Um Agente Pouco Secreto

História do Zé Carioca, de 1974.

Histórias de espiões, como esta série do Barão de Bazófia, são um bom pretexto para trocas de identidade, raptos, perseguições, explosões, e todos os outros clichês comuns do gênero, com a inspiração advinda de filmes de espionagem como os do Agente Secreto 007, como a referência no primeiro quadrinho deixa bem claro.

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Esta é a terceira das quatro histórias que papai fez para o Barão, e eu creio que é a melhor delas, a mais autêntica e fiel ao tema “espionagem”. Hoje somos lembrados, inclusive, de que o Barão está a serviço “de sua majestade” o Rei da Pipocolândia, no melhor estilo 007.

Interessante de se ver são as trocas de roupa do Zé, que quase nunca é visto vestindo algo que não seja a calça azul e a camiseta branca. Hoje ele vai trocar de roupa várias vezes, primeiro com o próprio Barão, e depois até mesmo com o Nestor.

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Mas talvez a coisa mais legal de hoje seja a Rosinha no papel de “Bond Girl”: ela é certamente a mocinha da história, mas de “frágil e indefesa” ela não tem nada.

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Outra boa sacada é a “running gag” com o Nestor, que passa a história inteira, do primeiro ao último quadrinho, tentando entender o que é essa confusão toda.

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Zé E O Barão De Bazófia

História do Zé Carioca, publicada pela primeira vez em 1974.

Após uma primeira história no ano anterior, na qual o Zé conhece o Barão e o ajuda numa missão, papai volta ao tema numa aventura no mais perfeito estilo dos filmes de espionagem, como por exemplo os de James Bond, o Agente 007.

O nosso amigo papagaio malandro até que contou para a turma sobre sua aventura com o Barão de Bazófia, mas parece que ninguém acreditou. Tanto, que ao ver o espião desfilando pela cidade de carrão com motorista e com uma loira ao seu lado, a Rosinha parte furiosa para cima do Zé. E agora, José? Vai ser difícil explicar essa.

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Temos aqui vários grupos de personagens que têm, cada um, o seu próprio motivo para estar na história. Os amigos do Zé que não acreditam nele, o Zé que quer provar sua inocência com a ajuda do Nestor, o Barão e sua acompanhante em missão secreta na cidade, e o Rajá de Cachimbira, desejoso de proteger a esmeralda que é o símbolo de sua realeza. “Rajá” é um título de nobreza indiano, e “Cachimbira” soa bastante como Caxemira, uma região disputada entre Índia e Paquistão.

E além de todos esses, temos os verdadeiros vilões da história: Lourão e Bastião, outros dois sósias do Zé e do Nestor, e seu motorista disfarçado de motorista de Táxi. Esses dois seriam usados novamente em 1977, na história chamada “Os Embananados”, já comentada aqui. Sósias não faltam, nesta história. Confusão e identidades trocadas também não. Até a famosa cena dos filmes de espionagem está presente:

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As reviravoltas são muitas, e sobram pistas até para o leitor “sacar” (ou não, de preferência). 😉 O fato é que, mais uma vez, nossos amigos ajudam meio sem querer a resolver o mistério e prender os bandidos, e de quebra desfazer o mal entendido das identidades trocadas e acalmar a Rosinha, mas não exatamente do jeito que o Zé imaginou.

Acontece que papai constrói a história de um jeito tal que o leitor vê algo importante para o processo de provar a inocência do Zé, mas logo em seguida é distraído pela reviravolta nos acontecimentos que acontece logo na página seguinte e esquece. Quem percebeu o detalhe não vai se surpreender nem um pouco com o desfecho da história, e com a maneira como acontece o perdão final da Rosinha.

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O Misterioso Barão De Bazófia

História do Zé Carioca, de 1973.

Vadiando no cais do porto do Rio de Janeiro, o nosso papagaio favorito nem imagina a aventura na qual está prestes a se envolver. No navio de passageiros “Gustavo C” está chegando um figurão que atende pelo nome de Barão de Bazófia e que, por coincidência, é a cara do Zé. Acontece que o papagaio recém chegado é também um espião internacional em missão secreta, e resolve contratar o Zé para se passar por ele e assim poder “espiar” melhor por aí.

