A Volta Do Monstrengo

Não postei nada ontem, porque não estava me sentindo lá muito bem, mas hoje faço questão de compensar.

No mesmo Almanaque Disney 75, de 1977, temos também esta história, do Morcego Vermelho contra o Monstrengo.

Como já sabemos, o Monstrengo é ninguém menos que o Dr. Zung, o diminuto estudioso das traças, que criou em seu laboratório uma poção para ajudá-lo a lidar com a imensa fome de bolos de chocolate que ele sente. A poção não lhe tira a fome, mas dá a ele a coragem e a força necessárias para sair por Patópolis roubando docerias.

Todas as piadas e situações características dos personagens são usadas, desde o Dr. Zung usando o fato que a poção perdeu o efeito para escapar à prisão, até os pulos errados do Morcego e suas consequências imprevisíveis.

 MOV Zung

Também desta vez o Morcego Vermelho toma da poção por acidente e se alia ao Monstrengo, dominado ele mesmo por uma incontrolável fome de bolos de chocolate.

MOV Monstrengo1

Interessante é o uso de um “triplo adjetivo”, para caracterizar a tudo que é relacionado ao monstro como “terrível, horrível e pavoroso”: o monstro é terrível, horrível e pavoroso aos olhos do povo da cidade e também aos seus próprios. A fome de bolos de chocolate também é terrível, horrível e pavorosa. Ao todo, essa expressão é repetida umas 10 vezes ao longo da história.

MOV HTP

Outra coisa engraçada é a a atitude totalmente debochada do Monstrengo para com o Morcego Vermelho. Até o bordão do nosso herói ele rouba.

Monstrengo para

Monstrengo tremei

 

O Museu De Cera

História do Tio Patinhas, publicada pela primeira vez em agosto de 1977.

A diretora do Museu de Cera de Patópolis inaugura a estátua do Tio Patinhas, e a Maga Patalójika fica absolutamente furiosa de despeito com isso.

Maga brava

Nem mesmo o “saquismo” do corvo, falante como O Corvo de Edgar Allan Poe, consegue acalmar a bruxa, que parte para a cidade na intenção de estragar a inauguração e de quebra roubar a moedinha Número Um. Até aí, nada de muito novo.

Interessante é o uso que os Sobrinhos fazem das leis da física para pagar a magia da Maga na mesma moeda.

Mais interessante ainda é que a bruxa dá vida às estátuas de cera, mostrando que o filme “Uma Noite no Museu” tem por onde puxar. Desde Michelangelo, quem nunca sonhou em ver seus objetos inanimados preferidos tomarem vida?

Maga museu

 

A Honesta Tia Ana

História dos Irmãos Metralha, publicada originalmente em 1976.

Dizem que toda família tem uma “ovelha negra”. Mas o que aconteceria numa família de bandidos? Neste caso, os Metralhas têm algo “pior”: uma tia honesta e trabalhadora que mora em uma fazenda.

Tia Ana

Eles até conseguem “enrolar” a tia honesta e fazer com que ela os abrigue enquanto eles tentam fugir da polícia, mas depois de algum tempo ir para a cadeia começa a parecer uma alternativa atraente.

Como sempre quando o Azarado 1313 está presente, tudo dá errado, e situações aparentemente simples se transformam em grandes confusões.

Em alguns momentos, e especialmente quando a Tia Ana obriga seus sobrinhos a limparem a casa, a ação se parece com algo saído de um episódio de Os Três Patetas.

metralhas limpeza

Aliás, a Tia Ana é mais um daqueles personagens estrangeiros promissores mas subutilizados que papai muitas vezes descobria em suas pesquisas e “adotava” para as histórias dele.

