A Copa é Nossa! (Partes 1 e 2)

Histórias da Turma do Gordo, de Ely Barbosa, publicadas pela Editora Abril na revista “O Gordo” número 25 em julho de 1988. As histórias em si foram escritas em janeiro de 1988.

Naquela época estava-se comemorando os 30 anos da Copa do Mundo de 1958, ocasião na qual a Seleção Brasileira conquistou seu primeiro título mundial de futebol.

A primeira parte é uma verdadeira aula de História, com o Tio Bembém mostrando ao seu sobrinho Gordo, no videocassete, os melhores momentos de todos os jogos da Seleção na Copa de ’58 e comentando cada partida, enquanto o menino toma tanto sorvete que acaba literalmente congelado.

Essa, aliás, era uma lenda urbana de Campinas. Contava-se a bocca chiusa nos corredores das escolas uma história sobre um homem que teria tomado sozinho um latão de 5 litros de sorvete, e morrido congelado de dentro para fora. Para mim, mais parece uma adaptação da velha proibição de comer os caroços das frutas, sob pena de uma árvore crescer dentro da barriga do “infrator”

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Enquanto a primeira história do par é baseada em pura realidade, a segunda toma uma guinada radical e parte para a total fantasia.O Gordo leva uma forte bolada na cabeça e acorda… em 1958! Em campo! Na final da Copa da Suécia! E jogando na Seleção Brasileira!

É a realização do sonho de qualquer menino fanático por futebol, que se imagina jogando partidas importantes lado a lado com seus maiores ídolos.

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Copa Ou Cozinha?

História do Zé Carioca, de 1982.

Renomeada depois para “O Jogo Da Tevê”, ela aparece na lista de trabalho de papai no início de 1982, sob a classificação “complemento”. Papai provavelmente se esqueceu de anotar logo quando a escreveu, e só a inseriu na lista depois que ela voltou para reformulação. (E convenhamos, mas que mudança de nome mais boba… Quem foi que teve a “jenial” ideia?)

Esta é uma situação que pode ser bastante comum no Brasil, especialmente em época de Copa do Mundo. Em outros tempos, quando a maioria das casas tinha apenas um aparelho de TV para a família toda, decidir o que todos iriam assistir podia se transformar em um verdadeiro problema. Ainda mais se a emissora alterasse a programação sem aviso prévio.

O tema “feminismo” é tratado aqui de uma maneira discreta e um tanto estereotipada, mas com um final que tenta ser justo para ambos os lados. Interessantes são as reações bastante típicas de um “machão” do Zé Carioca, e também bastante reveladoras da mentalidade masculina, a começar do fato de se sentir ameaçado pela reunião de mulheres realizada para tratar de um assunto que é importante para elas. Ele nem sabe ainda do que se trata, mas já classifica de “complô”.

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Já a discussão entre a Rosinha e o Zé é típica dos argumentos proferidos de lado a lado na época, e certamente fez muitos leitores se identificarem. É claro que, no final das contas, tanto o jogo quanto a novela são motivos bastante fúteis para essa algazarra toda (sim, querido leitor: “machões” também podem ser fúteis). E ambos os lados têm sua razão, apesar de tudo.

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Acho que nem é preciso explicar o trocadilho no título, né? E a “Rede Glub” de televisão é uma referência que deixa pouco a adivinhar, assim como são também o nome da novela, que aqui passou de “Brilhante” para “Diamante”, e os dos personagens principais “Ruíza” e “Taulo”. De acordo com a Wikipédia o último capítulo dessa novela foi exibido em 26 de março de 1982. A data da primeira publicação da história é 5 de março. Ou seja, ela foi escrita, comprada e produzida em tempo recorde, e estava perfeitamente “antenada” com os acontecimentos.

Desde então, ao contrário do que acontece na história (que parece ocorrer toda durante os 45 minutos do primeiro tempo, já que, quando o jogo recomeça, estão todos já na frente da TV), as emissoras aprenderam a não misturar as coisas. Há quem diga que “algumas” delas inclusive manipulam o horário dos jogos de futebol, para não haver conflitos. Em todo caso, em uma época na qual qualquer smartphone pode ser usado como TV, isso é cada vez menos um problema.

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A Copa Do Morro É Nossa!

História do Zé Carioca, criada em 1978 e publicada pela primeira vez em 1982.

