Tudo Começou Assim…

Primeira história do Morcego Vermelho, publicada pela primeira vez  na revista que lançou o personagem, em 1973, e recentemente no Especial de 50 anos do Peninha.

A história se propõe a explicar como foi que o Peninha começou a se transformar no Morcego Vermelho, de onde ele tirou a fantasia, e coisas no gênero.

Então: a fantasia veio de um baú no sótão do Donald, e num primeiro momento o Peninha nem gosta muito dela. Mas como não havia outra coisa que servisse, foi aquilo mesmo.

MOV fantasia

A intenção ainda não era bancar o herói, mas simplesmente entrar num baile de máscaras beneficente e fazer uma reportagem que valesse aos patos o emprego de volta, já que eles haviam sido demitidos por dormir na hora do expediente. O convite para a festa foi encontrado sob a janela do Tio Patinhas, que o jogou fora por não gostar de festas feitas para arrecadar dinheiro.

Antes de querer ser herói, o Peninha sonhava apenas em ser um grande jornalista, com direito a estátua no parque eu tudo, como o Pato Lino Tippo. Em outra história desta revista o Morcego Vermelho acaba ganhando a sua própria estátua, aliás. O nome desse pato é mais um desses trocadilhos que papai gostava de fazer. É uma alusão à técnica da linotipia e à máquina chamada Linotipo, por meio da qual eram impressos jornais e livros antes da era digital.

MOV Lino Tippo

De trapalhada em trapalhada os dois primos acabam ajudando a prender os Metralhas, e é aí que o Donald tem então a ideia de criar o mito do Morcego Vermelho, em parte para ter o que publicar no jornal. Assim, ele se torna o guardião da identidade secreta do Peninha, e seu principal arauto.

Esta história basicamente lança as bases de todo o tema do herói: desde as trapalhadas com a lata de lixo, e até as tentativas do Patacôncio de descobrir sua identidade secreta.

O que aparentemente não se republica mais é a “página de introdução” desta história, e na verdade da revista toda, que é quase uma historinha por si só:

MOV intro

Dom Gansote E Sancho Pena

História do Peninha, publicada pela primeira vez em 1983, e semana passada no Especial de 50 Anos do Peninha.

Esta é uma variação sobre o clássico livro Dom Quixote de La Mancha, escrito por Miguel de Cervantes e publicado em Madrid, Espanha, em 1605. O clássico da literatura é uma sátira dos romances de cavalaria famosos na Idade Média, meros 100 anos antes, o que transforma a história de papai na sátira da sátira.

Aqui o Peninha faz o papel do lacaio do fidalgo, representado pelo Gansolino, empregado da Vovó Donalda. Vai daí que acontece uma “pequena” inversão de papéis: quem deveria ser o personagem secundário acaba se transformando no principal, e “herdando” suas peripécias ao enfrentar um certo mago que aliás não aparece no livro original. Imagino que a presença do mago sirva para “contornar” o tema da loucura do “Cavaleiro da Triste Figura”.

Sancho Pena

Assim, é Sancho Pena quem alucinadamente se lança aos moinhos de vento, enquanto Dom Gansote acorda de vez em quando de seu sono para oferecer a necessária pitada de realidade. Na história original, é o exato contrário que acontece, menos as frequentes sonecas.

Sancho Pena1

A caixa de introdução no primeiro quadrinho traz uma citação parcial da frase de abertura do livro: “Num lugar da Mancha, de cujo nome não quero lembrar-me, vivia, não há muito, um fidalgo, dos de lança em cabido, adarga antiga, rocim fraco, e galgo corredor”. Papai usa o “não quero nem lembrar” como um trocadilho para o nome do tal lugar da Mancha, que é uma região da Espanha, deixando, assim, uma de suas “marcas registradas” para trás.

Sancho Pena2

Uma outra personagem “pescada” do livro é a Dulcineia Del Toboso, aqui chamada Dulcegansa. Enquanto na história original ela é apenas uma idealização da mente abilolada do personagem principal, aqui ela se torna bem presente, no papel da também clássica “mocinha em perigo” dos livros de cavalaria.

Os Caçadores Da Pena Perdida

História do Peninha, publicada originalmente em 1983, e republicada outro dia mesmo no Especial dos 50 Anos do Peninha.

