As Aventuras De Pen-Hur

História do Peninha, de 1984.

Também poderia facilmente se chamar “As Desventuras de Pen Hur”, pela quantidade de encrencas pelas quais o herói terá de passar, mas “Aventuras” também está ótimo.

A inspiração vem do clássico filme “Ben Hur”, de 1959, estrelado por Charlton Heston. Juntamente com “Cleópatra” e outros do gênero, este foi um daqueles filmes épicos que marcaram várias gerações, chegando aos anos 1970 e 1980 ainda com a mesma fama e capacidade de cativar os espectadores.

A trama de papai como de costume consegue transformar um grande drama em uma comédia, mas ainda assim é razoavelmente fiel ao original. Quem conhecer a história do filme e ler a HQ, ou, ao contrário, ler a HQ e depois for ver o filme, certamente reconhecerá boa parte da história.

Os nomes dos personagens são todos adaptados, é claro, para um maior efeito cômico. Assim, o centurião Messala, principal vilão da história vira “Xatus Pacas”, por motivos óbvios, e o “centurião bom”, de nome Arrios, acaba virando “Arrius Equus”, em uma brincadeira com a expressão “arre, égua” e uma alusão ao amor dos romanos antigos por seus cavalos.

Alguns elementos são mantidos, como a mocinha por quem o herói é apaixonado sendo prometida contra a vontade a outro, as galés e a corrida de bigas, pontos fortes do filme. Outros elementos são atenuados, como a tentativa de suicídio do centurião bonzinho, que vira um acidente de quase afogamento no mar, e ainda outros são totalmente eliminados, como a existência da mãe e da irmã do herói, a doença delas e as referências ao Cristianismo. Essas partes mais trágicas e religiosas não “cabem” no estilo da Disney nem no número de páginas proposto para as histórias.

Como sempre, é um bom ponto de partida para que o leitor vá pesquisar mais um pouco, e de preferência ler um livro ou assistir a um filme ou dois.

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As Caçadoras da Arca Perdida – Parte 2 – Inédita

Esta terceira e última “história testamento”, escrita em 04/07/1993 e jamais publicada, não deixa nada a desejar até mesmo em comparação com as histórias de Natal Premiadas de papai: até milagre vai ter, no final, com direito à descoberta definitiva da Arca da Aliança e a revelação da verdadeira identidade do Professor Said Mulla.

A página de rafe da Editora abril é um pouquinho larga demais para o meu scanner, mas ele deixou várias notas com instruções nas margens. Na primeira página, por exemplo, o lado israelense do Rio Jordão é verdejante, enquanto o da jordânia é puro deserto. O que parece um coqueiro, na terceira página, é na verdade uma tamareira. E na página 9, os metralhas sobre camelos usam a Cafia jordaniana, quadriculada em vermelho e branco.

Na segunda página, toda a história que o Professor Said conta é verídica. Essa é a verdadeira lenda judaica de como a “Arca Perdida” se perdeu. Mas a partir do momento em que o Pardal chega a Israel, a história toda toma um rumo mais fantasioso. Mas tudo bem, afinal, não há prova alguma sobre a atual localização dos objetos sagrados do povo judeu.

No final, o “Professor Said” revela ser, na verdade, o “Professor Zaid”, arqueólogo judeu e diretor do Museu de Jerusalém. Essa é uma maneira romanceada que papai achou para explicar sua mudança de país e de nome, com toda a carga cultural e emocional que isso acarreta.

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As Caçadoras da Arca Perdida – Inédita

Esta é a segunda “história testamento” de papai, de três que ele escreveu em sua fase final. A personagem principal é a Margarida, juntamente com as amigas do “Clube da Aventura”, e ela foi composta em 12 de junho de 1993.

Esta trama é uma impressão da vivência de papai na Terra Santa, uma ode a Jerusalém e ao Estado de Israel, e é claramente inspirada no filme sobre o mesmo tema do personagem Indiana Jones. Tanto, que desta vez ele se coloca como um dos personagens centrais, sob o nome de Professor Said Mulla, um arqueólogo árabe da Autoridade das Antiguidades de Israel.

Said era o apelido dele na Abril (e fui eu quem comentou com ele, ainda nos anos 1980, que parecia um nome árabe) e “Mulla” é uma brincadeira que mistura o título Mullah, uma espécie de líder religioso muçulmano, e o nome de um animal que é resultado do cruzamento de um jumento com uma égua. O nome do personagem acaba soando como “saí de mula”.

