História do Biquinho, publicada pela primeira vez em 1983.
Em meados de 1982, meu irmão e eu tivemos uma ideia: e se o Biquinho fosse fã do Morcego Vermelho, e resolvesse imitar o seu herói? Fizemos uma fantasia de “Biquinho Vermelho” com o que havia pela casa, meu irmão se fantasiou e fomos, pulando, mostrar a papai. Ele olhou, sorriu, disse: “Biquinho Vermelho, é? OK”, e a brincadeira acabou por aí.
Até uns anos atrás, quando digitei a lista das histórias de papai para o Inducks, eu nem tinha certeza se ele havia escrito a história, afinal. E quando fui procurar o gibi na coleção, descobri que não o tinha. É por isso que eu não me lembrava dessa história. Eu não tenho uma cópia da Revista Tio Patinhas 215. Tenho a impressão que papai se esqueceu de adicioná-la às outras… (Nesse meio tempo, comprei uma cópia no mercado livre do João Borba, que recomendo como vendedor honesto.) Portanto, as ilustrações desta vez vão ficar a cargo de uma cópia escaneada da revista que achei na Internet, cortesia dos Esquiloscans. (Valeu!)
É claro que há uma diferença grande entre o que aconteceu em casa naquele dia, e o que acontece na história. As relações familiares em casa também eram bem diferentes do que acontece entre o Biquinho e seu tio, o Peninha. Dada a ideia, o resto ficou a cargo da imaginação de papai, e das características dos personagens. O fato é que a maioria das crianças gosta de brincar de se fantasiar. O guarda roupas de uma delas nunca está completo sem uma fantasia de herói ou princesa, só para citar as mais comuns.
Mas as brincadeiras das crianças com suas fantasias raramente acontecem muito longe de casa, ou fora de uma matinê de carnaval ou festa de aniversário. Mas o Biquinho tem de ser diferente, sempre. Para ele, não basta apenas “fazer de conta”. Aliás, ele parece ter um certo problema em discernir entre realidade e imaginação, apesar de que isso costuma ser comum com crianças pequenas.
Antes de mais nada, o processo de recolher objetos pela casa do Biquinho foi bem mais radical do que o meu. Eu pelo menos não rasguei o sofá para conseguir as molas para os pés, não serrei o pé da cadeira nem roubei a cordinha do varal. Muito menos saímos, meu irmão e eu, desembestados pela rua à procura de bandidos para prender. Isso só acontece nos quadrinhos, e por bons motivos. Mas pelo menos o meu pai era bem mais atencioso e compreensivo conosco do que o Peninha é com o Biquinho. Ele realmente não faz ideia de como se cria uma criança criativa como o seu sobrinho.
Desesperado para trazer o Biquinho de volta, o Peninha então se transforma no Morcego Vermelho, pois deduz que o menino só obedecerá uma ordem de voltar para casa assim. “Atrapalhante” é um termo que usávamos em família, baseado no ditado “muito ajuda quem não atrapalha”. Para nós, significava alguém que tenta ajudar com alguma coisa (uma tarefa doméstica, um jogo), mas que no fim acaba atrapalhando, por não saber exatamente como ajudar.
O comportamento do Biquinho também é baseado no do meu irmão, quando ele era bem pequeno. Aos 3 ou 4 anos de idade ele subiu no palco durante uma peça infantil e deu um chute na canela do ator que representava o pirata malvado da história.
De confusão em confusão, o Biquinho acaba sequestrado pelo Kid Mônius e Ted Tampinha, dois velhos conhecidos do Morcego Vermelho, mas é claro que eles não são páreo para a pestinha e acabam implorando de joelhos para serem presos.
Tudo está bem quando acaba bem, e o Biquinho pode então continuar brincando de super herói com o seu jeito radical de ser. E não esqueçam de dar uma olhadinha no livro de papai, bem aqui.