O Planeta Mithos

História do Fantasma do Espaço, escrita e publicada em 1977 na revista Heróis da TV, primeira série, Ano III, Número 29.

Na semana em que a existência de um planeta “semelhante à terra” foi anunciada, esta história vem bem a calhar. A lista de trabalho de papai mostra que, antes de escrever a versão final, ele fez uma pesquisa e resumo com a proposta da trama, e só depois que a proposta foi aprovada escreveu a história como nós a conhecemos.

Em um planeta que consta como “inabitável” nos mapas estelares, o Fantasma do espaço e seus ajudantes encontram uma atmosfera convenientemente rica em oxigênio, rios, montanhas, florestas, e tudo o mais necessário à vida. Estariam os mapas errados? Ou será que algo muito estranho estaria acontecendo?

Descendo à superfície para investigar, eles começam a encontrar diversos seres oriundos da mitologia grega, como centauros, faunos, e até um ciclope e a temida Medusa. O nome “Mithos” é uma referência a mitologia, é claro, bem ao estilo de papai, aliás.

Mithos

Como, exatamente, o planeta foi “terraformado” permanece um mistério, mas o nome do vilão responsável pela proeza é Mutor. Ele é, portanto, um “mutador” (ou “mudador”), um especialista em mutações e ilusões armado com poderosos “raios mutantes” de natureza tecnológica. Nada do que ele cria dura muito tempo, mas a espetacular explosão do planeta inteiro, no final, é algo bem real.

Mithos1

Ainda em 1977 papai escreveu uma história parecida para o personagem Falcon, “As Garras do Abutre”, sobre um vilão que escraviza pessoas com um raio hipnotizante em uma ilha misteriosa, e em 1981 ele voltaria ao tema com a história “Perigo na Ilha”, do Capitão Valente, ambas já comentadas aqui.

Esta história também tem semelhanças com “Os Doze Trabalhos do Morcego Vermelho” e “É de Arrepiar os Cabelos”, também já comentadas aqui, entre outras. Como já deu para perceber, o tema é um dos favoritos dele.

Mithos2

 

A diferença, aqui, é que ele trocou a ilha deserta por um planeta inteiro, e o aviador aventureiro por um astronauta, adicionando uma pitada de mitologia para “temperar”. Já bruxaria e tecnologia são certamente intercambiáveis nas histórias em quadrinhos, ambas com efeitos semelhantes.

****************

Quem ainda não leu está convidado a ler minha biografia de papai, à espera de vocês nas melhores livrarias, não percam:

Marsupial: http://www.lojamarsupial.com.br/ivan-saidenberg-o-homem-que-rabiscava

Comix: http://www.comix.com.br/product_info.php?products_id=23238

Cultura: http://www.livrariacultura.com.br/p/ivan-saidenberg-o-homem-que-rabiscava-15071096

Monkix: http://www.monkix.com.br/serie-recordatorio/ivan-saidenberg-o-homem-que-rabiscava-serie-recordatorio.html

Perigo Na Ilha

História do Capitão Valente, de 1981, publicada na Revista Pic-Pic número 18, com desenho de Claudino e arte final de Átila.

A revista-brinquedo trazia também os modelos em papel cartão de um Mirage 103 E e Mustang P-51, para as crianças montarem.

Já a aventura do Capitão é uma adaptação resumida (em 4 páginas) de uma história (de 22 páginas) que papai escreveu (sob o nome de mamãe) para o personagem Falcon, da Editora 3, em 1977. A trama é basicamente a mesma: em busca pelos pilotos de sua esquadrilha, que sumiram ao sobrevoar uma ilha deserta e rochosa, ele mesmo é atraído até lá, com avião e tudo, por uma força misteriosa. Uma vez no chão, o Capitão Valente é feito prisioneiro por seus próprios companheiros, que estão sob o efeito de um “raio do controle mental” desenvolvido por um cientista maluco.

Apesar da diminuição brutal no número de páginas, os principais elementos da primeira história continuam aí: o cientista maluco, o raio que atrai aeronaves, o aparelho que controla a mente, a tentativa de fazer o herói passar, ele também, pelo aparelho, e também a explosão final da ilha inteira, de onde os heróis escapam por um triz.

Aqui vemos, além da já conhecida e reconhecida capacidade de pesquisa de papai, uma também incrível capacidade de síntese. A história mais curta “funciona” tão bem quanto a mais longa, sem perder nada em relação à outra. Além disso, há tanta ação em meras 4 páginas, que a história até parece mais longa.

