Morcego Verde Ataca Novamente

Publicada pela primeira vez em 1976, esta história do Morcego Verde é uma boa comédia de erros.

“Sob a influência” das revistas do Morcego Vermelho, e desesperado para bancar o herói e ajudar alguém, o Zé (digo, o Morcego Verde) acaba aprontando a maior confusão no cais do porto.

A participação do super charmoso Soneca, que nesta história está acompanhando o Nestor, é quase um cameo, uma “pontinha” apenas, mas sua presença é uma constante em todas as histórias de papai para este personagem.

soneca limonada

Mas o que torna esta história interessante, não está na trama nem na participação do Soneca. Está nos detalhes.

Um exemplo é a constatação do Zé, no início e no final da história, como uma profecia que se realiza a si mesma, que “os heróis não têm o mesmo cartaz de antigamente”.

Outro detalhe engraçadíssimo está na “estratégia de marketing” e nas plaquinhas ao redor da banquinha do Zé, tanto no início como no final.

Coisas como “ganhe uma flâmula” (algo que foi bastante usado no passado pelo comércio na vida real, até que ficou tão “batido” que foi abandonado) e “só até sábado” (essa muito usada até hoje) são exemplo das campanhas publicitárias mais sem imaginação do mercado. Já “limonada grátis” chega a ser coisa de criança, de tão bobinho.

MV ataca

Mas a maior piada da história, para mim, é a tabela de preços no último quadrinho “rua errada”, sinceramente, “não tem preço”.

Soneca placa

Um Entregador Sob Encomenda

Publicada pela primeira vez em 1974.

A versatilidade do Pato Peninha como “faz tudo” do Tio Patinhas se presta a miríades de tratamentos. Desta vez, ele está atuando como entregador.

Enquanto isso, o Dr. Estigma e o Prof. Gavião estão atrás de roubar os planos dos inventos do Prof. Pardal, que Tio Patinhas ficou de industrializar.

Não deixa de ser uma noção interessante, já que geralmente é o próprio Prof. Pardal quem constrói os seus inventos em sua oficina. Vai ver, foi por isso mesmo que a cobiça dos bandidos foi aguçada: se dessa vez é o Patinhas quem vai manufaturar, é porque é algo importante, grande e valioso.

A trama toda gira em torno de variações sobre o tema entregador-pacote-bandidos, com estes últimos trocando de disfarces o tempo todo. Primeiro, se dizem fiscais. Depois, têm uma “encomenda” para o Patinhas. A relação Peninha/pacote também vai variando: ou ele quebra o conteúdo, ou o Patinhas não aceita a entrega. E aconteça o que acontecer na história, volta e meia alguém é jogado escada abaixo, seja o Peninha com a encomenda quebrada, os bandidos disfarçados, ou o Peninha e a “encomenda” dos bandidos.

peninha ovos bandidos escada peninha pacote

Seus planos malignos são frustrados em todas as tentativas, ora pela incompetência do desastrado Peninha, ora pela desconfiança ou avareza do Tio Patinhas. Mas dentre todos, o único que tem a cabeça no lugar e acaba dando uma dentro é o Donald, que desconfia da situação toda e chama a polícia.

Barbatralha, O Pirata

História publicada pela primeira vez em 1975.

A princípio tem-se a impressão que esta será mais uma história da série “metralhas através da história”, mas não é o caso. O que acontece aqui é que o Vovô Metralha está lendo um livro sobre “os piores piratas de todos os tempos”. A princípio o livro inspira uma brincadeira entre os Metralhinhas 1, 2 e 3, mas depois o sugestionável (e meio gagá) Vovô acaba aprontando a maior confusão, por causa dessa mesma leitura.

barbatralha

As falas do Vovô Metralha nesta história são uma verdadeira coleção de termos náuticos e relacionados. Alguns desses termos são bastante específicos, e só conhecidos mesmo de quem é do ramo, ou de quem já leu muitos livros de aventuras náuticas na vida.

Em outros tempos, quando as crianças liam mais, repetir durante as brincadeiras os termos náuticos (ou termos técnicos de outras áreas) aprendidos nos livros de histórias de aventura fazia parte da diversão, mesmo que as crianças não entendessem exatamente o que elas mesmas estavam dizendo.

