História do Professor Pardal, publicada pela primeira vez em 1973.
Este é um exemplo de uma história que parecia boa o suficiente para ser publicada há 42 anos, mas que hoje em dia já não é uma ideia tão interessante assim. Graças a Deus, atualmente esse tipo de piada com o tema “mulheres” já não soa tão engraçado. Mas naquele tempo era difícil não cair nos velhos clichês e preconceitos que rondavam a figura feminina.
Em todo caso papai nunca foi um machista ferrenho, sempre teve plena consciência de que mulheres também são gente, e com o passar do tempo e com o avanço cultural que testemunhou muitas conquistas sociais, econômicas e políticas das mulheres, tornou-se cada vez mais “feminístico”, cada vez mais livre de preconceitos.
Além disso, pode muito bem ser que (já que ele aceitava ideias que lhe eram oferecidas por colegas e amigos com bastante facilidade) esta história tenha sido inspirada em algo que foi sugerido por alguém bem mais machista do que ele. Com o tempo, esse tipo de brincadeira sexista foi ficando cada vez menos comum em suas histórias.
Precisando de ajuda com a arrumação do laboratório, o inventor maluco resolve inventar uma empregada robótica. Creio que o Pardal faz isso tanto para economizar com o salário da moça, já que ele não deve ter lá muito dinheiro sobrando, quanto pelo orgulho próprio de (como profissional e solteirão) saber solucionar seus problemas sozinho e criar uma máquina “tão boa quanto” uma empregada humana.
A princípio a robô faz o trabalho de limpeza e arrumação direitinho, mas depois de algum tempo começa a apresentar alguns problemas ligados à sua natureza de máquina (como cozinhar óleo cru para o jantar) e à sua “programação feminina” (como se, para se fazer uma limpeza, fosse obrigatório ser mulher).
Seus principais “defeitos femininos” são gostar das novelas que passam na TV, ser distraída a ponto de varrer o Lampadinha junto com a poeira e jogar no lixo repetidamente (e esta “running gag” é sem dúvida a melhor piada da história) e se apaixonar à primeira vista pelo cortador de grama. O nome da novela que está passando na TV na casa do Pardal é uma alusão à famosa “Selva de Pedra”, que estava sendo exibida pela Rede Globo em 1972, época na qual esta história foi escrita.
Outra ideia subjacente à história é a “tecnofobia” que existia logo no início da era tecnológica, com o medo que as pessoas tinham de que as máquinas pudessem ficar tão avançadas que tomariam seus empregos até mesmo em áreas eminentemente humanas como os cuidados domésticos. Assim, rir da incapacidade delas para certas atividades era um modo de afastar esse medo, mesmo que momentaneamente. (E será que ridicularizar mulheres também não é uma maneira de afastar certos temores machistas a respeito delas?)
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