A história é uma sátira com o filme “Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida”, de 1981. Alguns elementos foram diretamente retirados do filme, como a sequência de abertura com a armadilha da pedra rolante e a existência de uma câmara infestada de cobras semelhante ao “Fosso das Almas” do filme.

Existe também uma Arca, bastante parecida com a do filme, mas cuja função é diferente. Enquanto a original é a Arca da Aliança bíblica, esta seria apenas o luxuoso receptáculo de uma pena de Fênix, pássaro lendário que tem a curiosa mania de renascer das próprias cinzas. Sendo o herói o “Indiana Pena”, pareceu a papai natural que ele fosse atrás justamente de uma … pena.

Pena Perdida

O motivo do enfrentamento entre o bem e o mal também é parecido com o do filme: enquanto o herói explorador está só interessado em itens históricos para o museu, o vilão quer apenas enriquecer à custa do roubo de antiguidades valiosas. O tema “egípcio”, também está presente, completo com um templo e estátua do deus Hórus, mas o local não é o Egito.

É neste ponto, aliás, que as brincadeiras de papai começam a dominar a paródia: o vilão se chama Bo-lha (Bolha, também um chamamento pejorativo masculino – “aquele cara é um bolha”), e ele diz ser da universidade de “Fa-Juh-Tisse” (Fajutice, sinônimo de coisa falsa ou enganosa, bem a exemplo do próprio “professor”, que também é fajuto).

O local de onde vem o vilão, a cidade de “Tombucatatu” (não me perguntem, mas tem tatu no meio – uma alusão ao subterrâneo onde está a Arca da Pena, provavelmente), no país de “Maluk”, é uma referência à antiquíssima cidade de Tombuktu, no Mali.

Pena Perdida1

O sacerdote que guardou a pena lendária se chamava “Sodeh-Tanga” (Só de tanga, uma alusão às vestimentas típicas dos antigos egípcios, que frequentemente consistia apenas de um tipo de calção), e o templo onde a relíquia está guardada se chama “Tah-Todho-Mundo-Loko” (está todo mundo louco – nada mais apropriado, aliás, para algo que fica num país chamado “Maluk”).

Os entalhes nas pedras do templo também são inserções de papai. O primeiro conta a história de como a Pena chegou até lá, e o segundo é uma alusão ao livro “Eram os Deuses Astronautas?”, de Erich Von Däniken. Papai era fã dessa teoria.

Pena Perdida3   Pena Perdida4

O resto são as confusões e correrias de sempre, algumas adaptadas do filme, outras originais de papai, como a piadinha abaixo, que vão conduzindo o leitor até o inusitado final, no qual ninguém se dá exatamente bem, mas o importante é que o vilão se dá bem mal…

Pena Perdida2

A Volta Do Pato Demêncio…

História do Peninha, publicada pela primeira vez em 1972, e republicada mais recentemente no Especial de 50 Anos do Peninha.

Trata-se de nada mais, nada menos que a primeira história do Peninha escrita no Brasil. Ela só não foi também a primeira publicada no Brasil porque o pessoal da redação resolveu publicar primeiro a segunda história do Peninha escrita no Brasil (pelo Júlio de Andrade)… Mas está valendo.

Curiosamente, já se trata de uma história do Peninha na redação de A Patada, local onde o personagem viria a ter os seus melhores momentos ao longo dos anos nas histórias brasileiras, e nas de papai em especial. A profissão de jornalista, que já veio com ele dos EUA, não poderia ter encontrado terreno mais fértil para se desenvolver. Com o tempo também papai descobriu o seu caminho até o jornalismo, escrevendo muitos artigos para os jornais de Campinas ao longo dos anos, e se inspirando nas redações reais para criar situações cada vez mais hilárias nos quadrinhos.

Peninha demencio

A história em si é uma clássica comédia de erros: no afã de não chegar atrasado na redação novamente, o Peninha esquece que não deveria ir direto de casa para o jornal naquela manhã, mas sim ir encontrar com o Donald no porto para fazer uma matéria sobre esse tal de Pato Demêncio, uma celebridade que ninguém sabe exatamente quem é, nem o que fez, mas que todo mundo admira porque sabe que deveria admirar.

