Papagaio Disco Clube

A pedidos, abro as atividades deste ano com uma história do Zé Carioca publicada originalmente em 1980.

Consta que papai foi o primeiro a levar para os quadrinhos este conceito de se “puxar” energia elétrica por meio de ligações improvisadas de uma casa a outra, muito comum nas favelas em geral desde aquele tempo e até os dias de hoje. Na época em que esta história foi escrita papai costumava visitar a favela do Morro do Pavão, próxima à redação de O Pasquim, onde conversava com os moradores e colhia ideias para as histórias do papagaio, e onde certamente ficou sabendo desta popular “solução energética”.

Assim, para fornecer energia para a sua discoteca, inspirada no estabelecimento paulistano/carioca quase homônimo de propriedade de Ricardo Amaral (aqui chamado de Ricardo Amarelo), o Zé aceita a oferta do Pedrão e faz um “gato” de energia da casa do amigo até o seu estabelecimento comercial. Até aí, tudo bem, se o Pedrão não tivesse puxado a sua energia do Afonsinho, que puxou a luz de um tal de Cebola, que estava usando a eletricidade de um certo Mané. Ou seja, algo assim não pode dar lá muito certo.

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A “arquitetura” da discoteca do Zé é inspirada numa discoteca ao ar livre que ao que parece existiu no Morro da Urca, mas o detalhe interessante é que o lugar onde está localizada a Vila Xurupita, nesta altura do campeonato, não se chama mais “Morro” do Papagaio, mas sim “Bairro” do Papagaio. Com o sucesso das histórias brasileiras no exterior, a direção da redação resolveu transformar a favela em bairro popular, para não perpetuar estereótipos “lá fora”.

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Com a previsível queda de energia provocada pela sobrecarga das extensões clandestinas o Zé quase vê seu sonho de se tornar o “rei da noite carioca” ruir na sua frente (e quem disse que ele não gosta de trabalhar? Ao longo dos anos, o personagem mostrou o seu lado empreendedor muitas vezes). Mas quem tem amigos baladeiros nunca está sozinho, e uma ideia criativa salva a noite e a festa, ainda por cima sem precisar de energia elétrica, resgatando as tradições brasileiras frente à “americanização” proposta pela discoteca.

Cespinho e Paulistinha

Em algum momento das décadas de 1970/80 (algo como final de uma, início da outra, e as evidências apontam para o ano de 1979), A CESP (Companhia Energética de São Paulo) e a CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz) encomendaram, juntas, um gibi promocional ao Departamento de Publicações Especiais da Abril.

Como de costume, a editora montou uma equipe composta pelos seus melhores para o projeto. Pelo menos uma fonte que eu vi no Google cita Waldir Igayara como criador dos personagens (que me lembram, aliás, os androides R2D2 e C3PO, de Guerra Nas Estrelas, de 1977), os argumentos das histórias ficaram a cargo de Papai, Julio de Andrade Filho e Paulo Paiva, e os desenhos são de Carlos Edgard Herrero. Também como de costume, não há créditos claros para nenhum dos artistas envolvidos, e é portanto bastante difícil saber exatamente quem fez o quê.

Segundo a lista de trabalho de papai, em 1978 ele escreveu as histórias para as partes de Recursos Naturais e Recursos Humanos desta revista.

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A revista em si pretende ser uma aula completa sobre como o Governo do Estado de São Paulo produzia e distribuía energia elétrica naquele tempo, incluindo planos para o futuro. Começando com um muito breve histórico das duas empresas, as histórias vão explorando vários aspectos da indústria energética, citando as usinas hidrelétricas, principalmente, mas também outras fontes fósseis e renováveis, indistintamente e de modo muito vago (algumas das quais até hoje ainda não são bem aproveitadas), como a energia das ondas do mar ou o aproveitamento dos gases provenientes de depósitos de lixo.

Como nas encomendas dos ministérios militares, já citadas aqui, os roteiros das várias histórias seguem um esquema bem preparado pelo cliente e recheado de fatos, mapas e até uma fotografia aérea de uma usina hidrelétrica, que em alguns momentos “engessa” bastante a coisa toda. É claramente uma peça promocional, sem pretensão alguma de ter um roteiro ou uma trama.

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São 32 páginas e 6 histórias, a saber: A Energia (uma introdução), Engenharia e Construções, Transmissão, Distribuição, Recursos Humanos (uma peça de recrutamento de pessoal) e Recursos Naturais (que hoje em dia seria chamada “responsabilidade social e ambiental”). Entre uma história e outra há também joguinhos temáticos, como caça palavras e jogo dos cinco erros.

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