Cliquem nos links para ver as definições de algumas das palavras menos comuns usadas por papai nesta história:

Bucaneiro
Andar na prancha
Popa
Virar de bordo
Davante
Escota
Proa
Flibusteiro
Orça
Galeota
Amuras
Boreste
Bolina
Galera

E por aí vai. Como ele mesmo dizia, quadrinhos também são cultura. E ele tentava não apenas divertir, mas também instruir.

vovopirata

Mas a “crueldade” da vez que papai faz com os Irmãos Metralha é a melhor parte da história, a meu ver. Com uma família dessas, a polícia nem tem muito trabalho para frustrar os planos deles. Eles quase que “se prendem” sozinhos.

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Já leste o meu livro? Quem ainda não leu está convidado a conhecer minha biografia de papai, à sua espera nas melhores livrarias: Marsupial – Comix – Cultura 

A História dos Quadrinhos no Brasil, e-book de autoria de papai, pode ser encontrado na Amazon 

A Volta Da Companhia Teatral Peninha

Esta história de 1975 é inspirada numa modalidade artística e teatral que estava muito em moda na época, o “happening” ou, na tradução, acontecimento.

Como toda manifestação artística, essas expressões de vanguarda podem fazer sentido para algumas pessoas (principalmente para os artistas envolvidos, e quase sempre só para eles), e não para outras (como o público leigo, na maioria das vezes) geralmente causando uma estranheza que frequentemente acaba em riso.

Vários estilos artísticos hoje consagrados, como por exemplo o Impressionismo, foram a princípio alvo de riso e até de escárnio por parte de quem não entendeu direito a ideia no começo, incluindo críticos de arte renomados na época. Vem daí o clichê dos quadrinhos, onde toda manifestação artística de vanguarda, seja teatro ou pintura, é retratada como algo risível.

Isso, quando a intenção não é, realmente, fazer graça. O que parece não ser o caso, aqui. Eu diria que neste caso a Companhia Teatral Peninha está fazendo uma leitura intencionalmente cômica de grandes obras trágicas da literatura clássica.

O acontecimento está sendo organizado pelo Peninha, com sua companhia teatral, e o Donald é recrutado de última hora para “interpretar Shakespeare”. O pato fica tão lisonjeado com o convite, que esquece de pedir mais detalhes sobre a coisa toda.

DonaldCTP

É claro que quando ele descobre qual, exatamente, é a participação dele na peça o caldo entorna, para a diversão da platéia.

O interessante é que todas as citações e referências às peças de Shakespeare na história estão corretas.

O Biriba Esteve Aqui

História do Morcego Vermelho, publicada na terceira das edições especiais que lançaram o herói, entre 1973 e 1974.

O Biriba, vilão da história, é uma alusão às histórias do Pafúncio, personagem dos quadrinhos clássicos norte americanos que papai lia quando criança. Deixar um bilhete com os dizeres “o Biriba esteve aqui” era o expediente que o Pafúncio encontrou para justificar fatos injustificáveis em sua casa.

Pafuncio

Outra referência ao nome Biriba tem a ver com a história do futebol no Brasil, que papai certamente também conhecia.

Na história de papai o Biriba é um arrombador de cofres, ladrão de jóias e mestre dos disfarces que espalha bilhetes avisando qual será seu próximo alvo, muitas vezes colando-os às roupas dos mocinhos de forma misteriosa. Depois dos assaltos, deixa mais um bilhete, como se fosse uma assinatura, dando a conhecer que “esteve ali”. O plano e modus operandi deste vilão Biriba é bastante inteligente. Mas o Morcego Vermelho é mais, e acaba solucionando o mistério.

MOV biriba

 

Branca De Nada E Os 7 Metralhas

Mais uma história de 1975, da mesma revista que a história de ontem.

Os Irmãos Metralha estão fugindo da polícia, e acabam indo parar na casa da Madame Min. Em troca de tê-los como ajudantes por um ano inteiro, a bruxa resolve ajudar os bandidos, transformando a si mesma em “genérico de Branca de Neve” e aos Metralhas em 7 Anões para que eles possam escapar do Superpateta.