Zé Carioca Na Avenida

História temática de Carnaval do Zé Carioca, publicada oportunamente pela primeira vez em fevereiro de 1980. Nosso herói se vê às voltas com a possibilidade de realizar um sonho, o de ser um carnavalesco consagrado. (Na Cabalá, antiga interpretação mística que os judeus fazem de seus textos sagrados, diz-se que três tipos de sonhos se realizam: aqueles que se têm logo antes de acordar, os que são sonhados por mais de uma pessoa ao mesmo tempo, e aqueles que têm sua interpretação contida em si mesmos).

ZC sonho

No caso do Zé, é algo que ele estava sonhando logo antes de ser acordado aos berros pelo Nestor, que avisa que um carnavalesco famoso está esperando para falar com ele. “Joãozinho Quarenta” (Joãozinho Trinta), da escola de samba “Bem te vi” (Beija Flor) vem pedir ideias, enquanto espiões da escola de samba “Pulgueiro” (Salgueiro) se intrometem.

ZC fantasia

No final o Zé recebe a homenagem que sonhou, mas não exatamente da maneira que queria.

Os Sete Anões Maus

História publicada pela primeira vez em 1982 (ou em mil e novecentos e o biquinho branquinho), na qual todos os personagens são vilões, incluindo as árvores da floresta.

Os Sete Anões Maus querem comida, a bruxa Min quer o Mancha Negra, e o Mancha (capturado pelos anões por ordem da bruxa) escapa por pouco de se dar mal.

Interessante é a poção de “amarração” que a bruxa está preparando para o Mancha Negra, por quem ela é apaixonada. Os ingredientes são visgo, cola tudo, goma arábica, grude, cola de peixe, fita adesiva, esparadrapo e fita crepe. Será que isso cola alguma coisa?

Outra sacada criativa é a inversão de um feitiço pela inversão da palavra mágica, simplesmente pronunciada de trás para a frente.

anao mau

 

Paz, Amor E Disco Voador

História do Zé Carioca, de 1973.

Então… papai jurava, para quem quisesse ouvir, que já havia visto objetos voadores não identificados nos céus várias vezes. Era estudioso do assunto, conhecia todos os casos clássicos de OVNIs e afins, e também se mantinha a par de quaisquer novos acontecimentos potencialmente ufológicos.

Segundo ele, o padrão de voo do OVNI que ele mostra no primeiro quadrinho desta história é “típico” desses objetos. Apenas aviões e outros objetos voadores inventados por humanos, ele dizia, se movem em linha reta ou amplas curvas, e o padrão de voo em ângulos agudos seria então o melhor indicativo de que o objeto voador em questão não é deste mundo.

ZC OVNI

Abduzidos, eles são levados para um planeta que parece à primeira vista um paraíso, mas que depois de algum tempo começa a mostrar o seu lado menos agradável. É verdade que os seres biológicos que habitam o lugar não precisam fazer trabalhos pesados, mas o problema é que eles também não mandam nas máquinas que fazem tudo por lá, muito pelo contrário.

A situação, aliás, está mais para o clássico ditado “manda quem pode, obedece quem tem juízo” do que outra coisa. Ser obrigado a dançar e cantar não é diversão e sim trabalho, e o Zé e o Nestor se ressentem. Mais ainda, porque eles nem gostam muito de música POP. O negócio deles é o velho e bom samba do morro.

ZC Popeano

O “Planeta POP” e seus habitantes vestidos de hippies e falando em gíria são, com toda a certeza, a “sacada” mais criativa desta história. Já a “escravidão” sob o domínio das máquinas é um clássico clichê dos filmes de ficção científica e dos quadrinhos. A solução que os nossos heróis encontram para escapar e voltar à Terra também é bastante criativa, e mais criativo (ou desesperado) ainda é o que eles fazem para evitar serem capturados novamente.

Os leitores observadores certamente vão se divertir também com o detalhe da revista em quadrinhos do Mickey, que está no chão perto do Zé e do Nestor, no primeiro quadrinho. Ao que parece, o Zé é fã de quadrinhos, uma ideia que seria mais bem desenvolvida com o aparecimento do Morcego Verde.

