Ora, Pipocas!

História do Zé Carioca, escrita em dezembro de 1976 e publicada pela primeira vez em março de 1978.

Ela segue a mesma linha de outra, chamada “Zé da Venda” e já comentada aqui, escrita poucos meses antes no mesmo ano de 1976. A trama também é parecida: precisando de um dinheiro, o Zé resolve abrir um pequeno negócio no qual não precise trabalhar duro demais.

Apesar de (ainda) estar creditada ao Julio de Andrade, a presença do nome da história na lista de trabalho e da revista na coleção não me deixam dúvidas. Além disso, papai também adorava uma pipoca feita na manteiga, gosto esse que “deu” ao Zé.

Outra pista é a presença do personagem Zé Gaivota, um marinheiro criado por papai e usado só por ele como uma espécie de “conhecido” da turma do Morro do Papagaio. A função do personagem é aparecer de vez em quando meio assim do nada, apenas passando pela rua, e interagir de alguma maneira. Por ser marinheiro ele viaja muito, o que justifica as longas ausências, e por ter uma profissão e um emprego, ele tem a vantagem de sempre ter algum dinheiro no bolso.

Quer dizer, vantagem, em termos. Ele inclusive já emprestou o dinheiro para o Zé abrir a famosa venda, mas hoje vai tentar comprar dois saquinhos de pipoca de dois Cruzeiros cada com uma nota de quinhentos Cruzeiros.

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De trapalhada em trapalhada, de gente a quem ele deve pequenos valores aproveitando para comer uma pipoquinha na faixa e até uma tentativa de golpe, o Zé acaba não vendendo nada. Mas isso não quer dizer que ele ficará sem o dinheiro para comprar o presente da Rosinha.

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Esta também é a primeira e única aparição do vilão da história, um certo Quico Urubu (e não “Chico” como consta no Inducks), o que faz dele mais uma das criações de meu pai.

A interjeição “Pipocas!”, ou mesmo “Ora, Pipocas!” era, naqueles tempos, uma exclamação muito comum para quem quisesse expressar seu descontentamento com algo sem precisar recorrer a palavras de baixo calão.

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O Ataque Extraterreno

História do Bionicão, composta em janeiro de 1979 e publicada pela RGE – Rio Gráfica e Editora na revista HB Especial número 8 em julho do mesmo ano.

Esta é mais uma daquelas histórias que papai escreveu sob o nome de mamãe como uma maneira de “contornar” o contrato de exclusividade que tinha com a Editora Abril. O nome que consta no expediente da revista é o dela, mas ela me confirmou pessoalmente que a história não é dela. O título de trabalho é “O Ataque Extraterrestre”.

Com 16 páginas, é uma das mais longas que ele escreveu após parar com as histórias de terror. E ela é também inspirada naquelas antigas histórias, especialmente no uso do satélite (que na verdade mais parece uma estação espacial). É uma mistura de cientista maluco como antagonista, com um ataque de discos voadores, luta na órbita da Terra e ficção científica.

A inspiração possivelmente veio do incidente com o satélite/estação espacial “Skylab“. Lançado em 1973, ele acabou entrando novamente na atmosfera em 1978 por causa de algum erro de cálculo, e finalmente caindo aos pedaços de volta na Terra em 1979.

Enquanto tentam impedir que um satélite desgovernado caia em uma zona habitada da Terra, os heróis lutam contra o vilão enquanto o cachorro biônico alterna entre feitos incríveis e trapalhadas homéricas.

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Interessante é o contraponto feito entre a tecnologia de foguetes dos anos 1970/80 (que continua mais ou menos a mesma até hoje) e os avançados discos voadores por controle remoto comandados pelo cientista maluco.

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Já a espetacular reentrada na atmosfera, protagonizada pelo Bionicão, desafia todas as leis conhecidas da física. Mas até aí, se não fosse assim, não seria uma história em quadrinhos.

