O Feitiço Quaquaquá!

História da Maga Patalójika, de 1983.

A bruxa realmente não perde as suas manias. Além da obsessão de sempre pela moedinha número um, ela também não perde o hábito de querer usar feitiços do bem para o mal, como em “Nas Malhas da Magia”, de 1981. E isso, é claro, sempre tem um preço amargo para ela.

O feitiço do Mago Tantã, desta vez, na verdade está mais para invenção no estilo do Professor Pardal. Ou então, algo puxado mais para a alquimia do que para a confecção de poções. Em todo caso, como já vimos antes (em “Dormindo no Ponto”, de 1974), o gás do riso existe, e se chama Óxido nitroso. Ao que parece, ele tanto pode fazer rir como dormir.

Mas a semelhança com o Professor Pardal não para por aí: a intenção do bruxinho do bem de fazer as pessoas rirem tem grande semelhança com a do inventor patopolense em “O Espelho das Gargalhadas”, de 1976.

Essa é, também, a ambição de papai, mas ele sabia que não se pode simplesmente obrigar o leitor a rir. É preciso um pouco mais de tato. Afinal, muito de uma coisa boa também pode ser uma coisa ruim.

**************

Já leste o meu livro? Quem ainda não leu está convidado a conhecer minha biografia de papai, à sua espera nas melhores livrarias: Marsupial – Comix – Cultura 

A História dos Quadrinhos no Brasil, e-book de autoria de papai, pode ser encontrado na Amazon 

Visitem também o Sebo Saidenberg, na Amazon. Estou me desfazendo de alguns livros bastante interessantes.

Ópera-Rock Rural

História da Companhia Teatral Peninha, de 1975.

Não satisfeita em azucrinar os cidadãos de Patópolis com suas – aham – “encenações” sem pé nem cabeça, a CTP resolve levar sua, bem, “arte” à área rural da cidade em um palco montado na carroceria de um caminhão. Os resultados serão hilários, é claro, mas não da maneira pretendida pelos personagens.

O teatro de rua inspirado em tradições que remontam à Idade Média, inclusive com o costume do show itinerante, é o tema central da CTP. A piada interna, com a saudação em acorde de Dó maior (um “olá” em Dó, outro em Mi e outro em Sol), também é uma marca registrada da trupe.

ctp-rock

Papai junta aqui vários conceitos tomados das artes performáticas e os combina em algo que parecia insólito na época, mas que foi se tornando cada vez mais comum ao longo das décadas. Como sempre, ele estava uns 30 anos à frente de seu tempo.

Como eu disse, o conceito do teatro de rua itinerante remonta à Idade Média. Dessa tradição nasceu o conceito do Circo, e hoje em dia temos também grupos de pessoas que levam o cinema aos confins do Brasil, como o CineSolar e o TelaBrasil, por exemplo.

Já a Ópera é um tipo de entretenimento que combina música e teatro e que se popularizou nos séculos XVII e XVIII. A Ópera Rock é algo inventado nos anos 1960, e o Rock Rural também existe e tem seus principais representantes no Brasil em Sá e Guarabyra a partir dos anos 1970. Essa pode, muito provavelmente, ter sido a inspiração para esta história.

Mais recentemente temos artistas como o cantor Meno e sua “Ópera Rock Caipira”, e até mesmo a banda de rock Jethro Tull enveredando pelo conceito de Ópera Rock Rural.

ctp-rock1

Outra piada interessante da história é a referência a “Rock” como se fosse uma pessoa, um “artista de cinema”. Essa é uma referência à canção “Esse Tal de Roque Enrow“, de Rita Lee, do álbum “Fruto Proibido”, de 1975. E a canção é uma referência ao galã Rock Hudson, que era famoso nos anos 1950 e 1960, exatamente na época em que o estilo musical seu “xará” começou a ficar popular. Isso deu um “nó” na cabeça de alguns pais mais caretas, que não conseguiam entender pelo que era, exatamente, esse fanatismo todo de seus filhos.

***************

Já leste o meu livro? Quem ainda não leu está convidado a conhecer minha biografia de papai, à sua espera nas melhores livrarias: Marsupial – Comix – Cultura 

A História dos Quadrinhos no Brasil, e-book de autoria de papai, pode ser encontrado na Amazon 

A Moeda Número Um Do Patinhas Não É Minha

História da Maga Patalójika, de 1978.

A base para esta história é uma reflexão sobre o significado e a psicologia dos amuletos e talismãs em geral: afinal de contas, esses objetos têm e irradiam poderes mágicos por si sós, ou somos nós que projetamos neles os nossos anseios, em mais um caso de “profecia auto-realizável”?

