A Aprendiz De Feiticeira

História das Bruxas, de 1977.

A Maga resolve colocar um anúncio no jornal semanal “O Terror Domingueiro”, de Bruxópolis, pedindo por uma empregada. A pergunta que se faz, várias vezes nesta história, é: para quê alguém precisaria de uma empregada, num lugar onde todo o trabalho doméstico se faz sozinho, por meio de magia?

Esse, aliás, é o feitiço que o Aprendiz de Feiticeiro tentou fazer no clássico filme “Fantasia”: o de colocar uma vassoura para fazer por ele o trabalho duro, com resultados desastrosos. Mas para bruxas experientes como a Maga e a Min isso é coisa corriqueira.

Mais uma vez, vemos que a Min consegue se transformar com facilidade em qualquer coisa, exceto pelo cabelo, que costuma ficar sempre da mesma cor.

Bruxas aprendiz

Para escrever esta história papai se baseou em antigas tradições mágicas do mundo real que dão conta do uso de “inocentes úteis”, em certos rituais de magia cabalística e hermética, especialmente o que diz respeito a tentativas de divinação (não confundir com adivinhação – a divinação consiste em usar alguma ferramenta mágica, como Tarô ou bola de cristal, para tentar receber mensagens de uma divindade; já a adivinhação é, na melhor das hipóteses, um truque de mágica de palco ou, na pior, mero “achismo”).

O “inocente útil” deveria ser um menino pequeno, o mais jovem possível, mas capaz de se comunicar com clareza, a quem era mostrado um espelho negro, ou bola de cristal, ou ainda uma vasilha escura cheia de água ou tinta preta. O mago, então, pedia à criança, a quem não se deveria explicar nada de magia, nem sobre o que era tudo aquilo, que descrevesse o que visse, se visse algo.

A lógica, aqui, é que uma criança pequena, pura e totalmente inocente de tudo não inventaria coisas, nem tentaria forjar informações em benefício próprio, ou de outras pessoas. Dizem que o astrólogo oficial da rainha Elizabeth I, John Dee, usava este método para tentar se comunicar com anjos.

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O Natal Dos Metralhas

História dos Irmãos Metralha, de 1977.

De duas, uma: ou papai se esqueceu de anotar esta história em sua lista de trabalho, ou fui eu quem “pulou” o nome dela na hora de transcrever. Ela ainda não leva o crédito no Inducks, mas eu já avisei a quem de direito. Mas tenho a mais absoluta certeza que é de meu pai, porque ele me mostrou a revista assim que foi publicada, e eu me lembro bem.

Ele gostava desta história porque é, certamente, uma das mais criativas histórias de Natal que ele escreveu. E olha que a variedade é grande: algumas são quase “canônicas”, bem tradicionais mesmo, como “Um Natal Bem Diferente”, já comentada aqui. Outras são bem singelas, como “Zé Noel”, também já comentada aqui.

Uma coisa que pode demandar muita “logística”, especialmente em famílias grandes na época das festas, é a tradicional reunião de todos. Parentes chegam de longe, alguns querem ir e não conseguem, outros não querem ver os parentes nem pintados…

Quanto aos Metralhas, às vezes é melhor estar dentro da cadeia na véspera de Natal, do que em liberdade. Na cadeia, pelo menos, é servida uma ceia, enquanto em liberdade eles estão sempre sem dinheiro e sem ter o que comer. E com o resto da família na prisão, a liberdade parece especialmente solitária.

A solução que eles encontram? Tentar ser presos! O problema é que eles não podem cometer um crime pé de chinelo demais, ou não conseguirão chegar à prisão estadual, onde estão os outros. No máximo, passariam a noite na carceragem de uma delegacia de bairro. Mas um crime grave demais os levaria a uma prisão de segurança máxima, o que também não os faria atingir seu objetivo.

Metralhas Natal

Acontece de tudo, é claro, para a diversão do leitor. E a lealdade e dedicação da família Metralha em seus esforços para se manter unida, especialmente nesses momentos festivos, chega a ser emocionante. Eles conseguirão passar a Noite Mágica juntos, finalmente, mas não exatamente do jeito que imaginaram.

Tradicional ou heterodoxo, em família ou solitário, barulhento ou quieto, eu desejo que o Natal seja maravilhoso, e que o Ano Novo só traga coisas boas a todos os que acompanham este blog. Obrigada pela companhia, por mais um ano!