A importância que papai dava à história se vê no uso das folhas de Rough que a Editora enviava pelos correios, que eram poucas para a criatividade e produção intensas dele. Assim, ele as guardou para as criações realmente importantes, do ponto de vista dele, é claro. Esta é uma história que dificilmente se encaixaria no “modelo Disney”, por toda a carga política que o tema “Israel” carrega, por si só..

A história versa sobre o paradeiro da famosa Arca da Aliança, que – dizem – pode estar no Egito (teoria do Indiana Jones), lá mesmo no Monte do Templo, escondida em algum canto (teoria pouco provável, especialmente após as escavações criminosas dos Palestinos sob o  Monte, nos chamados “estábulos de Salomão”), na Etiópia, ou até mesmo em Oak Island, na costa do Canadá.

Papai acreditava mais na narrativa do desaparecimento da Arca no livro bíblico de II Macabeus, no qual se relata que o profeta Jeremias a teria escondido em uma caverna no Monte Nebo, que hoje fica na Jordânia.

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Sobre estes anúncios

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Achbar Hamidbar (O Rato do Deserto) 1991

Enquanto estávamos em Israel, papai continuou desenhando e tentando fazer algo na direção dos quadrinhos, ou charges. Mas isso infelizmente não era muito uma parte da cultura por lá, e um dos únicos jornais que publicavam charges ou páginas de quadrinhos, talvez o único na época, era o Jerusalem Post, em inglês.

O fato é que sua arte não foi lá muito compreendida pelos israelenses, mas isso não o impediu de continuar tentando. Uma de suas tentativas foi uma série de cartuns/tiras satíricas, mais ou menos no estilo do Rei Napo, mas adaptada à realidade percebida pelos novos imigrantes no país: as dificuldades em encontrar moradia a preços acessíveis, ou mesmo trabalho, o intenso calor, as dificuldades de comunicação com os israelenses nativos, e a guerra com os árabes dos países em volta.

Reconheço que o formato de “rato” dos personagens, por suas péssimas conotações na iconografia antissemita nazista, talvez não tenha sido das mais simpáticas aos olhos dos israelenses, apesar de que Art Spiegelman também usou algo parecido (e bem mais sombrio) em seu “Maus“, com bastante sucesso.

Outro problema talvez tenha sido o espírito bastante crítico das tirinhas. Na cultura israelense, não se espera que os recém chegados tenham críticas à política do país que os abriga. É visto meio que como “falta de gratidão”. Tenho certeza que a intenção de papai passou longe disso, e que tudo o que ele queria era realmente fazer humor com as próprias dificuldades, rir um pouco de si próprio numa situação séria, já que isto também é uma característica do humor judaico.

Além dos ratos, que representam os novos imigrantes e suas dificuldades de adaptação, temos também a sempre presente figura do sol escaldante acima e também os cactus, que a tudo observam, meio de longe. Na cultura israelense essas plantas espinhosas representam os nascidos no país. Na imaginação deles, se consideram “espinhosos por fora mas doces por dentro”, como os frutos do Tzabar, o cactus da Terra de Israel.

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Emprego – Rato: Mas que espantalho perfeito! Parece uma pessoa viva… – Espantalho: Sou um novo imigrante, e este é o único emprego que encontrei!

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Guerra do Golfo, 1991 – Rato: Detesto estes novos modelos… (de máscara contra gases)

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Calor – Rato 1: Está muito quente hoje! Rato 2: O calor ataca os nervos (notem o cactus ao fundo, criando vida aos poucos) Cactus: O calor resseca o cérebro! Rato 1: Quieto! Você é apenas mais um efeito do calor…

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Moradia – Rato 1: Aquele é o Boris… ele tem uma moradia melhor que a minha! Rato 2: Ele paga aluguel? Rato 1: Não exatamente… ele mora debaixo de um grande casaco, que trouxe de seu país. (A plaquinha acima do guarda chuva que serve de moradia ao rato diz: “minha mansão”)

Perdoem a qualidade um pouco estranha das imagens, mas o papel de desenho que ele usou é um pouco grande demais para a minha impressora, então decidi fotografar. Há várias outras tiras como essas, mas acho que já dá para ter uma ideia do que foi o Rato do Deserto.

A verdade é que até hoje os cidadãos de Israel, tanto imigrantes quanto nascidos lá, ainda enfrentam sérios problemas com moradia e empregos. O conflito aparentemente interminável não faz nada bem para a economia, infelizmente.