É isto que vamos investigar hoje enquanto o Patinhas está às voltas com a Maga, que veio atrás dele para tentar roubar sua moeda número um. A bruxa joga sujo e acaba bestificando o quaquilionário. Mas, apesar de tudo, não consegue encontrar a moeda de maneira nenhuma. Não está na maleta, nem nos bolsos, e muito menos escondida dentro do guarda-chuva. É sabido que o pato não se separa dela por muito tempo. Sendo assim, ela precisa estar por perto, mas, onde?

maga-minha

Com o Patinhas desmaiado em uma cama, o Donald é convocado a comandar o império comercial do tio em seu lugar. É aí que a influência mágica da moedinha começa a se manifestar: a cada vez que ele sai de casa para ir à Caixa Forte, os negócios começam a ir desastrosamente mal. Quando ele volta para casa, em estado de choque, as coisas se resolvem quase por si sós. Diante da situação os patos, que no início estavam bastante céticos quanto ao amuleto, começam até a acreditar nos poderes da moeda e concluem que ela só pode estar dentro da casa.

maga-minha1

O pato muquirana tem por certo que a moeda dá sorte. Afinal, foi ele quem criou a coisa toda. A Maga tem mais do que certeza de que o objeto é mágico, a ponto de não poupar esforços para tentar roubá-lo. O leitor já viu inúmeras provas dos poderes do amuleto. Mas o desfecho da trama faz com que os sobrinhos continuem na dúvida, para a diversão do leitor.

Já o título da história é inspirado em uma canção de Caetano Veloso chamada “Superbacana“, que faz alusão a vários heróis dos quadrinhos, do Super Homem ao Superpateta.

****************

Já leste o meu livro? Quem ainda não leu está convidado a conhecer minha biografia de papai, à sua espera nas melhores livrarias: Marsupial – Comix – Cultura – Monkix 

A História dos Quadrinhos no Brasil, e-book de autoria de papai, pode ser encontrado na Amazon 

 

A Volta Do Pássaro Vo-Du

História do Pato Donald e Sobrinhos, publicada em 1982, mas escrita em 1978.

Ao que parece, papai fez um bom número de variações sobre este tema da “estatueta que dá azar”, de 1973 a 1979. Tantas no final, que a última só foi publicada anos depois.

Esta história é a continuação de uma história estrangeira chamada “Hoo-doo Who?” (O Pássaro Vo-Du), publicada pela primeira vez no Brasil em 1973. Ao que parece, a lenda urbana da “estatueta maldita” comprada por acaso por algum desavisado numa loja de antiguidades, é conhecida em vários países. Por sorte (rs), tenho em minha coleção a revista com a história original, porque ela contém também uma história de papai (O Barão, o Porão e a Assombração – já comentada aqui).

A história basicamente se repete, com algumas variações. A loja onde o Gastão ganha a estatueta de presente é a mesma, e a magia nefasta do pássaro tem regras bem estabelecidas, que papai segue à risca: criada por um feiticeiro de nome vagamente islâmico (Abdula-Mula, de Simbad), dará azar ao seu dono até que outra pessoa a leve por sua própria vontade. Essa pessoa passará, então, a ter má sorte, e assim por diante. O pássaro de pedra, a julgar por sua cor cinza, parece mudar de expressão e abanar o rabinho, em certas situações. O leitor atento vai, ao longo da história, perceber isso.

vodu patinhas

Já que na história original ele some de repente, causando amnésia nos Patos, papai então cria uma nova “regra da magia” para ela: a amnésia é temporária, e só atinge a pessoa na qual a estátua “está interessada”. Além disso, quando ela reaparece, sempre traz azar em dobro.

Desse modo, o Gastão passa a primeira parte da história sendo repelido pelos outros, que se lembraram do objeto, enquanto o próprio não lembra de já tê-la visto. Depois papai insere na história o Tio Patinhas, que não a conhece, e parece ficar hipnotizado por ela. Tanto, que não dá ouvidos aos meninos e a leva com ele.

O azar que a coisa dá é tanto, que o Gastão chega com ela em casa só para levar uma surra de um gorila que fugiu do “Circo Orlando o Feio” (uma referência ao Circo Orlando Orfei), e que responde pelo nome “Ernesto”. Esse nome não é coincidência: é uma referência ao nome do General-Presidente de plantão em 1978, época em que papai escreveu a história em primeiro lugar, Ernesto Geisel.

vodu gorila ernesto

Já o azar que o Tio Patinhas tem é a invasão da Caixa Forte pela Maga Patalójika, que num primeiro momento consegue até se apoderar da Moedinha Número Um. É só quando ele a lança pela janela, numa tentativa desesperada de acertar a bruxa, que a estatueta desaparece antes mesmo de atingir o chão, levando seu azar com ela e permitindo a recuperação da Número Um, além de causar a esperada amnésia em todos.

vodu maga