O Consumidor Bolou A Mensagem

Esta história do Peninha, de 1979, fecha a Edição Extra 94.

O Pato Eurico é um personagem criado fora do Brasil. Não sei exatamente qual papel ele fazia antes de ser “adotado” por papai, mas por estas bandas ele se tornou o dono de uma agência de publicidade e colega de escola primária do Peninha.

Na agência do Eurico todos os empregados têm de usar uma armação redonda para óculos, igual à dos óculos do próprio chefe, como símbolo de sua “genialidade”, ou capacidade intelectual. Já o comportamento do próprio Eurico é positivamente bipolar, com uma alternância de acessos de rabugice e euforia. Sempre à procura de “gênios” para as suas campanhas, o Eurico contrata e demite todo tipo de maluco, e até o Peninha acaba colaborando com a agência, de vez em quando.

Peninha oculos

O ambiente de algumas agências de publicidade de Campinas era bem conhecido de papai. Volta e meia ele colaborava com uma em alguma campanha, ao mesmo tempo observando os “tipos” que trabalhavam lá, e coletando ideias para suas histórias.

Papai faz aqui (e nas outras duas histórias que publicou com o Pato Eurico) uma crítica ao mercado publicitário de sua época: profissionais medíocres muitas vezes se davam ares de grandes gênios, e alguns eram bastante excêntricos. O ambiente nas agências de publicidade algumas vezes lembrava o de uma casa maluca, e as campanhas se alternavam entre as muito óbvias e as rebuscadas demais.

A graça desta história fica por conta do comportamento do cachorro Trambique, o animal de estimação do Peninha, que não resiste ao aroma da nova ração para cães das Indústrias Patinhas e invade a agência para comer, arrastando o seu dono atrás de si.

Na conversa que se segue, algo que o Peninha diz dá ao Eurico a inspiração para um “jingle” de campanha publicitária, todo rimado e musicado, para a Papinha Patinhas para Cães. Mas quando o cliente é chamado para ver e aprovar a “genial” campanha, ele acaba decidindo que menos é mais, e mudando tudo de novo. E afinal, se era só para colocar uma foto do cão comendo a ração, para quê contratar uma agência de publicidade?

É Proibido Proibir

História do Pena Kid de 1979, publicada originalmente na mesma revista que a história comentada ontem, a Edição Extra 94.

Como nos foi esclarecido por Primaggio Mantovi no 6° Mercado de Pulgas, que aconteceu no sábado passado, um belo dia a turma da redação das infantis resolveu “enxugar” o conjunto de alter-egos do Peninha (Morcego Vermelho, Pena Kid, Pena das Selvas, Pen Hur, Penado, entre outros), e decidiu desencorajar a produção das histórias dos personagens desse grupo que vendiam menos.

O Pena Kid – O Vingador do Oeste – era um deles. O problema é que, juntamente com o Morcego Vermelho, este era um dos personagens mais queridos de papai, que ele criou como uma homenagem aos tempos felizes que passou morando em uma fazenda, quando criança, e brincando de “bangue bangue” com cavalos de cabo de vassoura e revólveres de espoleta.

Papai era também um “pai” para os seus personagens, e ficou bastante magoado com a “proibição”. Para ele, o exercício da criatividade importava mais do que os gráficos de vendas. Quando ele finalmente recebeu permissão para voltar a escrever histórias deste personagem, saiu-se com essa, como um modo de “denunciar” a proibição.

Na Cidade Proibida, tudo é proibido. As proibições são tantas, que deixam os próprios habitantes da cidade sem ação, incapazes de fazer muita coisa contra ou a favor do nosso herói. A confusão causada por tantas proibições conflitantes é hilária por si só. No final, a rebelião do Pena Kid e do Alazão de Pau mostra aos habitantes da cidade o absurdo dessas proibições todas.

