Copa Ou Cozinha?

História do Zé Carioca, de 1982.

Renomeada depois para “O Jogo Da Tevê”, ela aparece na lista de trabalho de papai no início de 1982, sob a classificação “complemento”. Papai provavelmente se esqueceu de anotar logo quando a escreveu, e só a inseriu na lista depois que ela voltou para reformulação. (E convenhamos, mas que mudança de nome mais boba… Quem foi que teve a “jenial” ideia?)

Esta é uma situação que pode ser bastante comum no Brasil, especialmente em época de Copa do Mundo. Em outros tempos, quando a maioria das casas tinha apenas um aparelho de TV para a família toda, decidir o que todos iriam assistir podia se transformar em um verdadeiro problema. Ainda mais se a emissora alterasse a programação sem aviso prévio.

O tema “feminismo” é tratado aqui de uma maneira discreta e um tanto estereotipada, mas com um final que tenta ser justo para ambos os lados. Interessantes são as reações bastante típicas de um “machão” do Zé Carioca, e também bastante reveladoras da mentalidade masculina, a começar do fato de se sentir ameaçado pela reunião de mulheres realizada para tratar de um assunto que é importante para elas. Ele nem sabe ainda do que se trata, mas já classifica de “complô”.

ZC cozinha

Já a discussão entre a Rosinha e o Zé é típica dos argumentos proferidos de lado a lado na época, e certamente fez muitos leitores se identificarem. É claro que, no final das contas, tanto o jogo quanto a novela são motivos bastante fúteis para essa algazarra toda (sim, querido leitor: “machões” também podem ser fúteis). E ambos os lados têm sua razão, apesar de tudo.

ZC cozinha1

Acho que nem é preciso explicar o trocadilho no título, né? E a “Rede Glub” de televisão é uma referência que deixa pouco a adivinhar, assim como são também o nome da novela, que aqui passou de “Brilhante” para “Diamante”, e os dos personagens principais “Ruíza” e “Taulo”. De acordo com a Wikipédia o último capítulo dessa novela foi exibido em 26 de março de 1982. A data da primeira publicação da história é 5 de março. Ou seja, ela foi escrita, comprada e produzida em tempo recorde, e estava perfeitamente “antenada” com os acontecimentos.

Desde então, ao contrário do que acontece na história (que parece ocorrer toda durante os 45 minutos do primeiro tempo, já que, quando o jogo recomeça, estão todos já na frente da TV), as emissoras aprenderam a não misturar as coisas. Há quem diga que “algumas” delas inclusive manipulam o horário dos jogos de futebol, para não haver conflitos. Em todo caso, em uma época na qual qualquer smartphone pode ser usado como TV, isso é cada vez menos um problema.

****************

Já leste o meu livro? Quem ainda não leu está convidado a conhecer minha biografia de papai, à sua espera nas melhores livrarias: Marsupial – Comix – Cultura – Monkix 

***************

Tenho o prazer de anunciar um novo livro, que não é sobre quadrinhos, mas sim uma breve história do Rock and Roll. Chama-se “A História do Mundo Segundo o Rock and Roll”, e está à venda nos sites do Clube de Autores agBook

Um Certo Capitão Mendoza

História do Zorro, de 1976.

(O título da  história me lembra qualquer coisa como “Um Certo Capitão Rodrigo”, mas a referência para por aí.)

Da série “planos perfeitos para capturar o Zorro”. Um capitão novo, tido como o melhor espadachim da Califórnia, é enviado a Los Angeles para tentar, pela enésima vez, prender aquele a quem os poderosos chamam de bandido, e o povo humilde chama de herói.

Zorro Mendoza

Os militares tentam todos os truques do livro, desde o desafio barato para um duelo, passando por tentativas de emboscada, perseguições noite adentro, aumento da recompensa, e chegando até mesmo à luta desleal. Obviamente, nada disso adianta. O Zorro está em todos os lugares, seja como Don Diego, ou vestido de capa e roupa preta. Ele sabe de tudo o que se passa, luta melhor que todos, é mais esperto que qualquer um e tem o povo ao seu lado. Ninguém segura o Zorro!