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Pra Que Será? Pra Que Será?

História do Professor Pardal, de 1977.

Dizem que o estresse faz coisas estranhas com a gente. No caso do inventor mor de Patópolis, ele andou trabalhando tanto que acabou ficando sonâmbulo. Mas ele é um sonâmbulo diferente: além de andar pela casa dormindo, ele também inventa dormindo!

Pardal sonambulo

A trama se baseia na crença de que seria “perigoso” acordar uma pessoa que é vítima de sonambulismo. Na crença popular, se diz que acordar um sonâmbulo poderia causar nele um susto tão grande, que ele teria um ataque do coração e morreria. Mas a verdade é que acordar uma pessoa neste estado pode ser perigoso para a outra pessoa, pois o sonâmbulo pode ficar violento e desorientado ao acordar bruscamente fora de sua cama.

Pardal sonambulo1

Seja como for, o Pardal inventou uma máquina durante a noite, mas, ao acordar, não faz ideia de qual seria sua finalidade. Ele a testa de várias maneiras, com resultados sempre desastrosos para ele, e hilários para o leitor. Vai ser somente depois que ele desistir de tentar descobrir para o que ela serve, que a própria máquina revelará qual é sua função da maneira mais inesperada possível, para surpresa e uma gargalhada final do leitor.

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A Barbie é Nossa!

Hoje vamos alterar um pouco a ordem natural das coisas, por aqui.

A revista em questão é a Tio Patinhas número 203, de maio de 1982, mas a história de papai nesta revista não está listada no Inducks, porque faz parte da série dos projetos especiais que mais tinham a ver com publicidade do que com quadrinhos. Desenhada pelo Herrero, a historinha de 4 páginas marca o lançamento da boneca “Barbie” no Brasil.

Barbie

A personagem criada por papai para promover a boneca é uma glamourosa atriz de cinema, que vem ao país para fazer mais um filme e declarar que está “apaixonada”. Todo o glamour e a elegância da boneca-atriz, com seus muitos vestidos e acessórios que incluem um carro, uma banheira e até um salão de beleza próprios me lembra bastante o filme “Bonequinha de Luxo”, de 1961, com Audrey Hepburn.

Papai também faz uma menção – sempre em “código”, como era costume – ao ator Lauro Corona (sob o codinome Lauro Coroa), que era um famoso galã de novelas da época, como um possível “candidato” ao amor da Barbie. Mas, no final, o alvo de seu amor é bem outro: ela está apaixonada pelo Brasil, e anuncia que veio para ficar.

Outra curiosidade do exemplar que eu tenho desta revista aqui na coleção é a anotação feita por papai no topo da primeira página da história de lançamento do Biquinho, com roteiro de Gérson L. B. Teixeira e desenho de Irineu Soares Rodrigues. O personagem era um de seus preferidos, e ao que tudo indica, ele também gostou muito da história dos colegas.

Biquinho nascimento

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Sa, Se, Si, Só… Supeta!

História da Fofura, de Ely Barbosa, publicada em 1987 pela Editora Abril.

Na lista de trabalho de papai o nome desta história tem um (T) ao lado, o que quer dizer que minha mãe deu a ideia, ou de alguma outra maneira participou do desenvolvimento da trama.

O personagem “Nenê”, como todo bom bebê que acabou de aprender a falar, fala pelos cotovelos, mas tudo errado. “Come” os R, ou os troca por L, Escovão vira “Estovão”, e por aí vai. A chupeta, sempre na boca, pode ter algo a ver com isso, mas a verdade é que, do ponto de vista do desenvolvimento do cérebro humano, crianças pequenas podem mesmo demorar um pouco para conseguir pronunciar corretamente algumas palavras.

E não há nada que se possa fazer a não ser continuar conversando com a criança normalmente até que ela descubra sozinha como falar todas as palavras. Isso acaba acontecendo naturalmente depois de algum tempo, mas alguns pais de primeira viagem acabam achando que conseguirão ensinar seus filhos a falar corretamente antes da hora, e acabam se frustrando com isso.

Fofura supeta

A coelhinha Fofura, que é também a professorinha da floresta, fica impaciente com a pronúncia do amiguinho e acaba cometendo o erro de querer ensinar o Nenê a falar por meio dos famosos “trava línguas“, o que acaba levando a uma série de situações hilárias.