O roteiro também se baseia fortemente na “carga cultural” que o nome da história tinha naquele tempo, como um protesto contra todas as formas de repressão, e em especial a do regime militar. “É Proibido Proibir” é também o nome de uma canção de Caetano Veloso, apresentada no III FIC (Festival Internacional da Canção) promovido pela Rede Globo em 1968, e que causou polêmica.

A história está sendo criada pelo Peninha na redação d’A Patada, e as intervenções e palpites do Tio Patinhas também adicionam à graça da coisa toda. Fazendo as vezes de avaliador, o dono do jornal aponta os detalhes que ele acha que não “cabem” no roteiro do Peninha, que não se deixa abalar e vai fazendo modificações cada vez mais engraçadas, transformando as críticas do Tio em inspiração.

Além do cavalo de cabo de vassoura, alguns elementos são recorrentes nas histórias deste personagem, como os já citados palpites do Tio Patinhas, as soluções mirabolantes do argumentista Peninha, e o ocasional comentário/trocadilho “Que pena, Kid”, proferido por algum vilão.

Interessante são as bordas irregulares dos quadrinhos na história desenhada pelo Peninha, que contrastam com as bordas retas, desenhadas a régua, das cenas onde a redação do jornal aparece.

PK lago

 

Os Inomináveis

História de 1979, que nos proporciona uma rara visita ao interior da mansão do Tio Patinhas em Patópolis.

Os bandidos da vez são Bigode e Comprido. O baixinho até que é esperto, mas o segundo é tão burro quanto é grande. Eles se apresentam na redação da Patada como “detetives secretos”, e com isso acabam conseguindo acesso à mansão do milionário, sob pretexto de ajudar a desvendar o sumiço de um relógio.

A trama se baseia principalmente em uma série quase interminável de mal entendidos: o Peninha acredita nos bandidos, e acaba levando os dois à mansão do Patinhas. Donald e o tio acham que os dois são conhecidos do Peninha, e permitem a entrada deles.

E até mesmo o suposto roubo é um grande mal entendido. O clichê dos quadrinhos que dita que “o culpado é o mordomo” também se aplica, mas não do jeito que se poderia pensar.

Interessante é a plaquinha ao lado do portão da Mansão Patinhas. Proibir a entrada de ladrões é fácil, difícil é convencê-los a acatar a ordem.

mansao Patinhas

 

Diga, Espelho Meu…

Em 1982, a Madame Min adquire o Espelho Mágico da Rainha Má da história da Branca de Neve.

O problema é que ele cai na gargalhada, a cada vez que a bruxa repete a famosa frase na frente dele. A Min não é bela, e sabe disso. Então por quê ela se colocaria na frente de um espelho mágico e perguntaria se existe alguém “mais bela” do que ela?

É mais um plano da bruxa para tentar conquistar o Mancha Negra, por quem ela é apaixonada. Mas quando até a Maga Patalógika começa a rir, ela percebe que há algo errado.

Muitos ajustes depois, ela finalmente parte em busca do “Manchinha”, que é retratado mais uma vez com o rosto descoberto, sem o longo manto preto que ele geralmente usa. Deve ser o único bandido que *tira* o disfarce para não ser reconhecido.

O comportamento do Espelho Mágico, por si só, já é hilário. Interessante é que o que era “apenas” um objeto mágico no quarto da Rainha Má acaba se transformando em mais um personagem, com direito até a uma personalidade (e um par de pés, para fugir do machado).

Min espelho

Nesta história vemos também algumas “regras da magia” que são senso comum na maioria dos contos de fadas, como a crença que as frases de um encantamento têm de rimar entre si, e outras mais específicas a esta história em particular, como a noção que quebrar um espelho dá azar até para bruxas.

Min voo

No fim a Madame Min consegue acertar o “feitiço da beleza” e se apresenta ao Mancha, que se apaixona, sim, mas não exatamente pelo novo visual da bruxa. Uma vez bandido, sempre bandido.

Min Mancha

Detalhe para o nome que o bandido escolhe para se passar por mágico no parque de diversões: mácula e mancha são sinônimos.