O interessante é que a magia da bruxa consegue bloquear a visão de raios X do Super, e a bola de cristal tem fios, antenas e comerciais, como se fosse um aparelho de TV.

bolacristal

E se papai adorava maltratar os metralhas, sua vítima favorita era o Azarado 1313. Nesta história a moita sob a qual ele se esconde é de urtigas, e ele acaba transformado no anão Dunga, justamente o que não fala. Nem reclamar do quanto ele é azarado, no final, ele pode.

Dessa vez os bandidos conseguem enganar a polícia e até o Superpateta (que se confunde todo com os vários nomes das princesas dos contos de fadas, em mais um clichê dos quadrinhos que papai usava bastante), mas quando tentam usar o disfarce de anões para bancar os espertos e continuar praticando seus crimes, descobrem que com a bruxa não se cava farinha.

minmetralhas

Pois é, nem sempre os mocinhos e a polícia se dão bem nas histórias de papai, mas uma coisa é certa: os bandidos sempre se dão mal no final, de um modo ou de outro.

A Volta Do Morcego Verde

Segunda história do Morcego Verde, de 1975.

O Zé finalmente consegue guardar todas as suas revistas do Morcego Vermelho dentro de um armário… ou quase. Novamente soterrado por elas quando o móvel feito de tábuas se quebra, o Zé resolve sair por aí fantasiado para combater o crime.

O poster autografado do Morcego Vermelho na parede mostra que o Zé é realmente muito fã dele. Mais do que isso, mostra que o Morcego Vermelho sabe que o Zé é seu fã. Aliás, esse poster ainda pode estar guardado em algum canto da casa do Zé, só esperando ser achado, não pode? (Só uma dica…) 😉

MOV poster

A participação do Soneca, nesta história, é muito importante para livrar o Zé de uma encrenca de verdade, e permitir ao nosso herói dar a volta por cima e finalmente prender os bandidos.

soneca 1

O Morcego Verde pode realmente ser muito mais trapalhão que o Vermelho, mas o Zé, assim como o Peninha, é muito inteligente. A partir do momento em que ele descobre o tamanho do erro que estava cometendo, o Zé consegue dar a volta por cima e usar seu erro para virar o jogo.

Mas eu realmente preciso abrir o meu coração: não consigo aceitar esse negócio de “rivalidade” e “duelo” entre os Morcegos, como está sendo feito nas histórias atuais. Como pode ser claramente visto nas histórias de papai para esses personagens, o Zé Carioca e o Peninha se conhecem pessoalmente, são amigos. O Zé é super fã do Morcego Vermelho, a ponto de escrever cartas para o seu fã clube em Patópolis, e receber de volta um poster autografado pelo próprio herói vermelho, como cortesia.

Sinceramente, eu só aceitaria essa tal aparente rivalidade, se isso fosse algum plano secreto dos dois Morcegos para tentar convencer os amigos do Zé e o povo do Rio de Janeiro de que o papagaio e o Morcego Verde não são a mesma pessoa. E peço humildemente ao amigo Arthur Faria Jr. que considere essa possibilidade com carinho.

O Morcego Verde

Ao que parece, o sucesso do Morcego Vermelho foi tanto, que em 1975 até o Zé Carioca estava lendo os gibis, e se tornou fã incondicional do Morcego de Patópolis.

O Zé já começa a história tendo de enfrentar um certo preconceito por parte da turma, que acha que ele está doente, ou coisa parecida. Tenho certeza que meus amigos fãs de Rock entendem o que é isso… 😉

Mas quando o bandido Joca B.B. ataca, o Zé resolve tomar uma atitude, e “dar” um herói ao Rio de Janeiro.

MV

O Morcego Verde não tem armas, não tem equipamentos, nem sequer tem molas nos pés, e a máscara, feita de um velho par de óculos, também não engana ninguém. A única coisa que o Verde tem em comum com o Vermelho é o jeitão atrapalhado e a vontade de ser um herói e lutar contra o crime.

Joca BB

Mas pelo menos seu ajudante, o cachorrinho Soneca, é muito útil quando chega a hora de realmente lutar com o bandido.

soneca

Bandido esse, aliás, que cavalga um cavalinho de madeira e cabeça de meia, no melhor estilo Pena Kid, o Vingador do Oeste. Pode-se até dizer que, do mesmo modo como o pequeno caracol com antena de TV era a marca registrada do Renato Canini, o cavalinho de cabo de vassoura era a de papai.