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Meio sem entender muita coisa, mas de olho no dinheiro prometido, o Zé vai se deixando levar pelos acontecimentos de uma trama que tem todos os elementos de um filme de James Bond, o Agente 007, completo com espiões, contra espiões, um segredo que os bandidos querem roubar e aparelhos de escuta disfarçados como objetos comuns. Um deles, inclusive, escondido num caroço de azeitona, é devidamente engolido pelo Carioca.

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A história segue com suas reviravoltas, perseguições e pistas escondidas sob o nariz de todos, até o desfecho onde os bons vencem os maus, com uma atrapalhada, não exatamente intencional, mas decisiva ajuda do Zé Carioca.

Alguns personagens têm nomes divertidos, que usam e abusam de trocadilhos e cacófatos, bem ao estilo de papai: para começar, “bazófia” significa “fanfarronice, vaidade exagerada, presunção”. Combinar “barão” com “bazófia” dá a impressão de uma pessoa cheia de si, “só” porque detém um título de nobreza, que aliás nem muito alto na hierarquia lá deles é.

“Condessa Sarico” é um jogo de palavras com “sassarico”, sinônimo de “saracotear, dançar, gingar”. É uma pessoa que não para quieta, talvez seja festeira, ou apenas escandalosa.

Já o “Príncipe Poca”, da Pipocolândia (terra das pipocas) é, obviamente, uma brincadeira com a palavra pipoca.

 

A Volta De 00-ZÉro

História do Pato Donald, publicada em 1975.

Trata-se, muito provavelmente, da primeira história de 00-ZÉro e Pata Hari escrita no Brasil. Os personagens já eram conhecidos do público brasileiro há pelo menos 10 anos, das histórias estrangeiras traduzidas, mas certamente ganharam uma nova graça ao serem “adotados” por papai.

As muitas variantes do nome da personagem feminina, nos diferentes países em que ela é conhecida, são uma referência a Mata Hari, uma figura bastante controversa da história da Primeira Guerra Mundial. A variante brasileira é, além de tudo, um trocadilho muito engraçado. Pena que as chances são poucas de que papai tenha participado dessa escolha. Esse trocadilho é a cara dele.

O Donald vai ao cais do porto na função de repórter fotográfico de A Patada para fotografar um milionário estrangeiro que teoricamente estaria chegando a Patópolis, e acaba descobrindo que o suposto milionário e sua esposa são, na verdade, os agentes secretos disfarçados. Até o Lobo, que é um cão de pequeno porte, está disfarçado de gato.

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A primeira das trapalhadas dos agentes na história acaba entregando o Donald nas mãos da Bronka, o que faz com que os heróis tenham de voltar para resgatá-lo. E isso, é claro, dá ensejo a mais trapalhadas, cenas de perseguição, tiros, quedas de aeronaves mutantes e demais confusões com engenhocas de todos os tipos, claramente inspiradas nas invenções usadas pelo Agente Secreto James Bond, o 007. Uma das mais engraçadas é certamente esta aqui:

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O interessante é que todos os agentes da Bronka têm o mesmo rosto de cachorro do nariz comprido, incluindo o chefe deles.

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E “A História dos Quadrinhos no Brasil” está esperando a visita de vocês, lá no site da Marsupial.

Bronka Em Ping Pong

Publicada pela primeira vez em 1980, esta é uma aventura de 00-ZÉro e Pata Hari na China.

Todos os clichês sobre histórias de agentes secretos passadas a China se aplicam, é claro, além de mais algumas piadas extras.

00-ZÉro me parece ser claramente inspirado no Agente 86, que por sua vez é uma sátira de James Bond, o Agente 007.

A história tem todos os elementos de um filme de ação: quedas de aeronaves no mar, raptos, fugas, perseguições, adivinhos orientais e até um espetacular, ainda que desastrado, resgate do calabouço.

E tem também todos os “foras” dos agentes desastrados, como principalmente o de não conseguir passar desapercebidos numa missão pretensamente secreta.

A graça da história fica por conta da correria, da bagunça, e das confusões de identidade.

E por falar em identidade, nesta história o Grande Bronka faz uma raríssima aparição de corpo inteiro, incluindo o rosto, caracterizado como chinês de longos bigodes, e acariciando uma oncinha. Será a cara dele, mesmo, ou mais uma máscara? Mistério…