História do Zé Carioca, de 1981.
Pescar, mais do que um esporte, é uma arte e uma aventura. Você sabe como vai chegar à beira da água, mas nunca como, exatamente, estará quando sair de lá.
O fato é que quanto maior e mais velho o peixe, mais difícil é capturar o animal, especialmente com técnicas mais simples de pescaria como vara, linha e anzol. É como no caso do ditado que diz que “macaco velho não bota a mão em cumbuca”: o bicho já passou por tantas encrencas (e escapou de todas, é claro) que conhece todos os perigos e todos os truques, e não se deixa mais capturar.
E algumas espécies de peixes são mais espertas e difíceis de pegar que outras, como as Carpas e as Trutas. Estas últimas, aliás, são tão espertas que seu nome virou uma espécie de gíria para “enganação”, ou “engodo”. A expressão “sai que é truta (ou treta)” é uma advertência contra uma possível cilada.
Papai aqui fala de uma carpa em uma lagoa, mas a referência é a um antigo conto sobre “aquela velha truta” que pescador nenhum consegue pegar, e que, ao final da aventura, parece estar rindo do pobre coitado que ousou enfrentá-la. Nós lemos esta história há décadas em alguma já velha edição do “Readers Digest”, se não me falha a memória, mas não lembro muitos detalhes.
Mas a história, aqui, é basicamente a mesma: são as várias e acidentadas tentativas de pegar um peixe enorme que sempre consegue escapar do anzol, de maneiras cada vez mais espetaculares, para a diversão do leitor.
O nome da lagoa, “Pirajadaí”, pode ter algo a ver com a localidade de Pirajuí, no Estado de São Paulo, mas é mais provavelmente um simples jogo de palavras. “Pirar”, em gíria, quer dizer “sair”, ou fugir (como em “vou pirar daqui”). Seria então uma advertência para que os dois saiam logo dali, porque o lugar “não está para peixe”.
Já a expressão “pescar em águas turvas”, aqui usada como título, é um velho ditado português que significa “procurar tirar proveito/vantagem de uma situação confusa ou difícil”. Mas isso, como a carpa desta história poderia dizer, é o que veremos.
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