Juiz Sem Juízo

História do Zé Carioca, de 1977.

Bem ao estilo de papai, a história trata dos jogos e brincadeiras de infância dos brasileiros que já estavam caindo em desuso. Um desses era o futebol de botão, que pelo jeito teve um novo impulso ao longo das décadas, e hoje é tido como “esporte sério” e “de gente grande”.

Mas isso é apenas o testemunho do fascínio que o também chamado “futebol de mesa” suscita em crianças de todas as idades, e até mesmo aquelas que já têm mais de 45 anos de idade.

Nos tempos de criança de papai a coisa era bem mais simples, para crianças mesmo. Uma caixa de fósforos com uma pedrinha dentro servia de goleiro, e qualquer botão maiorzinho para roupas corria sério risco de sumir das caixas de costura das mamães para “ser promovido a jogador”.

Já no meu tempo começaram a aparecer os jogos de luxo, com botões de bom acrílico e campos de madeira compensada de primeira qualidade. Esses botões eram guardados com todo o cuidado, polidos regularmente com um paninho macio e retirados da caixa apenas para jogos importantes, como o de hoje.

A briga dos meninos no primeiro quadrinho, aliás, vem de uma brincadeira usada em casa para desencorajar brigas entre nós crianças, para que não discutíssemos por qualquer “foi-não-foi, é-não-é”.

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Em todo caso, se o problema fosse só uma briga dos sobrinhos do Zé por causa de uma partida entre eles, a história não seria tão engraçada. Divertido é ver como a coisa toda vai atingindo proporções cada vez maiores e mais graves, com torcidas exaltadas de ambos os lados. A coisa toda chega às raias da briga, até que, em um momento decisivo, o Zé pisca por um segundo, não vê uma jogada, e o caldo entorna de vez. E agora, José?

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A revista está na coleção, é a única história nacional que ela contém, o nome da história está na lista de trabalho, mas, por causa de uma mudança no nome da história feita pelo editor algum tempo depois, os rapazes do Inducks ainda não a creditaram a papai. Aparentemente, resolveram esperar até terem certeza. Podem creditar, é dele sim. 🙂

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O Técnico Que Veio De Longe

História do Zé Carioca, de 1985.

Diferentemente da história homônima de 1979, já comentada aqui, desta vez o “técnico que veio de longe” não é o Zé. Também não estão envolvidos países distantes com costumes estranhos. O que temos hoje é um pássaro bicudo que vem bater na porta do clube lá mesmo no Rio e “chega chegando”, buscando impressionar a todos com seus diplomas e Curriculum Vitae.

Como o Xurupita não ganha um jogo há cinco anos, e também como todo fã de futebol pode atestar, a tentação de trocar de técnico na base do desespero será grande.

Mas a tese, aqui, é baseada em um velho ditado: “amadores construíram a Arca de Noé, enquanto profissionais construíram o Titanic”. Quer dizer, nem sempre um diploma cheio de carimbos e selos ou um CV cheio de títulos evita uma falha humana ou é garantia de talento. Junte-se a isso o fato de que esses documentos podem ser facilmente, digamos, “enfeitados” com informações cuidadosamente manipuladas para parecerem mais do que são, e a receita para a confusão está completa.

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A experiência da demissão será bastante sofrida para o Zé, que se sentirá positivamente humilhado, mas no final, quando o seu time querido estiver em apuros, seu coração “vilaxurupitano” falará mais alto e ele esquecerá qualquer ressentimento para ajudar a equipe a sair da enrascada.

Afinal, ninguém é melhor para liderar um time de futebol (ou qualquer outro projeto ou empreendimento, aliás) do que alguém que realmente ama o clube e o que faz. Esse é certamente o caso do Zé, mas pode não ser o do bicudo pretensioso que diz ter “bola” até no nome.

Uma série de detalhes torna a história tão interessante quanto engraçada, a começar pelo nome de um time de futebol fictício, o “Flumengo”, mistura quase alquímica dos rivais Fluminense e Flamengo. O Acácio é finalmente “promovido” de figurante a personagem, e tem até uma fala. E na primeira página temos um cartaz no mínimo curioso ao lado da flâmula do time. Isso é que é esperança.

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A Bola Maravilhosa

História do Gordo, publicada pela Editora Abril na revista O Gordo número 2 em 1987.

O personagem principal, menino ruim de bola, encontra uma bola “diferentona” no meio da rua e resolve ficar com ela. O resultado é que, misteriosamente, ao jogar com ela, ele repentinamente vira um craque.

A coisa toda lembra um pouco outro perna de pau das histórias em quadrinhos, o Zé Carioca, e uma história de 1972 chamada “O Craque”, onde o papagaio verde usa chuteiras tecnológicas para se dar bem em campo.

