Biquinhoboy, Meu Tesouro!

História do Pena das Selvas, de 1984.

Esta é a história de apresentação do personagem Biquinhoboy, criado por papai para ser um alter-Ego do Biquinho na turma da selva, do mesmo modo que o Biquinho participa das histórias do Peninha.

A diferença é que o Biquinhoboy é um adotado do Pena das Selvas, e não exatamente um sobrinho. É a coisa mais próxima de um filho que se vê em histórias Disney.

Considerando que o Pena das Selvas é uma mistura de Jim das Selvas com Tarzan, o Biquinhoboy é inspirado no filme “Tarzan e o Menino das Selvas” de 1968. Aliás, o próprio Biquinho é um patinho abandonado que foi criado por porcos-espinho, em alusão ao Mogli, criado por lobos, e ao próprio Tarzan, criado por macacos. Além disso, a menção a “meu tesouro” no título da história é uma alusão à história do Biquinho chamada “É a Fase”, de 1982, já comentada aqui.

O resto da história são sátiras dos antigos filmes de heróis da selva, juntamente com menções à cultura popular (na primeira página o Biquinhoboy está batucando “bum bum paticumbum prugurundum”, em uma referência a um samba-enredo da Império Serrano do ano de 1982) e até mesmo lembranças das brincadeiras de infância.

Quando as crianças se juntavam para brincar de mocinho e bandido, forte apache ou mesmo de aventura na selva, era comum que um “chefe” da brincadeira começasse a mencionar “leis” para a atividade, que geralmente eram inventadas na hora, à medida que a coisa toda ia se desenrolando, em um esforço de usar os outros para ganhar alguma vantagem.

Mas é claro que nem sempre os outros participantes da brincadeira aceitavam a tudo em silêncio, e acabavam encontrando maneiras de virar essas “leis” em favor de si mesmos.

As menções a Mbonga (Tarzan) e a Guran (Fantasma) servem para adicionar referências e também para dar pistas sobre que tipos de livros as crianças dos tempos de papai liam para depois ir brincar de faz de conta.

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O Gato Gatuno

História dos Irmãos Metralha, de 1980.

O plano da vez parece bem bolado. Mas só parece… Ele é, inclusive, inteligentemente baseado em princípios científicos, como a Teoria do Reflexo Condicionado de Pavlov. Pois é… Eu já disse que quadrinho é cultura? Para papai era, e ele não perdia a chance de tentar ensinar alguma coisa de útil a seus jovens leitores.

Metralhas gatuno

A trama é toda baseada em jogos de palavras e referências a diamantes famosos. Assim, a palavra “gatuno” lembra “gato” mas é sinônimo de “ladrão”, em uma alusão à tendência que certos bichos de estimação têm de pegar coisas ou atacar alimentos quando acham que seus donos não estão vendo.

Outro jogo de palavras nada aleatório é o nome da joalheria a ser assaltada: não é por nada não que ela se chama “Falso Brilhante”. O leitor atento vai ficar com a pulga atrás da orelha quando o vendedor mostrar sua mercadoria aos falsos clientes. Afinal, os famosos diamantes “Orloff“, e “Cullinan” já têm dono, e o “Grão-Mogol” (também chamado de “Grande Mogul”) está desaparecido desde o século XVII.

Metralhas gatuno1

O resto da graça da história fica por conta das habituais falhas bobas na implementação dos “planos perfeitos” do Metralha Intelectual, e da reação do gato Percival a elas. Ao que parece, ele é realmente um gato com mentalidade de ladrão, e o velho ditado que diz que “não há honra entre ladrões” é seguido também por ele.

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O Misterioso Bobo Da Corte

História do Morcego Vermelho, de 1976.

Mais uma vez estamos às voltas com um sonho, mas agora da maneira “correta”, do ponto de vista do conceito de papai de processo criativo ideal. Ele tinha grande curiosidade pelos aspectos mais psicológicos e até mesmo “esotéricos” desse fenômeno, e várias de suas histórias tinham algo a ver com um sonho de algum personagem. O Zé Carioca de papai também tinha esse “dom”, por exemplo, e várias de suas histórias para o papagaio malandro tiveram os sonhos como ponto de partida.

Sua indagação era: até que ponto eles são um mero processo de “backup e desfragmentação mental” (quer dizer, esses seriam os termos que ele usaria, se eles já existissem na década de 1970), ou será que eles podem ser uma conexão com algo maior, e quem sabe até proféticos?

MOV Bobo

O Peninha/Morcego Vermelho (e o leitor junto com ele) vai ser atormentado por essa dúvida durante todo o decorrer da história. Será o sonho do Bobo da Corte mera autossugestão, ou será este um caso de profecia autorrealizável?

MOV Bobo1

E quando ele finalmente se materializar diante de nossos olhos, será uma manifestação sobrenatural, ou algo bem mais mundano? Quem se fantasiaria de Bobo da Corte, e por qual motivo? Papai, é claro, deixa pistas desde a primeira página, e o leitor atento não se furtará em segui-las para chegar à solução antes dos personagens.