Há aqui, é claro, um elemento de crítica à cultura das celebridades, que começou com as estrelas do cinema americano no pós guerra, e tomou grandes dimensões com as estrelas do Rock nos anos 60. A pergunta que se faz é: o que são celebridades, e para quê serve gente famosa, se é que essas pessoas servem para alguma coisa?

O desencontro entre o Peninha e o Donald leva a todo um encadeamento de confusões e situações desastradas e desastrosas que, apesar das tentativas de se consertar a bagunça, terminam num pequeno desastre jornalístico. Mas até aí o leitor já riu tanto, que nem tem espírito para se sentir mal pelo infortúnio dos personagens principais.

O nome “Demêncio” é, obviamente, um tocadilho com a palavra “demente“, sinônimo de “maluco”, palavra que papai faz associar também ao Peninha, ao longo da história.

Peninha demencio1

E temos aqui também uma primeira menção do nome do terceiro e obscuro jornal de Patópolis, “A Patativa Ilustrada”, usado novamente na história chamada “Minha Vida Daria um Livro”, de 1973, já comentada neste blog.

Peninha demencio2

A Aeronáutica No Brasil

Em 1982 papai foi convidado a pesquisar e compor uma história em quadrinhos que descrevesse a história da aeronáutica no Brasil.

Esta foi uma encomenda do Centro de Relações Públicas do Ministério da Aeronáutica do governo João Figueiredo, em pleno regime militar, ao Departamento de Projetos Especiais da Editora Abril. Era ao mesmo tempo uma publicação educacional, aparentemente para distribuição gratuita, e uma ação de relações públicas de um governo que sequer era reconhecido por uma boa parcela da população, para dizer o mínimo.

Papai era uma dessas pessoas que não concordavam com a existência de um governo militar, mas como a História do Brasil não é de propriedade deste ou daquele governo, mas sim do povo brasileiro como um todo, ele decidiu fazer o trabalho.

Fez a pesquisa direitinho, e elaborou um texto exaltando especialmente a participação de inventores e pioneiros brasileiros no desenvolvimento da aviação brasileira e mundial. Os desenhos são de R. Cordeiro, a julgar pela discreta assinatura no último quadrinho.

O personagem criado para esta história é o “Piloto”, e as crianças para quem ele dá a aula sobre aviação, um menino e uma menina, não têm nome, mas lembram em muito os personagens inspirados em meu irmão e em mim presentes em outras histórias da época, como “O Pequeno Campeão”, de 1981.

A história é longa e cheia de detalhes técnicos, certamente feita de acordo com instruções precisas, mas a reproduzo aqui na íntegra caso seja útil na pesquisa escolar de alguém.

Aeronautica capa  Aeronautica contracapa  Aeronautica 01

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Um Passado Sem Manchas?

História do Mancha Negra, escrita em dezembro de 1978 e publicada pela primeira vez em 1980.

No afã de tentar saber mais sobre um antepassado misterioso chamado simplesmente Mancha, que teria roubado o tesouro real de Manchóvia em 1679, o vilão resolve “recrutar” meio às brutas a ajuda do Professor Pardal e de sua nova máquina do tempo para uma “pesquisa histórica”.

Para começar, sentado à sua mesa de trabalho naquela manhã em dezembro de 1978 papai provavelmente calculou que, dada a relativa demora do processo de produção das histórias naquele tempo, esta acabaria sendo publicada em algum ponto do ano de 1979. Por isso, me parece que a data de 1679 não é coincidência. O problema é que a história acabou ficando em uma gaveta por bem mais tempo do que ele previa, estragando um pouco o detalhe/piada.

O nome fictício “Manchóvia” soa como “Cracóvia“, dando à cidade do Mancha ares de burgo renascentista no Leste Europeu. Para reforçar a sensação de “viagem no tempo”, os moradores da cidade se tratam por “Tu”, ou usam construções de frases rebuscadas e “palavras de dicionário”, como “larápio” ao invés de “ladrão”. O que for preciso para dar uma “sonoridade arcaica” às falas.