Como sabemos, nos quadrinhos a tecnologia e a magia são intercambiáveis, com resultados semelhantes. Assim, o objeto maravilhoso da vez será justamente a bola em si, que é na verdade um menino transformado por uma bruxa malvada. A primeira pista que papai dá ao leitor atento de que esta não é uma bola comum é a “reação” do objeto ao ser recolhido.

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Esta também lembra um pouco outra história do Zé, chamada “A Copa do Morro é Nossa”, de 1978, na continuação com o jogo contra a turma do Jarbas, no qual há toda uma negociação sobre as regras e a bola a ser usada, e também tem elementos de contos de fadas, na própria bola enfeitiçada e no método usado para desfazer o encanto.

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A Copa é Nossa! (Partes 1 e 2)

Histórias da Turma do Gordo, de Ely Barbosa, publicadas pela Editora Abril na revista “O Gordo” número 25 em julho de 1988. As histórias em si foram escritas em janeiro de 1988.

Naquela época estava-se comemorando os 30 anos da Copa do Mundo de 1958, ocasião na qual a Seleção Brasileira conquistou seu primeiro título mundial de futebol.

A primeira parte é uma verdadeira aula de História, com o Tio Bembém mostrando ao seu sobrinho Gordo, no videocassete, os melhores momentos de todos os jogos da Seleção na Copa de ’58 e comentando cada partida, enquanto o menino toma tanto sorvete que acaba literalmente congelado.

Essa, aliás, era uma lenda urbana de Campinas. Contava-se a bocca chiusa nos corredores das escolas uma história sobre um homem que teria tomado sozinho um latão de 5 litros de sorvete, e morrido congelado de dentro para fora. Para mim, mais parece uma adaptação da velha proibição de comer os caroços das frutas, sob pena de uma árvore crescer dentro da barriga do “infrator”

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Enquanto a primeira história do par é baseada em pura realidade, a segunda toma uma guinada radical e parte para a total fantasia.O Gordo leva uma forte bolada na cabeça e acorda… em 1958! Em campo! Na final da Copa da Suécia! E jogando na Seleção Brasileira!

É a realização do sonho de qualquer menino fanático por futebol, que se imagina jogando partidas importantes lado a lado com seus maiores ídolos.

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Copa Ou Cozinha?

História do Zé Carioca, de 1982.

Renomeada depois para “O Jogo Da Tevê”, ela aparece na lista de trabalho de papai no início de 1982, sob a classificação “complemento”. Papai provavelmente se esqueceu de anotar logo quando a escreveu, e só a inseriu na lista depois que ela voltou para reformulação. (E convenhamos, mas que mudança de nome mais boba… Quem foi que teve a “jenial” ideia?)

Esta é uma situação que pode ser bastante comum no Brasil, especialmente em época de Copa do Mundo. Em outros tempos, quando a maioria das casas tinha apenas um aparelho de TV para a família toda, decidir o que todos iriam assistir podia se transformar em um verdadeiro problema. Ainda mais se a emissora alterasse a programação sem aviso prévio.

O tema “feminismo” é tratado aqui de uma maneira discreta e um tanto estereotipada, mas com um final que tenta ser justo para ambos os lados. Interessantes são as reações bastante típicas de um “machão” do Zé Carioca, e também bastante reveladoras da mentalidade masculina, a começar do fato de se sentir ameaçado pela reunião de mulheres realizada para tratar de um assunto que é importante para elas. Ele nem sabe ainda do que se trata, mas já classifica de “complô”.

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Já a discussão entre a Rosinha e o Zé é típica dos argumentos proferidos de lado a lado na época, e certamente fez muitos leitores se identificarem. É claro que, no final das contas, tanto o jogo quanto a novela são motivos bastante fúteis para essa algazarra toda (sim, querido leitor: “machões” também podem ser fúteis). E ambos os lados têm sua razão, apesar de tudo.

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Acho que nem é preciso explicar o trocadilho no título, né? E a “Rede Glub” de televisão é uma referência que deixa pouco a adivinhar, assim como são também o nome da novela, que aqui passou de “Brilhante” para “Diamante”, e os dos personagens principais “Ruíza” e “Taulo”. De acordo com a Wikipédia o último capítulo dessa novela foi exibido em 26 de março de 1982. A data da primeira publicação da história é 5 de março. Ou seja, ela foi escrita, comprada e produzida em tempo recorde, e estava perfeitamente “antenada” com os acontecimentos.

Desde então, ao contrário do que acontece na história (que parece ocorrer toda durante os 45 minutos do primeiro tempo, já que, quando o jogo recomeça, estão todos já na frente da TV), as emissoras aprenderam a não misturar as coisas. Há quem diga que “algumas” delas inclusive manipulam o horário dos jogos de futebol, para não haver conflitos. Em todo caso, em uma época na qual qualquer smartphone pode ser usado como TV, isso é cada vez menos um problema.