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As aventuras de Jesus – O Pasquim

A série era do Jaguar, mas papai deu algumas ideias.

Há várias, mas esta é a única vez em que ele foi creditado. Além disso há também uma menção ao Canini, o que demonstra o quanto nossos artistas estavam entrosados e o quanto o Pasquim era realmente uma imprensa livre, coisa que faltava muito ao Brasil na época.

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PETECA – Pequeno Teatro de Campinas, 1982

Papai sempre foi muito ativo na cena cultural de Campinas, cidade na qual se criou e onde viveu boa parte de sua vida adulta. Ele acreditava que não existe arte mais nobre do que a que é feita para crianças, e fazia o que podia para ajudar na divulgação dos artistas em geral e atores de teatro locais.

Um abraço ao amigo Donizete Romon, ator e autor teatral.

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Apreciador de boas pizzas, papai também fazia, sempre em forma de cartum, a propaganda de suas pizzarias favoritas na cidade. Esta foi bastante veiculada nos jornais da época.

Oh, Que Saudades Que Eu Tenho…

História do Donald e do Peninha, de 1982.

Com o tema “infância”, a história gira em torno das reminiscências dos dois primos que, com a ajuda de um antigo álbum de fotos vão contando, primeiro ao Biquinho, e depois aos sobrinhos Huguinho, Zezinho e Luisinho, “causos” engraçados sobre seus tempos de criança: como se conheceram, os tempos de escola, e até mesmo uma passagem dos dois pelo batalhão dos Escoteiros Mirins de Patópolis, onde conheceram o Silva.

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A cada uma das histórias é um deles que se dá mal, e os outros que dão risada. (O leitor, é claro, rirá de todas, já que a intenção é essa.) Casos de família são assim mesmo: algumas das coisas pelas quais as crianças passam podem parecer quase trágicas, ou pelo menos muito embaraçosas na hora em que acontecem mas, décadas depois, viram motivo para riso.

O título é inspirado em um poema de Casimiro de Abreu chamado “Meus Oito Anos” (Oh! que saudades que tenho / Da aurora da minha vida, / Da minha infância querida / Que os anos não trazem mais!), que papai aprendeu na escola e que sabia declamar inteirinha de memória, assim como vários outros textos literários. Naqueles tempos do início do Século XX era preciso ensinar às crianças a memorizar com eficiência, já que não se podia ficar consultando livros o tempo todo.

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O Norte Contra o Sul

História do Pena Kid, de 1976.

Esta é uma brincadeira com a Guerra Civil nos EUA. Pode ser considerada também um manifesto pacifista, ou uma sátira que tenta demonstrar a inutilidade de todas as guerras. “Norte Contra Sul” é também o nome de um livro, de autoria de ninguém menos do que Julio Verne.

A premissa é bastante logica: se a história se passa no Velho Oeste, em algum momento a cidade de Pacífica City deve ter se visto envolvida no conflito. Esta é a primeira desvantagem das guerras em geral: se os governantes decidem que o país está em guerra, todos os habitantes serão envolvidos, queiram ou não. Em tempos de paz é muito fácil ser pacifista, mas isso pode não ser tão simples em épocas de conflito.

Outro problema é que lado tomar, já que não há alternativa. E esta é outra das desvantagens de uma guerra: é obrigatoriamente preciso tomar um partido, mesmo que isso signifique ter de ver seus amigos ou entes queridos do outro lado. Aqui, enquanto os personagens decidem de que lado ficar, vemos as caricaturas de alguns membros da redação. Um deles, inclusive, chega a ser preso só por achar os uniformes azuis mais bonitos do que os cinza.