Zorro Mendoza1

A Estrada Real citada pelo Capitão Mendoza na história existe de verdade. Foi aberta pelos espanhóis mais ou menos na mesma época na qual se passa a lenda do Zorro, e um belo mapa antigo feito à mão pode ser visto no link. Vale o clique.

****************

Já leste o meu livro? Quem ainda não leu está convidado a conhecer minha biografia de papai, à sua espera nas melhores livrarias.

Marsupial: http://www.lojamarsupial.com.br/ivan-saidenberg-o-homem-que-rabiscava

Comix: http://www.comix.com.br/product_info.php?products_id=23238

Cultura: http://www.livrariacultura.com.br/p/ivan-saidenberg-o-homem-que-rabiscava-15071096

Monkix: http://www.monkix.com.br/serie-recordatorio/ivan-saidenberg-o-homem-que-rabiscava-serie-recordatorio.html

Em Busca Do Caneco

Nesta última aventura temática da Copa de 1982 a trama se encerra, e chega ao seu “Gran Finale”.

A Seleção Brasileira chega à Espanha, e com ela novas intrigas e personagens. Há um plano da Bronka para sequestrar um dos jogadores, e o 00-ZÉro entra em cena, juntamente com sua colega Pata Hari. Os Três Cabaleros se encontram com os agentes secretos em pleno ar, e acabam se juntando ao plano de proteção do jogador.

O universo paralelo continua, com nomes reais sendo trocados por outros parecidos, e certamente bem mais engraçados. Essa troca de nomes, comuns nas histórias em quadrinhos, se dá não apenas pelo humor, mas por motivos legais/jurídicos também, para evitar possíveis ofensas e processos.

Assim, temos nomes de jogadores como Aristóteles (filósofo da Grécia antiga) e Zeco, o Galinho de Quintal (que na verdade é um papagaio com um topete que lembra o do atual jogador Neymar, e bem parecido com o Zé Carioca, aliás). O técnico é o Telê Fônico, e por aí vai. Não é difícil concluir quem são os seus equivalentes no mundo real, não é mesmo? E quem se ofenderia com uma homenagem dessas???

Broncas com a Bronka à parte, que consegue sequestrar não apenas um, mas dois Zecos, os heróis se dão bem no final, e finalmente fazem seu voo triunfal a bordo do serapé voador para devolver o jogador resgatado à multidão que está à espera.

É nesse momento que se forma o Gran Finale, com a presença no meio do povo de todos os personagens que estiveram presentes nos outros capítulos da saga, e mais alguns.

E a Rosinha tem, mesmo que sem querer, o seu momento de “vingança” pelo beijo que o Zé aceitou de uma outra periquita na história Que Venga El Toro, e que a levou à Espanha, para tirar satisfações: ela confunde o Zeco com o Zé, e beija o jogador.

Desse modo, papai “costura” as três histórias publicadas neste gibi, criando uma trilogia com começo, meio e fim e terminando já dentro do estádio, com a Seleção jogando e a festa dos torcedores.

Eram outros tempos…

O Roubo Da Copa Do Mundo

Continuando nossa semana temática, apresento hoje a terceira história que papai escreveu para a Copa do Mundo na Espanha, em 1982.

Como vocês podem ver, ele fez pleno uso da tabelinha da copa, que foi oferecida como “poster” central na revista:

ZC Copa 2

Enquanto isso, na trama, as coisas se complicam.

Papai certamente quis se referir ao roubo da Taça Jules Rimet que havia ocorrido em 1966, na Inglaterra, e recontar essa história do jeito dele, é claro. O que ele não poderia prever (pelo menos, não de modo consciente) é que essa mesma taça, que estava guardada no Brasil, seria roubada e derretida em 1983, um ano apenas após a publicação desta história.

No mundo paralelo criado por papai para homenagear a Copa do Mundo da Espanha temos a “FUFA” (Federação Universal de Futebol Associado), e seu presidente “João A. Valanche”.