A graça da história, além do surgimento do Morcego Verde, está na perseguição, na luta do herói que não acerta uma e só apanha com o bandido, que de um modo ou de outro acaba preso no final.

A Volta Do Morcego Vermelho

História de abertura do segundo Especial do Morcego Vermelho, de 1973, na qual vemos a aparição de alguns personagens novos: a Quadrilha Fantasma e o Ratchinho.

A trama começa com uma piada daquelas bem velhas (e já era velha naquele tempo), que faz rir justamente porque ninguém mais se lembra dela.

O Peninha volta de uma longa viagem, só para encontrar Patópolis às voltas com a Quadrilha Fantasma, que está praticando uma onda de assaltos e roubos.

Interessante é a sofisticação da “técnica” da quadrilha para evitar ser presa, que num primeiro momento deixa o Morcego bastante confuso. Tanto, que a quadrilha começa levando a melhor: escapa à prisão repetidas vezes, bota fogo na capa do nosso herói, entre outras afrontas.

MOV fogo

Mas de um modo geral o Morcego tira lições de tudo o que está acontecendo, e aproveita para se aperfeiçoar, entre outras coisas pedindo ao Prof. Pardal uma capa à prova de balas.

MOV capa

A piada que se repete em quase todas as histórias desta fase do Morcego Vermelho é a da multa de trânsito: o veículo “sapo-morcego”, por ser tão esdrúxulo, vive sendo multado, cada vez por um motivo diferente.

E no meio da confusão, o Morcego é “adotado” por um companheiro de aventuras, um rato do depósito de lixo que passa a acompanhar e ajudar o herói como pode, e que mais tarde ganhará o nome de Ratchinho.

MOV rato

Todo herói que e preza tem o seu “sidekick”, o ajudante e companheiro de aventuras. O Batman tem o Robin, o Capitão América tem o Bucky Barnes, etc.

Do mesmo modo, o Morcego Vermelho tem o Ratchinho, e o Morcego Verde tem o Soneca, dois meiguíssimos ajudantes animais que muito infelizmente acabaram sendo deixados de lado e esquecidos por outros argumentistas.

Um Orangotango Em Patópolis

Esta história foi publicada ela primeira vez em dezembro de 1973, no segundo de três especiais do Morcego Vermelho que foram lançados com mais ou menos 6 meses de intervalo, entre meados de 1973 e meados de 1974.

O personagem já foi lançado como um grande sucesso, com toda a pompa e circunstância, numa ação de marketing elaborada e maciça. Desde o início já se sabia, na redação, que este estava destinado a ser um dos maiores personagens Disney brasileiros, senão o maior de todos, rivalizando até mesmo com o próprio Zé Carioca.

A história já começa com a maior bagunça, numa discussão entre Donald, o Morcego e uma velhinha, motivada pela imprudência do herói ao operar seu pula-pula morcego no meio do tráfego. Mas eu meio que me sinto na obrigação de defender o Morcego, já que, pelo menos, ele estava dando os seus pulinhos sobre a faixa de travessia de pedestres.

O resto da confusão fica por conta da notícia, que vai se espalhando, sobre um orangotango fugido do zoológico. Enquanto caça o tal bicho, o Morcego acaba prendendo “por acaso” o Metralha 1313, que havia acabado de fugir da cadeia e se escondido na lata de lixo morcego.

Papai usava com frequência o trocadilho entre entalado e enlatado, para descrever qualquer um que ficasse preso nela, incluindo o próprio dono.

Quando o próprio Tio Patinhas, informado pelo Morcego, publica em seu jornal que há um orangotango nas ruas, o pânico finalmente toma conta da cidade inteira.

E então ficamos sabendo que há relatos de gente que afirma ter visto o animal em lados opostos da cidade de Patópolis ao mesmo tempo, em bairros chamados “Lupa” e “Pinha”. Isso me faz lembrar de bairros na cidade de São Paulo, Lapa e Penha.

MOV panico

Juntamente com o “Viaduto do Café com Leite” (Viaduto do Chá) que vimos na história do Peninha “Nem Prática Nem Habilidade“, fico bastante convencida de que papai associava fortemente a cidade de Patópolis com a cidade de São Paulo, em contraposição ao Rio de Janeiro do Zé Carioca.  (Também há uma Lapa e uma Penha no Rio de Janeiro, mas elas não estão em lados opostos da cidade)