A Volta De Sherlock Metralha

Esta história dos Irmãos Metralha, de 1976 é, nada mais, nada menos, o que o “embate do século”, ou um confronto de dois gênios: o “Gênio do Bem”, representado pelo Xerloque Metralha, e o “Gênio do Mal”, na pessoa do Metralha Intelectual.

A questão é que o Metralha regenerado e seu primo bandido se conhecem tão bem, mas tão bem, que cada um dos dois é capaz de adivinhar o que o outro vai fazer. Eles sabem prever, inclusive, quando o outro mudará de planos para tentar despistar. Assim, não adianta o que os Metralhas façam, o Xerloque está sempre um passo à frente.

O plano de hoje é tentar roubar um quadro famoso e valioso, chamado “A Irmã Elisa”, que é, obviamente, uma paródia da Mona Lisa, de Leonardo Da Vinci. O método é um dos mais comuns quando se fala em roubo de arte: dar um jeito de burlar a segurança, e depois trocar a tela original por uma cópia.

Esse tipo de desonestidade é mais comum do que parece, e o mundo da arte sempre esteve cheio de falsários talentosos. O mais famoso da atualidade parece ser Wolfgang Beltracchi, que já esteve preso por produzir obras ao estilo de grandes mestres como Picasso, Gauguin e Monet. Hoje regenerado, ele continua brincando com os estilos de pintores famosos em seus quadros, desta vez assinados com seu próprio nome.

Outro falsário regenerado, Edward Hopper, além de tudo dá aulas de pintura no estilo dos grandes mestres. Uma seleção de videoaulas pode ser vista aqui.

E por falar em “regenerado”, o Xerloque Metralha e seu ajudante, o Doutor Metralha, conseguem atrapalhar o plano dos outros Metralhas com o mesmo método da falsificação e juram que já não são mais bandidos. Mas será que é mesmo verdade?

Por fim, temos hoje uma piada e homenagem interna: a julgar pelos exemplares de revistas do personagem “Satanésio” na banca de jornais, o sonolento jornaleiro desta história é uma caricatura do quadrinista Ruy Perotti, que na época era chefe de papai na Editora Abril.

***************

Já leste o meu livro? Quem ainda não leu está convidado a conhecer minha biografia de papai, à sua espera nas melhores livrarias: Marsupial – Comix – Cultura 

A História dos Quadrinhos no Brasil, e-book de autoria de papai, pode ser encontrado na Amazon 

O Banquete Dos Metralhas

História dos Irmãos Metralha, publicada uma única vez em 1980.

Apesar de ser “palavra proibida”, estar na cadeia tem seu lado bom: lá, pelo menos, não falta comida. Temos aqui uma situação na qual os bandidos estão passando fome. Tudo o que há para se comer no esconderijo são três feijões (para quatro Metralhas) e uma lata de sardinhas… vazia.

A coisa toda até aqui lembra um pouco o curta de animação “Mickey e o Pé de Feijão”, de 1947, que se inicia com uma situação parecida. Mas as semelhanças terminam por aí: aqui não haverá pé de feijão mágico para escalar, mas sim um plano “espertinho” do Intelectual para organizar um banquete.

O plano nem é assim tão maquiavélico, afinal, e nem envolve (em princípio) ter de roubar ou prejudicar ninguém. Se aproveitando do fato de que é uma sexta feira e é também o dia do aniversário do Vovô Metralha, 13 de agosto (quem diria, o Vovô e o Pato Donald têm algo em comum), o Intelectual resolve organizar um banquete no qual cada convidado traz alguma coisa para comer.

Até aí, o plano parece bastante benigno. Todos comem alguma coisa (e nesse tipo de festa costuma até sobrar comida), e ficam felizes. Especialmente os anfitriões, que não vão doar nada além do espaço. O interessante é que ninguém sabia a data de aniversário do velho Metralha. Também, pudera: papai provavelmente a inventou durante o processo de escrever esta história.

banquete

Convidados todos, os parentes vão chegando para a festa: papai faz questão de reunir aqui o maior número deles possível, alguns até bastante obscuros, e vários deles inventados por papai mesmo em outras histórias. Assim, temos o Metralha Veterano, a Titia Metralha, o Tio Zero, o Primo Brincalhão, o Metralha Cientista, Xerloque Metralha, Doutor Metralha, Bombinha, Dedo Duro, Supersensível, Meio Quilo, Tataravô 0001, e (quem diria) se lembraram de convidar até o Azarado 1313.

banquete1

O problema é que todo mundo traz galinha ou frango para comer, todas as aves preparadas de acordo com as mais variadas receitas, de frango assado a torta de galinha. Uma receita citada na história, e da qual papai tinha especial horror (só comia frango se fosse forçado) era o galeto ao molho pardo (se alguém tiver interesse, a receita está aqui. Mas já aviso, não é para os paladares mais sensíveis).

O leitor atento sabe quão “pé de chinelo” a família/quadrilha Metralha é, e já deve estar desconfiando da procedência desse “festival de galináceos” todo. A suspeita se confirma com a chegada do homenageado Vovô, que fugiu da prisão especialmente para a ocasião, seguido, é claro, pela polí – bem, vocês sabem quem.