Quando o Zé resolve investigar o mistério em nome da “Agência Moleza”, que ele tem em sociedade com o Nestor, acaba sendo confundido com o Mickey, esse sim um detetive de primeira linha, que estava sendo esperado mas se atrasou.

Se aproveitando da confusão, o Zé toma vantagem do tratamento VIP (sob discretos protestos do Donald e do Panchito) para descolar um bom almoço, pelo menos, e com isso acaba descobrindo as primeiras pistas para a solução do mistério. Tanto, que quando o verdadeiro Mickey chega, acompanhado do Pateta, ele pede aos Três Cabaleros que continuem ajudando na investigação.

Eis que o ladrão da Copa é ninguém menos que o Mancha Negra, mestre em disfarces, e arqui-inimigo do Mickey.

Começa assim uma perseguição que usa trens e o serapé voador (e nesta história aprendemos que um serapé é uma espécie de poncho mexicano, e que portanto chamá-lo de “tapete” é realmente um equívoco), e que acaba com a captura do Mancha Negra na região da Mancha, na Espanha, a terra dos moinhos de vento e de Dom Quixote.

Dessa maneira, papai nos leva a um “passeio” pela Espanha, seus lugares famosos, e seus tipos peculiares, como criadores de touros e ciganos, que certamente não deve nada a uma visita real.

Vamos Para A Espanha

Estamos em época de Copa (das Confederações, mas copa, nevertheless), e como acho que a única “manifestação popular” na qual papai baseou histórias é o Carnaval, então o negócio é resenhar uma história do Zé, relacionada com a Copa do Mundo da Espanha, em 1982.

A trama é toda baseada em mal-entendidos.

Tudo começa quando o amigo Afonsinho, que é meio abilolado e pelo jeito não conhece todo mundo, chega avisando o Zé que “uns desconhecidos” estão procurando por ele. Daí o primeiro mal-entendido: o Zé se assusta, pensando que são os cobradores, só para descobrir que são, na verdade, Donald e Panchito, vistos pela primeira vez juntos em “Saludos Amigos”, de 1942. O que eles estarão fazendo ali?

Enfim. Nosso herói está, como sempre, “desprevenido”, e acaba constrangido com a expectativa dos amigos (mal-entendido número dois) de serem recebidos com festa, comidas e bebidas.

Ao sair para ver se consegue alguma coisa, Zé vê alguma coisa fora da cena, e resolve vendê-la para fazer a festa para os amigos.

Quando ele volta com a comida (e uma “garrafa da boa”, que aparentemente passou despercebida pelos aplicadores do código de ética Disney, que não permitia bebidas alcoólicas nas histórias, ou que talvez foi deixada passar, por ser uma referência sutil), descobre o mal-entendido número três: aquilo era “só” o tapete voador (!) do Panchito. E agora?

40073302_1775796772505023_1891480971270684672_n

Ao tentar recuperar o tapete, o Zé percebe que a situação só se complicou desse jeito porque ele não “abriu o jogo” com os amigos logo de uma vez, e resolve mudar de tática, indo logo ao ponto com todos, sem tentar enrolar.

(Na página 5 da história, a placa da “Riviera Móveis e Decorações” é uma alusão a uma loja do mesmo ramo que ficava bem em frente à nossa casa em Campinas, do outro lado da Avenida Prestes Maia, e cujo dono era amigo de papai e comprou-a de nós alguns anos depois.)

Voltando à história, a sorte do Zé é que o tapete foi parar nas mãos da Rosinha. E o azar dele é que ela o deu ao pai, Rocha Vaz. Mas a explicação honesta e sincera do Zé foi demais para o “pai que é uma fera”: ele não acredita nem um pouco, mas acha tão engraçado o desespero do rapaz, que acaba devolvendo o tapete.

Isso, é claro, possibilita o início da viagem dos amigos à Espanha para acompanhar os jogos da seleção brasileira, numa série de histórias.