Tás Brincando?!

História dos Irmãos Metralha, publicada uma única vez em 1983.

Trata-se de mais um plano de assalto. Como sempre perfeita na teoria, a coisa toda começa bastante simples e vai se degringolando de maneira cada vez mais estranha até o final tão esperado quanto hilário.

O nome da joalheria, “Agá Esterno” é uma óbvia brincadeira com a conhecida marca “H Stern”. Mas os donos da empresa não precisam se preocupar com o seu bom nome: não apenas o local é descrito como “o mais bem guardado e difícil de assaltar” da cidade, como a incompetência dos próprios Metralhas fará com que eles não consigam chegar nem perto das jóias que tanto cobiçam. Afinal, quem eles pensam que são? O Mancha Negra?

Já o título da história dá a pista crucial sobre quem está por trás de todos os obstáculos que os Metralhas encontrarão pelo caminho, mas provavelmente o leitor, ávido por ler a história em si, deixará passar esse detalhe.

A “Lojica”, que contrasta em sua humildade e simplicidade com a grande e imponente joalheria ao lado, nem nome tem direito. Isso é mais um truque de papai para desviar a atenção do leitor. Quem desconfiaria de algo aparentemente tão insignificante? Mas a surpreendente verdade é que ela, com entrada por uma porta simples e de aparência inofensiva, está cheia de armadilhas. Elas começam com uma fechadura eletrificada e vão se tornando cada vez mais bizarras a cada passo dos Irmãos em direção ao seu interior.

Metralhas brincadeira

É aí que o leitor será totalmente confundido: afinal, o que significa tudo isso? Seria parte das defesas da joalheria? Talvez coisa do Professor Pardal? A resposta é tão óbvia quanto inesperada: é coisa do Metralha Brincalhão, um dos “resgatados” de papai que teria caído no mais total esquecimento se não fosse pela “sobrevida” de mais algumas habilmente criadas poucas histórias. Para papai, não havia “personagem fraco”. O que havia eram personagens mal aproveitados.

O esperado final, que é menos o desfecho da trama e mais um elemento quase obrigatório em histórias Disney desse tipo, detalhe moralizante e mandatório para que não haja dúvida do que necessariamente deve acontecer com ladrões, contém uma discreta dica sobre a autoria da história: o “Biriba” é um personagem dos quadrinhos clássicos que papai citava bastante.

Metralhas brincadeira1

É também uma frase quase profética: pouco mais de 10 anos é o tempo que papai oficialmente passou escrevendo histórias Disney para a Editora Abril, ou seja, “esteve aqui”.

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O Banquete Dos Metralhas

História dos Irmãos Metralha, publicada uma única vez em 1980.

Apesar de ser “palavra proibida”, estar na cadeia tem seu lado bom: lá, pelo menos, não falta comida. Temos aqui uma situação na qual os bandidos estão passando fome. Tudo o que há para se comer no esconderijo são três feijões (para quatro Metralhas) e uma lata de sardinhas… vazia.

A coisa toda até aqui lembra um pouco o curta de animação “Mickey e o Pé de Feijão”, de 1947, que se inicia com uma situação parecida. Mas as semelhanças terminam por aí: aqui não haverá pé de feijão mágico para escalar, mas sim um plano “espertinho” do Intelectual para organizar um banquete.

O plano nem é assim tão maquiavélico, afinal, e nem envolve (em princípio) ter de roubar ou prejudicar ninguém. Se aproveitando do fato de que é uma sexta feira e é também o dia do aniversário do Vovô Metralha, 13 de agosto (quem diria, o Vovô e o Pato Donald têm algo em comum), o Intelectual resolve organizar um banquete no qual cada convidado traz alguma coisa para comer.

Até aí, o plano parece bastante benigno. Todos comem alguma coisa (e nesse tipo de festa costuma até sobrar comida), e ficam felizes. Especialmente os anfitriões, que não vão doar nada além do espaço. O interessante é que ninguém sabia a data de aniversário do velho Metralha. Também, pudera: papai provavelmente a inventou durante o processo de escrever esta história.

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Convidados todos, os parentes vão chegando para a festa: papai faz questão de reunir aqui o maior número deles possível, alguns até bastante obscuros, e vários deles inventados por papai mesmo em outras histórias. Assim, temos o Metralha Veterano, a Titia Metralha, o Tio Zero, o Primo Brincalhão, o Metralha Cientista, Xerloque Metralha, Doutor Metralha, Bombinha, Dedo Duro, Supersensível, Meio Quilo, Tataravô 0001, e (quem diria) se lembraram de convidar até o Azarado 1313.

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O problema é que todo mundo traz galinha ou frango para comer, todas as aves preparadas de acordo com as mais variadas receitas, de frango assado a torta de galinha. Uma receita citada na história, e da qual papai tinha especial horror (só comia frango se fosse forçado) era o galeto ao molho pardo (se alguém tiver interesse, a receita está aqui. Mas já aviso, não é para os paladares mais sensíveis).

O leitor atento sabe quão “pé de chinelo” a família/quadrilha Metralha é, e já deve estar desconfiando da procedência desse “festival de galináceos” todo. A suspeita se confirma com a chegada do homenageado Vovô, que fugiu da prisão especialmente para a ocasião, seguido, é claro, pela polí – bem, vocês sabem quem.