De resto, hoje temos também a simpática participação do Ratchinho, como ajudante e fiel escudeiro do herói. Este é mais um daqueles coadjuvantes criados por papai que, aparentemente, só ele sabia usar. Outro exemplo notável e igualmente charmoso é o Soneca, o cachorrinho do Zé Carioca. São poucas as histórias de outros autores onde eles aparecem, e quando são usados por outros quase nunca têm a mesma graça.

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As Garatujas Abomináveis

História do Morcego Vermelho, de 1976, certamente uma das mais criativas de papai.

O Dr. Ogar Hatuja é um desenhista frustrado que inventa um maravilhoso lápis criador, cujos rabiscos saem da parede (muito semelhante, aliás, a um dos mais modernos modelos de impressora 3D em formato de caneta, cujo protótipo foi visto recentemente em vídeos na Internet) e vão perambular pelas ruas, assaltando as pessoas e causando muita confusão.

Garatujas

A diferença é que os desenhos criados com as atuais canetas 3D não andam (ainda)… Mas, e se andassem? É nessa premissa que se baseia toda a trama: e se os desenhos feitos nas paredes, por crianças e outros tipos de artistas e arteiros, de repente tomassem vida?

Os rabiscos das crianças pequenas são realmente curiosos, e têm intrigado os adultos por décadas (o termo “garatuja” está ligado ao trabalho do psicólogo infantil Jean Piaget, por exemplo, que papai certamente conhecia, como parte da base teórica de sua profissão de quadrinista infantil). Recentemente eles também inspiraram artistas plásticos que tentaram tratar os desenhos de seus filhos em 3D virtual no computador, ou fazer bonecos de pano inspirados neles, tudo na tentativa de “tirá-los do papel”.

Ele aqui também dá uma dica bastante clara do que esperava dos leitores, fazendo o Morcego tirar um dicionário do bolso e pesquisar a palavra desconhecida, antes de começar a agir. E convenhamos: a palavra “garatuja” realmente soa tão estranha que poderia muito bem ser o nome de um bicho, ou algo parecido. (Uma mistura de gato com rato e coruja, talvez?)

Garatujas1

As Garatujas Abomináveis, como todo “bom” monstro de histórias em quadrinhos, têm o seu ponto fraco, o que as torna na verdade bastante vulneráveis, apesar de sua aparência feiosa. Além disso, se o vilão desta história não sabe desenhar, não nos esqueçamos que o Morcego Vermelho é o Peninha, e que o Peninha sabe, sim, desenhar. Tão bem, aliás, que com o passar do tempo acabou virando o quadrinista oficial dos Estúdios A Patada de Quadrinhos. Este talento também virá bem a calhar na luta do Morcego contra os monstros, ou melhor, contra o criador deles.

Outro ponto em comum entre o Morcego e o Peninha é o caderninho de repórter, onde o herói anota os detalhes das reclamações das vítimas e descrições dos bandidos.

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É A Fase…

História do Biquinho, publicada pela primeira vez em 1982.

É verdade que o Biquinho não tem parada, mas o problema de muitos pais é tentar bancar os psicólogos de seus filhos e se fiar demais nas teorias dos livros, ao invés de simplesmente ter jogo de cintura e ir negociando com a criança à medida que novas situações vão surgindo. (O problema de outros pais é não saber nadinha de psicologia infantil e nem ter jogo de cintura, tratando os filhos às turras, mas isso são outros quinhentos).

Biquinho nao

O livro em questão nesta história, é “Meu Sobrinho, Meu Tesouro”, uma brincadeira com o livro “Meu Filho, Meu Tesouro”, lançado em 1946. Ele é uma espécie de manual de cuidados básicos com nenês e crianças pequenas, ensinando coisas como amamentar, trocar fraldas, dar banho, etc, além de conselhos de boa educação e convivência entre pais e filhos, de cunho marcadamente psicológico.

livro meu filho

O tema “psicologia”, nesta história, é uma brincadeira com um primo querido de papai, que é um excelente psiquiatra, e com a esposa dele na época, uma também excelente psicóloga. Papai considerava que um dos perigos da psicologia é uma certa tendência que existe de se tentar usar as teorias para adivinhar o que se passa na mente de uma pessoa, ao invés de simplesmente ouvir e analisar.

É o que acontece aqui: no afã de tentar “vestir” no Biquinho uma “fase” (o que talvez pudesse dar a ele algum controle sobre o comportamento do patinho), o Peninha se embrenha demais nas teorias e se esquece de simplesmente ser um tio atencioso. Bastaria ele tirar os olhos do livro um pouco, e prestar atenção no sobrinho.

Convencido de que o Biquinho estaria na “fase do não” e desejoso de confirmar a teoria, o Peninha vai “testando” o sobrinho na esperança de ouvir um único “não” (em termos científicos, ele está tentando fabricar evidências para provar sua tese), enquanto não percebe que todos os “nãos” da história são ditos por ele mesmo. O Biquinho é apenas um patinho cheio de energia que só quer brincar e se divertir.

Biquinho nao1

 

PS: Alguém transformou esta história em vídeo (um slideshow, na verdade) e colocou no YouTube, vejam aqui que interessante.