornal. Eu só esperava que ele desse um tempo aos trabalhadores portuários para, ao menos, conseguir reajustes que permitissem a sua sobrevivência… Mas, não: o ministro não dormiu de touca e mandou ver. Tão cedo, Macedo?
24/03/1980 – Soltem a Flávia, Canalhas!
Ela é brasileira. Está presa nos cárceres uruguaios desde 1972! O governo brasileiro e cada um de nós é responsável…
Ela é Flávia Schilling, 26 anos de idade, há sete anos e meio confinada em prisões uruguaias. Seu único “crime” foi amar um tupamaro, um guerrilheiro que combatia a terrível ditadura do Uruguai, que mantém 1/1000 cidadãos do seu próprio país na prisão, por motivos políticos.
É como se, no Brasil, tivéssemos 120.000 prisioneiros políticos, considerada a mesma proporção! E o Brasil, com sua “abertura” pela metade, com sua “anistia” mal feita, só tem um prisioneiro: José Salles, cearense, cuja libertação deverá ocorrer dentro de um mês e meio.
Flávia Schilling não cometeu nenhum ato de violência, não assaltou nenhum banco, não matou nenhum civil ou militar uruguaio. Ela foi condenada a dez anos de confinamento porque, em novembro de 1972, caminhando ao lado de um tupamaro a quem amava, recebeu voz de prisão de parte da polícia política do Uruguai. Numa reação natural, atirou sua bolsa contra o rosto do policial e correu, sendo atingida, pelas costas, por um tiro no pescoço. Gravemente ferida, ficou muito tempo entre a vida e a morte num hospital uruguaio. Sobrevivendo, foi “interrogada” pela polícia do país, eufemismo para designar as mais torpes torturas…
Depois, foi condenada a trabalhos forçados, sendo que ainda teria de pagar uma taxa carcerária, pelo tempo que foi sustentada pelo regime do Uruguai. Essa taxa foi arrecadada, há mais de dois anos, no Brasil e, assim mesmo, Flávia não foi libertada.
Agora, num ato até certo ponto surpreendente, o General Figueiredo, Presidente de plantão da República Federativa do Brasil, pediu a seu colega, Aparício Mendez, ditador do Uruguai, a libertação de Flávia Schilling!
No momento em que escrevo esta coluna, nada de concreto foi feito ainda para a libertação de nossa conterrânea, mas acredito que o Uruguai não terá como negar a atenção ao pedido de Figueiredo. Afinal, embora tenha nos derrotado no futebol, em 1950, o pequeno país ao sul do Rio Grande depende do Brasil até para respirar.
Assim sendo, acredito que Flávia será libertada, brevemente… Todavia, se ainda assim, a republiqueta oriental tentar retardar a libertação da nossa patrícia por mais algum tempo, será mister lançarmos mais uma campanha nacional pela libertação de Flávia Schilling.
Na falta de um “slogan” melhor, sugiro este, que me ocorre no momento: – SOLTEM A FLÁVIA, CANALHAS!
25/03/1980 – Maluf e os Malufiosos
Aqui vemos o Sr. Maluf, tal como sairá no próximo carnaval: fantasiado de barril de petróleo.
O Sr. Salim Maluf, que, por acaso, é também governador indireto do Estado, declarou que não vai dar aumentos semestrais aos servidores estaduais. Embora o ministro do Trabalho, Murilo Macedo, tenha dito que isso ocorrerá na área federal, Salim Maluf diz que isso não ocorrerá na área estadual, visto que São Paulo é terreno dele e ninguém tem nada que ver com isso.
Os Malufiosos (partidários do Maluf) garantem que o Sr. Salim Maluf está certo. O Sr. Maluf é um homem honrado! Ele está cuidando do Estado, pois, diminuindo as despesas, ele vai, automaticamente, aumentar a receita estadual…
Os estudantes andaram dizendo, em São Carlos (SP), que “o povo paga imposto e Maluf põe no bolso!” – Grande inverdade, segundo os Malufiosos. Eles devem estar certos, pois o Sr. Maluf é um homem honrado!
O Sr. Paulo Salim Maluf é um zeloso servidor público, que só deseja ver os cofres estaduais abarrotados de dinheiro. Tanto que ele se sentiu “muito feliz”, segundo suas próprias palavras, com a proposta apresentada pelo professores em âmbito nacional, que reivindicam, no mínimo, o pagamento de três vezes o maior salário mínimo regional…
O governador indireto disse estar de acordo com o ponto de vista dos professores, “porque vamos ter que diminuir o salário de todos, já que eles ganham muito mais do que isso!” – de acordo com suas próprias palavras. E devemos acreditar nas palavras do Sr. Salim Maluf, de acordo com os Malufiosos, pois o Sr. Maluf é um homem honrado!