Mancha passado

O Pardal logo percebe que os “métodos de pesquisa” do Mancha Negra não são nada ortodoxos, e deduz que deve haver mais nos planos do vilão do que apenas uma curiosidade histórica. Em todo caso, e porque sua consciência de bom moço não permite que ele abandone o bandido no passado e fuja de volta para o nosso tempo, ele relutantemente vai participando do plano.

Mancha passado Pardal

Na página 7 temos o que parece ser um erro do desenhista ou arte finalista: o estalajadeiro fala em vinho, mas as canecas sobre a mesa têm uma espessa espuma branca, como se contivessem cerveja.

Mancha passado vinho

No final da história chegamos a uma conclusão no mínimo curiosa: por viajar ao passado, o Mancha Negra pode ter na verdade afetado o futuro. Forma-se assim um ciclo vicioso no qual a busca pelo tataravô leva o Mancha ao passado, e sua visita ao passado “cria” a situação que no futuro o levará ao passado em busca de seu tataravô. Um perfeito paradoxo das melhores histórias de viagem no tempo.

É A Fase…

História do Biquinho, publicada pela primeira vez em 1982.

É verdade que o Biquinho não tem parada, mas o problema de muitos pais é tentar bancar os psicólogos de seus filhos e se fiar demais nas teorias dos livros, ao invés de simplesmente ter jogo de cintura e ir negociando com a criança à medida que novas situações vão surgindo. (O problema de outros pais é não saber nadinha de psicologia infantil e nem ter jogo de cintura, tratando os filhos às turras, mas isso são outros quinhentos).

Biquinho nao

O livro em questão nesta história, é “Meu Sobrinho, Meu Tesouro”, uma brincadeira com o livro “Meu Filho, Meu Tesouro”, lançado em 1946. Ele é uma espécie de manual de cuidados básicos com nenês e crianças pequenas, ensinando coisas como amamentar, trocar fraldas, dar banho, etc, além de conselhos de boa educação e convivência entre pais e filhos, de cunho marcadamente psicológico.

livro meu filho

O tema “psicologia”, nesta história, é uma brincadeira com um primo querido de papai, que é um excelente psiquiatra, e com a esposa dele na época, uma também excelente psicóloga. Papai considerava que um dos perigos da psicologia é uma certa tendência que existe de se tentar usar as teorias para adivinhar o que se passa na mente de uma pessoa, ao invés de simplesmente ouvir e analisar.

É o que acontece aqui: no afã de tentar “vestir” no Biquinho uma “fase” (o que talvez pudesse dar a ele algum controle sobre o comportamento do patinho), o Peninha se embrenha demais nas teorias e se esquece de simplesmente ser um tio atencioso. Bastaria ele tirar os olhos do livro um pouco, e prestar atenção no sobrinho.

Convencido de que o Biquinho estaria na “fase do não” e desejoso de confirmar a teoria, o Peninha vai “testando” o sobrinho na esperança de ouvir um único “não” (em termos científicos, ele está tentando fabricar evidências para provar sua tese), enquanto não percebe que todos os “nãos” da história são ditos por ele mesmo. O Biquinho é apenas um patinho cheio de energia que só quer brincar e se divertir.

Biquinho nao1

 

PS: Alguém transformou esta história em vídeo (um slideshow, na verdade) e colocou no YouTube, vejam aqui que interessante.

Os Irmãos Metralherik e Hazzar, O Horrível

História dos Irmãos Metralha, de 1981.

Esta é mais uma da série “Metralhas Históricos”, e desta vez estamos no tempo dos Vikings e na costa da Normandia.

O problema de certos bandidos é não saber quando parar, e ao chefe deles não basta ser o terror dos vilarejos costeiros. Ele cisma que tem de atacar a fortaleza de um antepassado do Tio Patinhas e roubar o tesouro lá guardado. Todo mundo sabe que não vai dar certo, mas a graça toda da coisa é ver exatamente de que maneira.

O nome do antepassado do 1313, “Hazzar, O Horrível”, é uma homenagem ao personagem “Hagar, o Horrível”, criado em 1973 por Dik Browne. Além disso, é também uma brincadeira com a palavra “azar”.