E acima de tudo, este é um bom exemplo de como papai às vezes “reciclava” ideias, e as reaproveitava, com algumas adaptações, sempre que possível. Para um artista que produzia com a intensidade dele naqueles tempos, nos quais era super requisitado para vários projetos ao mesmo tempo, esta era até mesmo uma “técnica de sobrevivência”

CV Ilha

As Aventuras de Falcon

Em 1977 a empresa fabricante de brinquedos Estrela comprou os direitos de uso de um boneco, brinquedo para meninos, que no exterior era conhecido como G.I. Joe, e que aqui foi chamado de Falcon.

Para promover o brinquedo, a empresa começou uma agressiva campanha de marketing que incluiu até mesmo a publicação de alguns números de uma revista de histórias em quadrinhos, pela Editora Três. Essa campanha parece ter sido tão ambiciosa, na verdade, que eles resolveram contratar simplesmente o melhor argumentista de quadrinhos daqueles tempos para pelo menos dar o “pontapé inicial” no personagem.

O problema é que esse argumentista, Ivan Saidenberg, já era contratado da Editora Abril e seu contrato o impedia de assinar trabalhos para outras empresas do ramo. Mas papai gostou do desafio, não era avesso a um “freela” de vez em quando, e tinha soluções criativas para contornar as limitações de seu contrato com a Abril.

Uma delas era usar o nome de mamãe, Thereza Saidenberg, para assinar algumas histórias. A explicação era que, naqueles tempos de governo militar, não era bom usar um nome completamente falso. Se os militares implicassem com alguma coisa, poderia haver problemas. Mamãe então “emprestou” seu nome algumas vezes, enquanto escrevia, ela também, histórias em quadrinhos (principalmente para a Turma do Pererê, do Ziraldo) e artigos para os jornais de Campinas, entre outras coisas.

Assim, papai criou duas histórias para a revista número 1 do boneco transformado em personagem de quadrinhos, tendo recebido da Editora Três apenas um breve histórico do personagem e ficando com bastante liberdade para criar em cima. O desenhista deste projeto é o Antonino Homobono e o mini poster central da revista, mostrando Falcon em ação, é de Michio Yamashita.

O Falcon de papai tem um pouco de soldado, especialista em missões de sobrevivência na selva, um pouco de agente 007, a inventividade e o senso técnico de um McGyver, a habilidade nas artes marciais de um Bruce Lee, e a inteligência e sagacidade do Zorro.

Mas se os quadrinhos Disney podem ser chamados de “quadrinhos comerciais”, o que dizer de uma publicação criada com o firme e exclusivo propósito de vender brinquedos? Papai acreditava que esse projeto seria algo efêmero e fez algo simples, aventuras que não trazem nada de novo para um personagem que também não traz nada de novo, realmente. Esse tipo de “super soldado” era a norma nos quadrinhos americanos desde a segunda guerra mundial, e esse foi um tema que papai trabalhou bastante aqui no Brasil. E é também por isso que as histórias em si têm uma forte influência das tramas de guerra, aventura e mistério que papai escrevia nos anos 1960.

Nem por isso deixou de fazer um bom trabalho. Todos os elementos de uma boa história em quadrinhos estão aí, com as doses certas de ação, aventura, suspense e humor, e até um pouquinho de romance no final.

A pista que papai deixou para trás, e que nunca me deixou com dúvida alguma sobre a real autoria dessas histórias, é o fato que todos os personagens têm alguma varição de um nome de pássaro em seu nome. Assim, temos Falcon (Falcão), os coadjuvantes do herói Vinicius Harpe (Harpia, ou Gavião Real) e Julius Hawk (outro nome para Falcão), e até os vilões, como o Vultur (de vulture, abutre ou urubu) e seu ajudante Bird (pássaro). Na segunda história da revista, que se passa no Brasil, os personagens principais têm por sobrenome Parrot (papagaio, em inglês) e o vilão é o Pedro Gavião.

Na primeira, estamos às voltas com um cientista maluco que quer dominar o mundo com armas eletromagnéticas e um raio de controle da mente. Seu único erro foi sequestrar o Falcon e oferecer a ele o “lado negro da força”, que nosso herói recusa, é claro. Frustrados os planos do vilão, é acionado um mecanismo que faz uma ilha toda no arquipélago do Havaí ir pelos ares, segundos depois que os heróis conseguem evacuar os últimos escravos da máquina de controle mental do vilão.

Falcon Abutre

A segunda história é mais simples, uma aventura nas selvas no norte do Mato Grosso, que envolve uma série de atentados contra um pesquisador e sua filha, uma disputa secreta por uma mina de diamantes, e um beijo final da mocinha.

Falcon Selva

Mais detalhes sobre esta publicação podem ser encontrados no blog do meu amigo Quiof.