Ele só visa aumentar os recursos dos cofres estaduais, para fazer a tão propalada mudança da Capital, obra prioritária de seu governo. Como afirmam os Malufiosos, essa obra transcende a qualquer outra iniciativa e até mesmo ao problema do pagamento do funcionalismo, pois deve ser executada com a máxima urgência. E devemos acreditar nos Malufiosos, pois o Sr. Maluf é um homem honrado!
Alguns elementos (provavelmente os que sobraram dos comunistas, já que o DOI-CODI não conseguiu acabar com todos, apesar dos esforços), andam dizendo que o Sr. Salim Maluf quer construir a Capital (NOVACAP-SP) em terras de sua propriedade, previamente adquiridas em determinado ponto do interior do Estado, na certeza da aprovação do projeto de mudança…
“Intrigas da oposição!” – como diria, se estivesse vivo, o Sr. A. de Barros, mestre inconteste do Sr. Salim Maluf; não podemos acreditar numa vírgula dessas afirmações, pois, segundo os Malufiosos, o Sr. Maluf é um homem honrado!
Já que o interesse prioritário do Estado é diminuir as despesas e aumentar a receita; já que o negócio é economizar para construir a nova Capital (que deverá, segundo os Malufiosos, se chamar “Malufópolis”, em homenagem ao grande homem público que vai construí-la), no intuito de colaborar graciosamente com a atual administração do Sr. Maluf (que, como todos sabem, é um homem honrado), apresentamos as seguintes sugestões:
- a) Reduzir não só o salário dos professores estaduais, como também os salários de S. Excel. o DD. Governador do Estado.
- b) Reduzir os salários, bem como verbas de representação, de todos os Malufiosos, ou seja, de todos os membros estaduais do PDS.
- c) Cancelar todas as despesas extras da administração estadual, inclusive vendendo todos os carros oficiais e suas respectivas chapas brancas; colocar à venda a residência de verão de S. Excel. o DD. Governador e alugar o Palácio dos Bandeirantes para uma faculdade, já que foi para isso que ele foi construído.
- d) Cortar todas as verbas para viagens e também para a prospecção de petróleo no Estado de São Paulo. Acabar com a chamada “Caravana da Alegria” e com todas as mordomias decorrentes da mesma.
Certos de que S. Excel., o DD. Governador do Estado concordará conosco e ficará “muito feliz” com estas medidas, agradecemos de antemão as providências que, com certeza, serão tomadas, pois, como todos sabem, o Sr. Maluf é um homem honrado!
27/03/1980 – Legalidade para o PCB
José Salles, dirigente comunista, afirmou que o PCB – Partido Comunista Brasileiro – reúne condições para registrar-se como partido político, não existindo, nem na Constituição e nem na Lei Orgânica dos partidos, restrições à sua formação.
“A Constituição diz que não é possível o registro de partido político subordinado a Organização ou potências estrangeiras. Não é o nosso caso. Somos autônomos, independentes, brasileiros, e não estamos enquadrados aí” – Complementou José Salles.
Ele está certo. Numa verdadeira democracia, como a que desejamos profundamente implantar em nosso País, há liberdade para o registro de todos os partidos e facções, desde os comunistas e até os fascistas.
Não sou e nunca fui comunista, mas acredito que quem é deve se registrar como tal, para evitar confusões e, principalmente, para acabar com a velha mania dos governantes brasileiros, de acusar de “comunistas” todos aqueles que não são da mesma opinião deles.
Devemos legalizar o PCB e também o PC do B, facção divergente da orientação do Sr. Luis Carlos Prestes, comandante do PCB. Bem, perguntarão alguns leitores, qual é a diferença entre o PCB e o PC do B? A resposta mais inteligente que já ouvi, para essa pergunta, foi dada por uma jovem estudante, durante um julgamento num tribunal militar… quando o juiz lhe perguntou qual era a diferença entre o PCB e o PC do B (talvez querendo, assim, incriminá-la, pois quem sabe a diferença entende de comunismo), a jovem respondeu na bucha: “é o do, meritíssimo!”
Uma vez legalizados os partidos comunistas brasileiros (não sei se são apenas duas facções ou mais), pessoas como o Sr. Maluf, por exemplo, ficarão muito sem jeito e sem saber de que acusar os seus adversários políticos, ou os estudantes em geral que, como se sabe, não amam muito essa digníssima “flor que nasceu das estrumeiras da revolução”, de acordo com um genial deputado.
Essa flor de pessoa deseja, no momento, indiciar do DEOPS todos os estudantes que o enfrentaram na cidade de São Carlos (SP), por “agressão moral”. E é evidente que, além disso, virá a eterna acusação de “comunistas” para todos os que forem devidamente identificados.
Estou certo de que tais estudantes não são comunistas, bem como a imensa maioria do povo brasileiro também não o é. São apenas gente como a gente, revoltada como nós, com os demandas dos governantes que, eleitos indiretamente, sem o voto popular, querem falar em nome do povo.