Fofura supeta1

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A Infância Do Zé Carioca

História do Zé Carioca, de 1982.

Esta é uma tentativa de explicar como é que o Zé nasceu e depois iniciou a amizade de uma vida inteira com o Pedrão e o Nestor, coisa que, até então, nunca havia sido feita.

A noção de que o Zé teria nascido em pleno Carnaval durante o desfile da Escola de Samba Berço de Ouro lembra um pouco uma antiga canção de Roberto Carlos, chamada “Maria, Carnaval e Cinzas” que descreve uma situação parecida, mas um pouco polêmica pela associação meio “torta” com o Catolicismo.

Se bem que papai não deixa escapar aqui uma referência religiosa, já que as iniciais do nome da “Escola Berço de Ouro” formam no estandarte a expressão “EBÓ“, que nas religiões afro-brasileiras significa uma oferenda aos deuses.

ZC infancia

Ele voltaria ao tema do “nascido em berço de ouro” em 1993, quando escreveu mais uma história sobre as origens do personagem, que permanece inédita. Nela papai retrata a si mesmo contracenando com o Zé, enquanto rascunha a biografia em quadrinhos do papagaio malandro.

Zé e Ivan

Nesta história vemos também que o Nestor e o Pedrão, quando foram “adotados” pelo Zé, eram um pouco mais velhos do que ele. Se ele tinha então três anos de idade, de acordo com seu próprio relato, o Nestor aparenta uns 10, e o Pedrão uns 12, mais ou menos.

ZC infancia1

Depois de feitas as apresentações, a história passa então a descrever as primeiras desventuras dos três amigos, a alergia bastante precoce do Zé pelo trabalho formal, e seus planos sempre mirabolantes e fadados ao fracasso de levantar uma graninha mais ou menos fácil, como apresentações de circo e outros bicos e pequenos empreendimentos.

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A Explosão Do Pavio Curto

História dos Irmãos Metralha, de 1979.

O Metralha Pavio Curto é mais um daqueles primos obscuros que papai criava, ou importava de histórias estrangeiras. Como não encontrei mais nenhuma referência a ele nas lista de personagens do Inducks, quero crer que ele é criação de papai.

Ele é similar ao “Primo Meio Quilo”, no sentido de também ser um “baixinho invocado”. Tenho a impressão que esta associação entre homens de pouca estatura e uma tendência à ira, que se traduz no Transtorno Explosivo Intermitente, vem do folclore dos pátios de colégio, onde meninos de baixa estatura eram frequentemente zoados como parte de processos de bullying. Geralmente espera-se que os homens sejam altos e fortes ,assim como se espera que mulheres sejam impecavelmente belas e delicadas. Um homem baixinho foge ao ideal, o que o torna, na cruel sociedade infantil, alvo de represálias.

E este é bem o temperamento do “Pavio Curto”: ele tem a inteligência emocional de um menino de 10 anos de idade, e a capacidade de raciocínio (limitada, diga-se de passagem) de uma criança ainda mais nova. É o menino que só fica quieto, em sala de aula, depois que a professora cola uma estrelinha dourada em seu caderno, ou que faz birra no supermercado até ganhar um doce da mãe. Não tem tolerância alguma à frustração, e reage violentamente à menor provocação. Infelizmente, pessoas com esse tipo de limitação também podem ser facilmente manipuladas, e é isso que os Irmãos fazem, em um plano de assalto:

Metralhas pavio curto

A denominação “Pavio Curto” vem das bombas de antigamente, que eram constituídas de algum objeto dentro do qual se colocava pólvora ou dinamite. Para que ele explodisse, era preciso atear fogo no explosivo, mas pobre de quem tentasse encostar um fósforo na coisa. Não haveria tempo algum para sair correndo e escapar  aos terríveis efeitos destrutivos da explosão.

Assim foi criado o pavio, como um longo cordão embebido em material inflamável, que permitisse ao acionador da bomba ter tempo para se distanciar. O problema é que, em situação de guerra, por exemplo, o comprimento desse pavio era de importância crucial: se fosse longo demais, os inimigos também teriam tempo de fugir, ou pior, desativar a bomba e confiscá-la para uso próprio. Já se fosse curto demais, a bomba explodiria muito rapidamente e o próprio bombardeador poderia se ferir no processo. O maior problema, portanto, era calcular um comprimento de pavio que fosse adequado à situação.