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Um Vizinho Marreta

História do Zé Carioca, de 1977.

O morro tem um morador novo. Ele é bem vestido, bem educado, e tem um vocabulário de dicionário. E, ainda por cima, é muito generoso com seus eletrodomésticos, que não hesita em emprestar a seus novos amigos. Seu nome, “Vivaldino“, deixará pouca coisa para o leitor atento adivinhar.

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A verdade é que a coisa toda é boa demais para ser verdade e, como diz o velho ditado, “quando a esmola é muita, até o santo desconfia”. Não se esqueça, caro leitor: quando algo, em qualquer esfera da vida, parece bom demais para ser verdade, geralmente é mesmo. Desconfie.

Dois times de futebol do Rio de Janeiro são mencionados por seus “codinomes” costumeiros: “Mengão” (Flamengo) e Tacafogo (Botafogo). Hoje descobrimos que o Zé torce pelo Mengão, e o Nestor pelo Tacafogo. Finalmente vemos uma centelha de discórdia entre esses dois amigos inseparáveis, mesmo que seja só por causa de futebol.

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A Grande Otoridade

História da Turma do Gordo, de Ely Barbosa, publicada na revista O Gordo em Quadrinhos número 18, de 1987.

Hoje temos o Gordo e sua turma enfrentando o “chato oficial” da rua, um tal de Inspetor Patuskas. Falando difícil e citando regras e estatutos que só ele conhece, ele proíbe os meninos de fazer, em via pública, tudo aquilo que os garotos de outrora gostavam: usar estilingue, descer ladeiras com carrinhos de rolimã, brigar, e o pior, até mesmo jogar futebol.

O linguajar do inspetor da rua é um convite ao dicionário. Papai sinceramente esperava que seus leitores fossem pesquisar qualquer coisa que não entendessem direito, e gostava de acreditar que estava ajudando a aumentar o vocabulário da criançada.

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“Otoridade” é uma expressão pejorativa que descreve uma pessoa que age ilicitamente como “autoridade”, ou até mesmo uma autoridade lícita que abusa de seu poder. De qualquer forma, a interferência do chato nas brincadeiras da turma atinge uma proporção tamanha que todos se unem, até mesmo os meninos que não vão lá muito com a cara do Gordo, para dar um basta na situação.

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Seria muito fácil (e nada apropriado para uma história em quadrinhos) juntar meia dúzia de moleques e dar uma surra no intrometido, e talvez até fosse isso que aconteceria na vida real, mas a solução de papai é digna de uma história do Zé Carioca. Já que o Patuskas quer ser “autoridade”, que apite uma partida de futebol dos meninos do bairro. Só que ele descobrirá um pouco tarde demais que a partida é contra um time de brutamontes de outro bairro.

É uma fina ironia: o inspetor da rua não se furtará à prestigiosa tarefa (que afinal parece ser um afago em seu Ego), e os brutamontes do time adversário se encarregarão de dar a lição (e a surra) no Inspetor Patuskas, quando ele insistir em tentar por ordem na bagunça.

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Mais menções às brincadeiras de infância das crianças do passado podem ser lidas na minha biografia de papai, que está à espera de vocês nas melhores livrarias, não percam:

Marsupial: http://www.lojamarsupial.com.br/ivan-saidenberg-o-homem-que-rabiscava

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Cultura: http://www.livrariacultura.com.br/p/ivan-saidenberg-o-homem-que-rabiscava-15071096

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Monkix: http://www.monkix.com.br/serie-recordatorio/ivan-saidenberg-o-homem-que-rabiscava-serie-recordatorio.html

É Duro Ter Cartaz!

História do Zé Carioca, de 1974.

A expressão “ter cartaz”, em português, significa ter fama, ou prestígio. Que o Zé é famoso todo mundo sabe, mas por que isso deveria ser “duro” (no sentido de difícil)? Na verdade, estamos diante de um trocadilho. A história, de apenas três páginas, é na verdade uma peça promocional para o Manual do Zé Carioca, cujo tema é futebol, e o “cartaz” é de papel, mesmo.

Observe-se o gibi aberto jogado ao lado da cama do Zé no “splash panel”. Nas histórias de papai o papagaio malandro é fã de quadrinhos. Isso terá consequências, ao longo dos anos.

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A princípio o leitor não sabe por quê o nosso amigo papagaio precisou acordar cedo e sair com um rolo de cartazes e um balde de cola pela cidade, nem que cartazes são esses. E à medida que o dia passa, o Zé não encontra nenhum lugar para colá-los. Todos os muros, cercas e paredes têm algum tipo de aviso de proibição, ou há um guarda por perto. Isso, é claro, só serve para aguçar ainda mais a curiosidade do leitor. O pior é que, quando ele finalmente encontra um lugar onde outros cartazes já estão colados, a poluição visual é tanta que ele até desiste.

