A pedidos, abro as atividades deste ano com uma história do Zé Carioca publicada originalmente em 1980.
Consta que papai foi o primeiro a levar para os quadrinhos este conceito de se “puxar” energia elétrica por meio de ligações improvisadas de uma casa a outra, muito comum nas favelas em geral desde aquele tempo e até os dias de hoje. Na época em que esta história foi escrita papai costumava visitar a favela do Morro do Pavão, próxima à redação de O Pasquim, onde conversava com os moradores e colhia ideias para as histórias do papagaio, e onde certamente ficou sabendo desta popular “solução energética”.
Assim, para fornecer energia para a sua discoteca, inspirada no estabelecimento paulistano/carioca quase homônimo de propriedade de Ricardo Amaral (aqui chamado de Ricardo Amarelo), o Zé aceita a oferta do Pedrão e faz um “gato” de energia da casa do amigo até o seu estabelecimento comercial. Até aí, tudo bem, se o Pedrão não tivesse puxado a sua energia do Afonsinho, que puxou a luz de um tal de Cebola, que estava usando a eletricidade de um certo Mané. Ou seja, algo assim não pode dar lá muito certo.
A “arquitetura” da discoteca do Zé é inspirada numa discoteca ao ar livre que ao que parece existiu no Morro da Urca, mas o detalhe interessante é que o lugar onde está localizada a Vila Xurupita, nesta altura do campeonato, não se chama mais “Morro” do Papagaio, mas sim “Bairro” do Papagaio. Com o sucesso das histórias brasileiras no exterior, a direção da redação resolveu transformar a favela em bairro popular, para não perpetuar estereótipos “lá fora”.
Com a previsível queda de energia provocada pela sobrecarga das extensões clandestinas o Zé quase vê seu sonho de se tornar o “rei da noite carioca” ruir na sua frente (e quem disse que ele não gosta de trabalhar? Ao longo dos anos, o personagem mostrou o seu lado empreendedor muitas vezes). Mas quem tem amigos baladeiros nunca está sozinho, e uma ideia criativa salva a noite e a festa, ainda por cima sem precisar de energia elétrica, resgatando as tradições brasileiras frente à “americanização” proposta pela discoteca.