O Primo Meio-Quilo

História dos Irmãos Metralha, de 1977.

E temos aqui mais um adotado: criado no ano anterior por Mark Evanier e Pete Alvarado, o Metralha Meio Quilo é um baixinho muito chato que se acha esperto e quer se arvorar a líder do bando, especialmente quando o Intelectual e o Vovô não estão por perto. Mas não podemos nos esquecer, como sempre, de que toda maldade é burra.

Não que ele não tenha seus momentos de lucidez (seus planos de roubo são certamente melhores do que os planos de seus primos mais altos), mas o Patinhas, como sempre, é mais esperto (e infinitamente mais sutil) ao lidar com possíveis ameaças. Ele não ficou quaquilionário à toa, e sabe, como ninguém, se fazer de bobo à espera da hora certa de agir.

O interessante é como alguns símbolos (e ideias preconcebidas) parecem ser universais: desde sua história de criação, feita no exterior, o personagem leva nos lábios um charuto. Isso, é claro, não é coincidência. O símbolo fálico relacionado a certas crenças comuns sobre homens de baixa estatura é uma referência mais “adulta” que papai conhecia e também usou, de diversas maneiras, em seus personagens baixinhos.

Isso demonstra, aliás, que havia uma preocupação quase universal dos autores Disney da época em fazer quadrinhos a princípio infantis, mas que pudessem ser lidos de maneiras diferentes por pessoas de idades diferentes.

E novamente, se não fosse pelas quatro histórias que papai fez para o Meio Quilo ao longo de quase uma década, ele teria sido mais um “personagem de uma história só”. Ao que parece, criar personagens é mais fácil do que encontrar maneiras de usá-los mais de uma vez.

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A História dos Quadrinhos no Brasil, e-book de autoria de papai, pode ser encontrado na Amazon 

O Banquete Dos Metralhas

História dos Irmãos Metralha, publicada uma única vez em 1980.

Apesar de ser “palavra proibida”, estar na cadeia tem seu lado bom: lá, pelo menos, não falta comida. Temos aqui uma situação na qual os bandidos estão passando fome. Tudo o que há para se comer no esconderijo são três feijões (para quatro Metralhas) e uma lata de sardinhas… vazia.

A coisa toda até aqui lembra um pouco o curta de animação “Mickey e o Pé de Feijão”, de 1947, que se inicia com uma situação parecida. Mas as semelhanças terminam por aí: aqui não haverá pé de feijão mágico para escalar, mas sim um plano “espertinho” do Intelectual para organizar um banquete.

O plano nem é assim tão maquiavélico, afinal, e nem envolve (em princípio) ter de roubar ou prejudicar ninguém. Se aproveitando do fato de que é uma sexta feira e é também o dia do aniversário do Vovô Metralha, 13 de agosto (quem diria, o Vovô e o Pato Donald têm algo em comum), o Intelectual resolve organizar um banquete no qual cada convidado traz alguma coisa para comer.

Até aí, o plano parece bastante benigno. Todos comem alguma coisa (e nesse tipo de festa costuma até sobrar comida), e ficam felizes. Especialmente os anfitriões, que não vão doar nada além do espaço. O interessante é que ninguém sabia a data de aniversário do velho Metralha. Também, pudera: papai provavelmente a inventou durante o processo de escrever esta história.

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Convidados todos, os parentes vão chegando para a festa: papai faz questão de reunir aqui o maior número deles possível, alguns até bastante obscuros, e vários deles inventados por papai mesmo em outras histórias. Assim, temos o Metralha Veterano, a Titia Metralha, o Tio Zero, o Primo Brincalhão, o Metralha Cientista, Xerloque Metralha, Doutor Metralha, Bombinha, Dedo Duro, Supersensível, Meio Quilo, Tataravô 0001, e (quem diria) se lembraram de convidar até o Azarado 1313.

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O problema é que todo mundo traz galinha ou frango para comer, todas as aves preparadas de acordo com as mais variadas receitas, de frango assado a torta de galinha. Uma receita citada na história, e da qual papai tinha especial horror (só comia frango se fosse forçado) era o galeto ao molho pardo (se alguém tiver interesse, a receita está aqui. Mas já aviso, não é para os paladares mais sensíveis).

O leitor atento sabe quão “pé de chinelo” a família/quadrilha Metralha é, e já deve estar desconfiando da procedência desse “festival de galináceos” todo. A suspeita se confirma com a chegada do homenageado Vovô, que fugiu da prisão especialmente para a ocasião, seguido, é claro, pela polí – bem, vocês sabem quem.