Mas a pergunta que se faz necessária, aqui, é: quem precisa ver esse cartaz? Os outros personagens habitantes da história em quadrinhos, ou o leitor, que é quem vai comprar o Manual anunciado neles? E se é só o leitor quem precisa ver, importa, realmente, em qual lugar da história eles serão colados? Desde que o Zé, como bom moço que é, não desobedeça nenhuma proibição, ele pode colocá-los em qualquer lugar no qual o leitor os possa ver.

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Aliás, as mensagens de alguns dos cartazes já colados pela cidade são hilárias, e representam uma crítica ao mundo da publicidade e ao consumismo desenfreado. “Você já foi à Bahia?” é o nome de um dos primeiros filmes do Zé Carioca, de 1944, e “Coma e engorde” é uma alusão a um antigo livro de receitas dietéticas chamado “Coma e Emagreça”, que tínhamos em casa. O resto são absurdos e trocadilhos, falsas promoções e chamarizes um tanto dúbios.

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E não é só o Zé que está vendendo livros. Eu também estou. Minha biografia de papai está à espera de vocês nas melhores livrarias:

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Os Furacões

História do Zé Carioca, publicada pela primeira vez em 1976.

O tema da vez é o futebol, e o folclore que paira ao redor do jogo. Para salvar as finanças do Vila Xurupita Futebol Clube, a turma aceita jogar contra os “Furacões do Méier”, um time de brutamontes. A vantagem parece estar do lado do time adversário, com seus jogadores altos e fortes e sua torcida intimidadora, mas o futebol é por definição um jogo imprevisível, onde nem sempre é a força física que conta.

O interessante é que tirando o Zé, Nestor e Pedrão, os outros personagens da turma da Vila Xurupita que participam desta história são uns perfeitos desconhecidos. Nenhum deles tem nome (a não ser o líder da torcida adversária, um certo Zelão), mas são figuras bastante engraçadas, cortesia de Renato Canini.

Outro detalhe que chama a atenção é o fato do Zé ser o tesoureiro (e ponta direita) do time, apesar de não haver nada para administrar. Até o cofre foi penhorado, para pagar o aluguel. O fato é que papai havia sido argumentista *e tesoureiro* do grupo de quadrinistas que alugou um escritório no Edifício Martinelli nos anos 1960, episódio mencionado em meu livro*. Coincidência? Isso só mostra o quanto papai se identificava com o personagem, a ponto de “emprestar” a ele, e mais de uma vez, detalhes de sua própria vida. Outro a ter duas funções dentro do clube é o Nestor, que é presidente e goleiro.

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Nesta história temos também, a engraçadíssima noção que, de tanto ver o Vila Xurupita FC perder jogos, o povo já está interpretando o “VX” na flâmula como “vexame”. O ano é 1976, e o time não vence nenhum jogo, mas palavras do Nestor, desde 1972.

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Apesar de tudo, e das bravatas da torcida dos Furacões, os jogadores altos e fortes são pesadões demais para a correria dos “peso pena” de Vila Xurupita, que acabam vencendo o jogo na sorte e na raça (mais sorte do que raça à bem da verdade), confirmando mais uma vez que, quando se fala de futebol, nada está talhado em pedra.

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* Livro esse que aliás será lançado muito em breve, dia 31 de janeiro, no Memorial da América Latina a partir de 13:00. http://www.lojamarsupial.com.br/ivan-saidenberg-o-homem-que-rabiscava

O Dono Da Bola

História do Zé Carioca, publicada pela primeira vez em 1975 e republicada recentemente.

A inspiração aqui são as clássicas peladas jogadas por crianças nos campinhos de bairro nos tempos de infância de papai. O menino que era o dono da bola costumava mandar na brincadeira. Sem bola não há jogo, e quanto mais “chique” fosse a redondinha, melhor para o seu dono, que passava a poder fazer todo tipo de exigência: desde ser escalado até, em casos extremos mas nada raros, tentar acabar com o jogo se o resultado não o agradasse.

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Tanto, que a expressão “dono da bola” é usada até hoje para designar o “chefe”, ou “mandão”, de uma determinada situação, e virou até mesmo o nome de um programa de TV da Band.

Em nossa história a bola é presente da Rosinha pelo aniversário do Zé após um “misterioso bilhete”, o que dá a ela o direito de assistir ao jogo contra o time de Nanicópolis de camarote. Um camarote algo criativo demais, mas pelo menos a vista do campo é boa.

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Já o time adversário composto por nanicos só reforça a “impressão” de jogo de futebol de moleques, aqueles no estilo “5 vira e 10 acaba”.

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O resto da graça da história fica por conta do juiz incompetente e ladrão, que não pode faltar neste tipo de história, e dos tropeços (literalmente) dos dois times dentro de campo, até o surpreendente desfecho.