Uma piada recorrente da história que chama a atenção é a brincadeira em torno do grito de guerra dos Irmãos Metralherik:

Metralhas Vikings

Metralhas Vikings1

O resto é o de sempre: ataques, pilhagens e lutas. A defesa do antepassado do Patinhas é tão corajosa quanto criativa, culminando com mais uma cena de “luta” onde só se vê onomatopeias.

Metralhas Vikings Luta

Turistas Em Férias

História do Zé Carioca, criada em 1973 e publicada em 1974.

Zé e Nestor estão viajando a pé, já que a grana para a condução é curta, e acabam indo parar num estradão no meio do nada nos confins do Brasil.

Quando finalmente passa uma boiada pelo estradão, os dois amigos acreditam ter encontrado uma solução para seus pés cansados, mas nem tudo é o que parece ser. Em todo caso, a oportunidade de percorrer alguns quilômetros a cavalo e a promessa de um bom pagamento são tentadoras demais para recusar.

A menção da cidade de “Ourofino” pode ser uma alusão à cidade mineira de Ouro Fino, ou a um arraial em Goiás, e é certamente uma referência a antigas canções sertanejas como “Chico Mineiro” e “Menino da Porteira“, que citam a cidade de Ouro Fino e a estrada que leva os viajantes até lá.

ZC ourofino

É quando eles chegam à porteira na estrada para Ourofino que o caldo entorna e a nossa até aqui pacata história sofre uma reviravolta, com os nossos inocentes amigos quase sendo presos como ladrões do gado que estavam conduzindo.

O mal entendido, é claro, é logo desfeito e tudo acaba genuinamente bem para os nossos heróis, algo que na verdade é raro nas histórias de papai. Eles até ganham uma recompensa e o cavalo, emprestado, para chegar até Ourofino.

Outra coisa que papai usava muito em suas histórias é a “cena de briga” composta apenas por onomatopeias e algumas outras poucas coisas. Isso satisfaz o estilo Disney, que não permite muita violência, enquanto deixa o leitor imaginar a briga do jeito que achar melhor.

ZC ourofino briga

 

Mistério no Ar

Outro dos projetos “não-Disney” dos quais papai participou foi a revista “Pic-Pic”, que circulou no início dos anos 1980. Com o conceito de “revista brinquedo”, essa publicação apresentava uma história em quadrinhos e um brinquedo ou modelo impresso em papel cartão, para destacar e montar. Se a criança fosse habilidosa, não era preciso nem usar tesoura, e a revista já vinha com um saquinho de cola para ajudar na montagem.

Na revista que comento hoje temos os modelos de um Hawker Hunter F-6 (Caça Subsônico Britânico dos anos 1950) e um Taylorcraft L-2 (avião de observação usado pelos EUA na Segunda Guerra).

Para esta série de modelos de aviões clássicos papai criou o personagem Capitão Valente, aviador aparentemente militar, mas de um exército ocidental não identificado. A clara inspiração vem das histórias de guerra que papai escrevia nos anos 1960, nas quais os heróis eram os aviadores dos Estados Unidos, e os vilões eram os alemães nazistas.

Mas o Capitão Valente não luta contra nazistas. Ele existe em nosso tempo, e seus adversários são fenômenos aéreos inexplicados e misteriosos, como o Triângulo das Bermudas e aparições de OVNIS.

A história de hoje foi publicada na Revista Pic Pic número 8, de 1980, tem quatro páginas e é desenhada por Claudson Ribeiro da Rocha e José Claudino Gomes.

O Capitão Valente está com seus comandados num voo de rotina, quando de repente os instrumentos começam a falhar, as bússolas param de se mover, e um estranho nevoeiro se abate sobre as aeronaves da esquadrilha, desorientando os pilotos e separando o Capitão dos outros.

Para piorar, aparece do nada uma outra esquadrilha, formada por aviões alemães da Primeira Guerra, que ataca o nosso herói com seus tiros de metralhadora. Quando tudo parece perdido o nevoeiro se dissipa, trazendo Capitão de volta à nossa realidade, à frente de sua esquadrilha e a um pouso seguro em sua base.

Tudo poderia passar por uma ilusão, não fossem os buracos de bala na asa do avião de caça, e a constatação que o ataque ocorreu justamente sobre o Triângulo das Bermudas.

Cap Val 1