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Em seguida, juntamente com a suposta localização de Pacífica City no mapa, vemos um importante detalhe geológico. A cidade fica às margens do “Rio Colorido”, em uma alusão ao “Rio Colorado“, que corta cinco estados na região mais desértica dos EUA. Desses, só o Arizona ficou do lado dos sulistas. Se Pacífica City realmente existisse no mundo real, eu arriscaria então dizer que ela ficaria em algum lugar às margens do Lago Powell, entre Utah e Arizona. Mas os mapas antigos podiam ser bastante imprecisos e isso, em época de guerra, também pode ser um grande problema.

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Por fim, meu “mui modesto” (sqn) papai também deixou uma anotação no alto da primeira página. Mas enfim, ele era realmente um gênio, e tinha todo o direito de mandar a modéstia às favas de vez em quando.

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O Rei Dos Ladrões

História dos Irmãos Metralha, de 1976.

A inspiração vem de uma parte menos conhecida do livro “O Corcunda de Notre-Dame”, escrito por Victor Hugo nos anos 1830. Na passagem em questão a escória de Paris, seus cidadãos mais excluídos, aqueles que vivem de todo tipo de tramoia, de pequenos furtos e mendicância a grandes roubos e até assassinatos, se reúne no chamado “Pátio dos Milagres”.

Lá, vivem como uma sociedade à parte e inclusive “usurpam” os títulos da nobreza parisiense em um misto de complexo de inferioridade, desafio, sátira e desdém pela sociedade “de bem”. Há um “rei” de nome Clopin Trouillefou, e toda uma “corte” de ladrões, prostitutas e escroques.

Papai aqui retrata os conflitos entre esses bandidos, já que não existe mesmo honra entre ladrões e o trono é do mais forte, e não derivado de um “direito divino”, como reza a tradição das famílias reais legítimas da Europa.

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Como sempre a história é contada pelo Vovô Metralha, com o Azarado como personagem principal, e o 1313 da atualidade sempre torcendo por seu “antepassado”. Além disso, papai faz um “afrancesamento” de todos os nomes dos vilões: o Mancha Negra vira “Manchá”, o João Bafo de Onça vira “Jean Bafô-D’onçá” e o Gavião é o “Gavion”, para citar uns poucos.

O personagem do “Rei dos Ladrões” é interpretado pelo Metralha Intelectual, sob o nome de “Clopin Metralhá”, e o Pátio dos Milagres é agora o “Pátio dos Pilantras”.

Dessa parte menos lembrada do livro, a passagem que mais marcou papai foi o “treinamento” para batedores de carteiras: um boneco de pano ficava pendurado em uma armação, e a roupa dele era cheia de guizos e pequenos sinos. No bolso, uma sacolinha com moedas. Para ser aceito no bando o candidato a ladrão precisava provar sua habilidade tirando a sacolinha do bolso do boneco sem deixar tocar nenhum guizo. Se não conseguisse, seria espancado e expulso.

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A história corre mais ou menos fiel ao livro até mais ou menos a metade, quando papai chega à conclusão de que já é o suficiente. Em seguida, ele dá uma dramática reviravolta na trama e termina a desventura do antepassado do Azarado à sua hilária maneira, com direito até mesmo a uma participação especial dos Três Mosqueteiros (que eram quatro, nunca se esqueçam disso).

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Contatos Imediatos No Terceiro Degrau

História do Zé Carioca, de 1978.

Esta é a última história escrita por papai para os alienígenas liderados pelo Rei B-A-H. Depois desta aventura o antipático líder partirá com sua nave e tripulação, com a intenção de nunca mais voltar.

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Hoje eles nem precisarão tomar a forma dos terráqueos mas, em compensação, haverá um contato imediato para ninguém botar defeito. A inspiração vem, é claro do filme “Contatos Imediatos”, de 1977.

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Além disso, temos também a revelação de onde fica o planeta dos transmorfos (se bem que ela não ajuda muito), e a solução do “conflito” pelos cogumelos. Para os alienígenas eles são tão importantes, que nem imaginam que por aqui os cogumelos não têm valor material nenhum.