Concordo com quem pensa que esta é uma boa história para um dia de abertura de Copa do Mundo. As datas de criação e publicação, é claro, não são coincidência. Criada “em homenagem” à Copa de 1978, esta história acabou na gaveta até a Copa seguinte, a de 1982.

Dada toda a polêmica em volta da Copa do Mundo de 1978, na Argentina, no ambiente de uma ditadura militar e com vitória da Seleção Argentina sob forte suspeita de fraude, penso que esta história serve também como uma crítica velada à situação toda por lá. E é bem provável que seja por isso mesmo que a HQ tenha ficado engavetada até a Copa seguinte. Assim como na história que apresenta o “Gorila Ernesto”, escrita quando esse era o nome do Presidente do Brasil, é provável que a chefia da redação tenha decidido esperar até que o conteúdo político da história tivesse se “esvaziado” um pouco.

O Vila Xurupita Futebol Clube é convidado para um “jogo de taça” contra o Macaco Futebol Clube. O problema é que o próprio conceito do jogo é todo planejado para que os macacos ganhem. Desde o campo e até as regras, tudo foi cuidadosamente pensado por eles para não dar nenhuma chance de jogo justo ao adversário, e garantir a sua vitória sobre a turma da Vila Xurupita.

Começa com o campo em si, sem gramado e em desnível: há um “campo de cima”, e um “campo de baixo”. Pelas regras “adaptadas” dos macacos, o Xurupita joga o primeiro tempo no campo de baixo, enquanto o Macaco joga o segundo tempo no campo de cima. O pontapé inicial é de quem chutar primeiro, falta a favor do Bras… oops, do Xurupita não existe (uma queixa constante em todas as Copas que eu já vi), cartões são distribuídos com liberalidade aos jogadores do Xurupita por qualquer motivo (outra queixa de Copas do Mundo que eu já ouvi bastante), e o jogo deverá acabar assim que um macaco marcar um gol, sumariamente. Desse jeito fica difícil ganhar dos donos da casa, mas é claro que papai nos presenteará a sua solução do modo mais inusitado possível.

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Mas antes, logo de saída, uma tropeçada na bola dos letristas: está certo que no início da história a preocupação do Zé é com o prêmio do jogo, que pode encher o caixa e tirar o VXFC do vermelho, mas quando ele, o Afonsinho e o Nestor resolvem dar uma olhada no campo por cima da cerca, a preocupação é mais com a *grama* do que com a “grana”. É a primeira decepção do Zé: se o desnível já não fosse o bastante, também não há gramado!

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De qualquer maneira (de qualquer maneira *mesmo*) o jogo segue numa hilária sequência de cenas de “anti futebol”. Tudo o que em teoria não pode acontecer numa partida desse esporte acaba acontecendo, numa sucessão estonteante de eventos.

Curiosa é a participação do personagem Miguelzinho, um pato magrinho que joga de óculos e que aparece apenas nesta única história, cuja função principal é cair por baixo do goleiro Pedrão na frente do gol, sendo efetivamente esmagado pelo grandão e precisando ser substituído.

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(É aquela coisa: num episódio qualquer de Jornada nas Estrelas, a série original, um grupo formado pelo Capitão Kirk, Dr. Spock e um subordinado desconhecido de baixa patente está explorando pela primeira vez um novo e perigoso mundo. Quem vocês acham que vai morrer, quando os perigos do planeta inevitavelmente se abaterem sobre eles? Então.)

No fim os macacos marcam um gol e a partida termina, mas não exatamente do jeito que eles queriam. O Xurupita vence e leva um belo troféu para casa, mas as consequências da vitória também não serão exatamente como eles sonhavam.

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Aviso aos navegantes: este blog não comenta desenhos. Meus comentários aqui dizem respeito somente aos argumentos/roteiros escritos por papai para suas histórias em quadrinhos. E acreditem, já há bastante o que comentar só nessa parte. Os desenhos das histórias de papai, via de regra, eram feitos por outros artistas, tão talentosos quanto, mas que não são o foco deste blog. Se o leitor quiser saber quem desenhou esta história, por favor acesse o link do Inducks, que fica na data de publicação da HQ, no início deste comentário.

O Roubo Da Copa Do Mundo

Continuando nossa semana temática, apresento hoje a terceira história que papai escreveu para a Copa do Mundo na Espanha, em 1982.

Como vocês podem ver, ele fez pleno uso da tabelinha da copa, que foi oferecida como “poster” central na revista:

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Enquanto isso, na trama, as coisas se complicam.