E disso que precisamos: democracia ampla e total, legalidade para todos os partidos e direito de voto amplo e secreto para o povo brasileiro!
28/03/1980 – O que é isso, Golbery?
Golbery está completando dez longos anos nas alturas do governo federal e dezesseis anos de influência nas decisões governamentais, desde 1964. Sobre ele, disse uma vez Carlos Lacerda, o ex-governador da Guanabara: – “Tudo que o Golbery faz dá errado!”
Errado estava o falecido Sr. Carlos Lacerda, pois queiram ou não, Golbery fez algo que deu certo: manteve-se no poder através dos mais conturbados anos de política brasileira, desde Castello Branco até agora, passando incólume pelos tempos difíceis de Costa e Silva, Médici e Geisel, chegando ao posto de chefe do Gabinete Civil do general Figueiredo.
Este poderoso general que, segundo a revista Veja, “sempre foi, é e será temido e detestado por ser misterioso”, é também chamado de “eminência parda” dos governos pós-64, pela sua atuação sempre junto dos presidentes militares.
Fundador do SNI (Serviço Nacional de Informações), prendeu, cassou e exilou seus inimigos políticos, no governo do marechal Castello Branco, mas é agora um dos principais responsáveis pela chamada “abertura” do governo do general Figueiredo.
Contradição? Talvez não… Habilidade política é o termo mais adequado. Maquiavélico para uns, magnânimo para outros, Golbery continua sendo uma figura misteriosa no governo. Esse mistério em torno dele só começou a ser disperso agora, com a publicação de Veja a seu respeito…
Segundo a reportagem daquela revista da Abril, ele afirma que nunca foi misterioso e sim discreto. Os livros são a sua mania e sua biblioteca particular conta com o impressionante número de 10.000 volumes, espalhados por todos os cantos de sua residência oficial do Ipê e do seu sitio.
– “Não gosto que vejam meus livros. – Disse ele à Veja – Quem vê a livralhada de uma pessoa, pode ler sua cabeça!” – A reportagem foi lá conferir e anotou alguns títulos dos livros, tais como: “A Doutrina Militar Soviética”, “Obras Completas de Stálin”e “O Que É Isso, Companheiro?”, de Fernando Gabeira.
Não, isso não significa que Golbery seja comunista ou subversivo; significa, sim, que ele estuda muito bem a estratégia do inimigo, para melhor vencê-la!
E ele próprio, na mesma reportagem, procura definir a sua estratégia particular: – “Vamos tentar uma abertura gradual. Ninguém ainda o conseguiu. Se der certo, bem. Senão, virá um período de violência do Estado e, depois, uma reação. Aí, vamos todos para o poste, menos o papai aqui, que estará velho!”
Ah, acho que eu entendi o porquê da “abertura lenta e gradual!”… Golbery espera que, se houver uma revolução social no Brasil, ele não seja atingido, pois não estará mais entre o número dos vivos.
O que é isso, Golbery?
29/03/1980 – Lilian, Universindo & Mundialito
Aproxima-se o “Mundialito” no Uruguai, torneio comemorativo dos 50 anos da primeira Copa do Mundo, que foi realizada naquele país. O Brasil, na qualidade de tricampeão mundial e participante de todas as copas, foi convidado a disputar esse torneio.
Como agora é moda ligar esporte com política (foi o Jimmy Cárter quem lançou), acredito que o Brasil não deveria disputar o “Mundialito” enquanto não se aclarasse o caso do “Sequestro de Porto Alegre”, onde Lilian Celiberti e Universindo Diaz foram presos em território brasileiro e transportados para o Uruguai, por agentes secretos daquele país, com o auxílio de policiais do Dops gaúcho.
Não existe a menor dúvida de que o sequestro existiu, em virtude dos testemunhos de Cunha e Scalco, repórteres da revista “Veja”, que, alertados por um telefonema anônimo, foram ao departamento onde Lilian e Universindo estavam detidos. Ali, foram dominados pelos agentes policiais, que mais tarde os repórteres identificariam como membros do Dops de Porto Alegre. O caso aconteceu em novembro de 1978 e, até agora, não teve solução.
As autoridades brasileiras parecem relatar em admitir o sequestro, preferindo processar Cunha e Scalco por invasão de domicilio, além de Lilian e Universindo por falsa identidade! Apesar dos esforços de Osmar Ferri, advogado que defende o casal sequestrado, nenhuma providência foi tomada no sentido de se aclarar a questão e, se necessário, pedir a devolução do casal, visto que ele foi retirado irregularmente do Brasil
Ferri não crê que haja alguma solução a curto prazo para a questão, pois lembra que “não há estado de direito no Uruguai” e porque “as autoridades brasileiras não se convencem de que o País teve a sua soberania ultrajada”.