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Há também uma referência mais ou menos “profética” aos “Homens de Preto”, se bem que o filme de 1997 já é baseado nos relatos que acompanham as histórias de avistamentos desde os anos 1940. Mas aqui são os próprios alienígenas que se encarregam de ocultar os traços de sua passagem pela Vila Xurupita, inclusive “apagando” as memórias da turma.

Por último, um alerta sobre o consumo de cogumelos: alguns tipos deles são, sim, comestíveis, e muito nutritivos, mas outros são tóxicos, alucinógenos e até mesmo muito venenosos. O consumo de cogumelos recolhidos diretamente da natureza pode ser terrivelmente perigoso, especialmente se você não sabe diferenciar os muitos tipos que existem. (Crianças, não façam isso em casa). Muito mais seguro, para quem quiser experimentar, é comprar as bandejinhas vendidas nos supermercados.

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Gostosuras e Travessuras

História do Nenê, de Ely Barbosa, escrita no início de 1987 e publicada pela Editora Abril na revista Turma da Fofura número 2 mais tarde no mesmo ano.

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Todo bebê passa pela fase de brincar com a comida, ou de jogar no chão tudo o que consegue pegar nas mãos (incluindo alimentos) só para ver onde e como cai. Como tudo o mais que pode acontecer durante o desenvolvimento de uma criança, isso também vai passar, mas algumas mães (e pais também) têm dificuldade de lidar, o que pode levar a situações francamente cômicas (ainda que, na hora, pareçam trágicas).

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A história tem influências mais óbvias, como a participação especial da turma das frutas e verduras do próprio Ely Barbosa, combinada com referências ao trabalho anterior de papai, como a história “Uma Tarde em Quidocelá”, ao conto de fadas João e Maria, ao Dia das Bruxas, e ao folclore brasileiro, com a presença do Bicho Papão em horripilante pessoa na forma de um dragão.

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Outra influência talvez menos óbvia vem do gato Garfield, de Jim Davis, na frase “não brinque com sua comida, a não ser que você possa comer os seus brinquedos”. Acho que foi mais ou menos nessa época (ou alguns anos antes) que meu irmão e eu lemos isso nas tirinhas do gato gorducho e rimos muito.

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O Conde De Montecristal

História da Família Metralha, de 1980.

Inspirada no livro “O Conde de Monte Cristo”, escrito por Alexandre Dumas e publicado na forma de capítulos em série a partir de 1844, esta é mais uma daquelas histórias que o Vovô Metralha conta e que a gente não sabe se é verdade ou inventada.

De qualquer maneira, o que o Vovô parece estar fazendo (e o que papai estava fazendo sem sombra de dúvida com os leitores) é tentar ensinar, de maneira bem indireta e divertida, alguma coisa de História e literatura aos seus desmiolados netos (até mesmo porque ensinar também é uma forma de amar).

Quando leitura é manga de colete e o interesse pelos estudos é nulo (afinal de contas, se gostassem de ler e estudar talvez os Metralhas não tivessem se tornado bandidos), um “teatrinho” e uma história bem contada podem fazer uma pessoa aprender sem perceber, enquanto pensa que está só se divertindo um pouco.

Já o “papel” de Edmond Dantés (pronuncia-se “Dantês”) é perfeito para o Metralha Azarado, já que se pode argumentar que o personagem principal do livro de Dumas também era um bocado sem sorte. Assim, ele será o personagem central e também a maior vítima de todo tipo de desventura, para a diversão do leitor.

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Quanto ao próprio 1313, além de ser a “linha de ligação” entre todas as histórias desta série, é divertido ver a paixão com a qual ele sempre defende seus vários “antepassados”, na (vã) esperança de encontrar algum que não tenha sido assim tão azarado. Ele parece pensar que encontrar um “1313 sortudo” em algum lugar do passado talvez possa redimi-lo, mesmo que seja só um pouquinho.

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