Não se sabe exatamente quando, mas depois de algum tempo essa técnica de guerra acabou sendo associada a certos tipos de temperamentos, especialmente os particularmente irascíveis, por similaridade.

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O Novo Duelo De Magia

História da Madame Min, de 1981.

Do primeiro duelo de magia entre Madame Min e o Mago Merlin todo mundo se lembra. Foi no filme de animação “A Espada Era a Lei”, passado nos tempos do Rei Arthur. É uma cena tão clássica e tão consagrada do filme, e com um resultado tão bem definido, que chega a ser uma história em si, dentro da história principal. Ela é tão completa em si mesma, que fica até difícil pensar em uma continuação. Mas não impossível, é claro.

Hoje vemos a Madame Min fazendo uma poção para conseguir agarrar a sua obsessão particular, o maléfico Mancha Negra. Está tudo quase pronto, mas a receita, que vem de um livro de Velha Magia Negra (ênfase no “velha”), pede por uma pena de “coruja falante”. Para conseguir tal coisa, ela precisará voltar no tempo até a época do Rei Arthur e duelar novamente com o Mago Merlin para conseguir alcançar Arquimedes, sua fiel coruja familiar.

E é aí que o caldo engrossa: por um momento, parece até que a bruxa conseguiu o que queria. A sequência do novo duelo é tão cheia de ação e tão eletrizante quanto o primeiro, mas um pequeno detalhe que só o mais atento leitor vai perceber muda todo o rumo da história.

O fato é que os dois duelantes já se transformaram em tanta coisa, que fica até difícil saber quem virou o quê. Além disso, da mesma maneira que a Madame Min raramente consegue esconder sua cabeleira lilás (e muito menos seus grandes olhos verdes) quando se transforma, também o Mago Merlin raramente tira seu chapéu pontudo, não importa a forma que assuma. Mas a Min só vai entender o que deu errado quando for tarde demais. Azar o dela.

Min Duelo

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A Eleição De Miss Bruxa

História das bruxas, de 1974.

A Madame Min não se dá com espelhos mágicos, decididamente, especialmente aqueles do tipo “espelho, espelho meu, quem é mais bela”, etc., etc. O espelho ou cai na gargalhada e é quebrado de raiva, ou já vai se quebrando sozinho logo de uma vez, de susto.

Já a Maga Patalójica, isso todo mundo também sabe, não prima pela simpatia, e muito menos pela generosidade. Assim, quando ela aparece toda simpática no castelo da Min, se dizendo jurada de um concurso e convidando a colega para participar, com regulamento em mãos e tudo, é de se desconfiar que ela não esteja planejando nada de bom.

Miss bruxa

Nesta trama papai brinca com as percepções e com as ideias preconcebidas do leitor: quando se fala em “miss” (senhorita, em Inglês), todo mundo logo pensa em “concurso de beleza”. A própria Min pensa assim, e é com isso que a Maga está contando. Mas se o leitor for realmente atento, verá que em nenhum lugar se diz explicitamente que este é um concurso de beleza. Uma “miss” é mesmo só uma mulher solteira, nada mais. O resto é fruto de nossos anseios, desejos e ilusões.

Já os “familiares” da Min, o gato Mefistófeles e o corvo que, assim como os espelhos mágicos, não conseguem segurar o riso sempre que a bruxa tenta se achar bonita, passam a história toda sendo transformados, a cada vez que ela se enfurece.

Miss bruxa1

Realmente… quem tem amigos assim, não precisa de inimigos. Mas não fique triste não, Minzinha. Com 18, 800 ou 1000 anos de idade, ninguém precisa realmente de espelhos e concursos, ou de qualquer aprovação externa, para se sentir bem consigo mesma e com a própria aparência.

E essa é uma coisa que acontece muito na vida real, não é mesmo? Até mesmo as mulheres mais poderosas do mundo acabam caindo na armadilha dos “padrões de beleza”, e principalmente os do tipo mais inatingível. É claro que ninguém precisa andar por aí com cara de bruxa, mas também não devemos exigir de nós mesmas uma beleza que não temos.

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