“O sequestro comprometeu a dignidade da Nação, além de significar uma violenta infração de ordem pública!” – Argumenta Ferri, considerando que, na sua opinião, foram violados diversos artigos da Declaração Universal dos Direitos do Homem, e que esses atos “são graves, que enxovalham a nobreza e a dignidade do povo brasileiro”.
Ele ainda pede o seguinte: “1 – Que as autoridades brasileiras se dêem conta de que dois militares uruguaios penetraram em território brasileiro, para realizar o sequestro; 2 – Que admitam que duas dezenas de policiais do Dops gaúcho participaram da operação; e 3 – Que percebam que tanto a Secretaria da Segurança Pública como a polícia federal tomaram todas as medidas de precaução para encobrir o crime e concluir pela sua inexistência, por falta de provas”.
Não sei não… Eu acho que, apesar de todos os esforços desse competente causídico, as autoridades não tomarão nenhuma providência e tudo ficará como dantes, no quartel de Abrantes. E o Brasil irá ao “Mundialito” no Uruguai, para fazer mais um papelão, como fez em 78 na Argentina. Depois, é só contratar o Cláudio Coutinho de novo, para declarar: “Somos os campeões morais!” Quiá, quiá, quiá!
31/03/1980 – Aborto, sim ou não?
– “Você é contra ou a favor do aborto?” – esta pergunta está cada vez mais sendo repetida nos órgãos de divulgação brasileiros. A Rede Globo (segundo as más línguas, máquina de fazer bobo) explorou o assunto ao máximo em seu programa “Fantástico”, nas noites de domingo.
Autoridades públicas e policiais, médicas e eclesiásticas têm sido seguidamente consultadas a respeito, dando as mais diversas opiniões. Uns são contra, por motivos religiosos, outros a favor, por motivos médicos, ou políticos. Alguns alegam que a legalização do aborto é necessária, visto que, com ou sem lei, ele existe. Milhões de abortos são realizados todos os anos, clandestinamente, com riscos maiores para as mulheres grávidas, do que se os abortos fossem feitos por médicos devidamente autorizados, em locais próprios e com todos os recursos da medicina.
Outros são contra, afirmando que as classes proletárias não têm corno pagar os serviços médicos e, se fossem recorrer ao INAMPS para abortar, quando chegasse a hora da operação a criança já teria nascido e comemorado o seu 1° aniversário, o que não deixa de ser verdade…
Mas o mais curioso, é que a imensa maioria dos entrevistados é composta de homens: médicos, padres, juristas etc. E as mulheres, como é que ficam? Afinal, se alguém tiver de abortar, serão elas e não os homens!
A maioria das mulheres (poucas) que foram entrevistadas é a favor do aborto, talvez porque já sofreu o problema na carne. As feministas, é evidente, desejam que a mulher tenha todo o direito de decidir pelo sim ou pelo não, já que o corpo é delas e não dos homens.
A grande verdade, porém, é que essa história de legalização ou não do aborto parece ser um meio (mais um!) inventado por algum gênio do governo, para distrair a atenção do povo de seus verdadeiros problemas, que são: o desemprego, o sub-emprego, a falta de moradia, falta de assistência médica eficiente, falta de ensino gratuito para todos e em todos os níveis, falta de plena liberdade de voto para escolher seus governantes, falta de comida e, principalmente, falta de vergonha na cara de certos governantes indiretos, que andam por aí!
O genial semanário “O Pasquim” (o rato que ruge), em seu n° 560, o seguinte à arbitrária apreensão que sofreu, estampa uma história em quadrinhos sobre o aborto, em sua última página, que resume toda a questão: enquanto os demais personagens discutem o problema, um elemento de óculos e chapéu, refestelado em uma cadeira de gabinete diz, ao telefone: – “Alô? E do serviço de criação de polêmicas populares? Quero encomendar mais uma dúzia de besteiras pra desviar a atenção de uma crise econômica que estamos passando!”
E, como não podia deixar de ser, o não menos genial Henfil, em recente edição da revista “Isto É”, dá o arremate final à questão, mostrando o seu personagem “Ubaldo” sendo entrevistado… Perguntado se era contra ou a favor do “topless”, da “abertura” e do aborto, ele responde, categórico: – “Sou contra a ditadura!” – E, voltando-se para o leitor, declara: – “Você não me engana, Golbery!”
**************
Já leste o meu livro? Quem ainda não leu está convidado a conhecer minha biografia de papai, à sua espera nas melhores livrarias: Marsupial – Comix – Cultura
A História dos Quadrinhos no Brasil, e-book de autoria de papai, pode ser encontrado na Amazon
Visitem também o Sebo Saidenberg, na Amazon. Estou me desfazendo de alguns livros bastante interessantes.