Papai certamente quis se referir ao roubo da Taça Jules Rimet que havia ocorrido em 1966, na Inglaterra, e recontar essa história do jeito dele, é claro. O que ele não poderia prever (pelo menos, não de modo consciente) é que essa mesma taça, que estava guardada no Brasil, seria roubada e derretida em 1983, um ano apenas após a publicação desta história.

No mundo paralelo criado por papai para homenagear a Copa do Mundo da Espanha temos a “FUFA” (Federação Universal de Futebol Associado), e seu presidente “João A. Valanche”.

Quando o Zé resolve investigar o mistério em nome da “Agência Moleza”, que ele tem em sociedade com o Nestor, acaba sendo confundido com o Mickey, esse sim um detetive de primeira linha, que estava sendo esperado mas se atrasou.

Se aproveitando da confusão, o Zé toma vantagem do tratamento VIP (sob discretos protestos do Donald e do Panchito) para descolar um bom almoço, pelo menos, e com isso acaba descobrindo as primeiras pistas para a solução do mistério. Tanto, que quando o verdadeiro Mickey chega, acompanhado do Pateta, ele pede aos Três Cabaleros que continuem ajudando na investigação.

Eis que o ladrão da Copa é ninguém menos que o Mancha Negra, mestre em disfarces, e arqui-inimigo do Mickey.

Começa assim uma perseguição que usa trens e o serapé voador (e nesta história aprendemos que um serapé é uma espécie de poncho mexicano, e que portanto chamá-lo de “tapete” é realmente um equívoco), e que acaba com a captura do Mancha Negra na região da Mancha, na Espanha, a terra dos moinhos de vento e de Dom Quixote.

Dessa maneira, papai nos leva a um “passeio” pela Espanha, seus lugares famosos, e seus tipos peculiares, como criadores de touros e ciganos, que certamente não deve nada a uma visita real.

Vamos Para A Espanha

Estamos em época de Copa (das Confederações, mas copa, nevertheless), e como acho que a única “manifestação popular” na qual papai baseou histórias é o Carnaval, então o negócio é resenhar uma história do Zé, relacionada com a Copa do Mundo da Espanha, em 1982.

A trama é toda baseada em mal-entendidos.

Tudo começa quando o amigo Afonsinho, que é meio abilolado e pelo jeito não conhece todo mundo, chega avisando o Zé que “uns desconhecidos” estão procurando por ele. Daí o primeiro mal-entendido: o Zé se assusta, pensando que são os cobradores, só para descobrir que são, na verdade, Donald e Panchito, vistos pela primeira vez juntos em “Saludos Amigos”, de 1942. O que eles estarão fazendo ali?

Enfim. Nosso herói está, como sempre, “desprevenido”, e acaba constrangido com a expectativa dos amigos (mal-entendido número dois) de serem recebidos com festa, comidas e bebidas.

Ao sair para ver se consegue alguma coisa, Zé vê alguma coisa fora da cena, e resolve vendê-la para fazer a festa para os amigos.

Quando ele volta com a comida (e uma “garrafa da boa”, que aparentemente passou despercebida pelos aplicadores do código de ética Disney, que não permitia bebidas alcoólicas nas histórias, ou que talvez foi deixada passar, por ser uma referência sutil), descobre o mal-entendido número três: aquilo era “só” o tapete voador (!) do Panchito. E agora?

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Ao tentar recuperar o tapete, o Zé percebe que a situação só se complicou desse jeito porque ele não “abriu o jogo” com os amigos logo de uma vez, e resolve mudar de tática, indo logo ao ponto com todos, sem tentar enrolar.

(Na página 5 da história, a placa da “Riviera Móveis e Decorações” é uma alusão a uma loja do mesmo ramo que ficava bem em frente à nossa casa em Campinas, do outro lado da Avenida Prestes Maia, e cujo dono era amigo de papai e comprou-a de nós alguns anos depois.)

Voltando à história, a sorte do Zé é que o tapete foi parar nas mãos da Rosinha. E o azar dele é que ela o deu ao pai, Rocha Vaz. Mas a explicação honesta e sincera do Zé foi demais para o “pai que é uma fera”: ele não acredita nem um pouco, mas acha tão engraçado o desespero do rapaz, que acaba devolvendo o tapete.

Isso, é claro, possibilita o início da viagem dos amigos à Espanha para acompanhar os jogos da seleção brasileira, numa série de histórias.