Mais sobre o tempo em que moramos em Israel pode ser encontrado no meu livro:

Marsupial: http://www.lojamarsupial.com.br/ivan-saidenberg-o-homem-que-rabiscava

Comix: http://www.comix.com.br/product_info.php?products_id=23238

Ilustrações, anos 1990

Quando viveu em Israel, papai tentou se lançar como ilustrador. Teve vários clientes ao longo dos anos, mas nunca conseguiu realmente estabelecer uma carreira. Em todo caso, deixo aqui o registro de alguns desenhos que ele fez naqueles tempos.

O primeiro é uma ilustração para a capa de um livro de “Exercícios em Gematria e as 4 Operações”, de autoria de David Shlomo. Não sei se a ideia foi comprada, realmente. Gematria é a “numerologia” judaica, onde cada letra do alfabeto representa um número. Por isso, os números nos balões próximos aos animais representam o valor numérico de seus nomes em hebraico:

Gematria

O segundo é uma ilustração para uma história que mamãe pensou em escrever, com o tema “festa dos brinquedos”, aquela crença de que eles criam vida quando as crianças não estão olhando. A história em si não chegou ao papel, mas papai preparou a ilustração assim mesmo.

Brinquedos

Ambas são coloridas com lápis aquarelável.

Cartões Postais da Terra Santa, anos 1990

Papai idealizou estes cartões postais que mostram os personagens Disney passeando por Israel logo que chegou ao país. Ele também chegou a visitar todos estes pontos turísticos, daí a ideia.

Ele mesmo desenhou o lápis e colocou o nanquim, e eles permanecem inéditos até hoje. Eu sei que é sábado, e saibam que este blog está meio que em marcha lenta por causa dos feriados (ei, eu também mereço umas férias), mas apresento-os aqui como uma espécie de presente de boas festas.

1) Beit Shean

Beit Shean

 

2) Cesareia (o Zé está pensando “zzz”, em hebraico)

Cesareia

3) Jerusalém, Muro Ocidental

Jerusalem

4) Mar Morto (formação de sal em forma de coluna conhecida como “Esposa de Lot“, mas há outras “candidatas” na região)

Mar Morto

5) Mar Vermelho, Eilat

Mar Vermelho

6) Massada (você pode subir ou descer o monte com o bondinho, ou por uma trilha, à sua escolha)

Massada

7) Monte Hermon, estação de esqui nas Colinas do Golan

Monte Hermon

8) Nitzana

Nitzana

9) Rio Jordão, local do batismo

Rio Jordao

10) Tel Aviv, Fonte de Água e Fogo (note-se a predileção de papai pelo Zé Carioca de chapéu, guarda chuva e paletó, ao estilo clássico)

Tel Aviv

Urtigão, 1993

 

 

Só uma página de uma história inédita, algo que papai rascunhou em 1993, quando ainda vivíamos em Israel. Notem o logotipo em Hebraico na página que ele “pegou emprestada” do Instituto de Seguridade Social (Mossad Lebituah Leumi), onde trabalhava na época.

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Note-se, também, que o “rafe” (rascunho) de papai era bem melhor e mais detalhado do que o que era comum para outros argumentistas. É por isso que eu digo que na maioria dos casos os desenhistas do estúdio “só” precisavam passar a tinta nos desenhos de papai, adicionar uns detalhes, dar um jeitinho aqui e ali… mas fora isso, a história já saía da mesa de papai bem definida, e deixava pouco espaço para inserções dos desenhistas.

Meu Pai

Em dias de glória

Em dias de glória

Ivan Saidenberg (Piracicaba, 12 de novembro de 1940 — Santos, 30 de setembro de 2009) foi um quadrinista brasileiro.

Iniciou-se nos quadrinhos (banda desenhada) em 1960, juntamente com seu irmão, Luiz Saidenberg, fazendo HQs de terror e aventura para as editoras Outubro, La Selva, Taika e Penteado. Como Luiz fazia as ilustrações, Ivan especializou-se em roteiros e argumentos, embora fosse também desenhista.

Em 1970 entrou para os Estúdios Disney da Editora Abril, onde ficou até 1985, escrevendo ao longo de sua carreira cerca de mil roteiros para diversos personagens, entre eles, Zé Carioca, Pato Donald, Peninha, Mickey e Pateta, e trabalhando ao lado de artistas como Renato Canini e Waldyr Igayara. Para os Estúdios Disney, criou o Morcego Vermelho, Morcego Verde (Zé Carioca), Pena Kid, Pena das Selvas, Penado (O Espírito que Desanda) e os primos do Zé Carioca, entre outros.

Seus esboços (rough) ficaram conhecidos dentro dos Estúdios Disney pelo dinamismo e pela fluidez de movimento dos personagens, às vezes perdidos na passagem para o nanquim, que exigiam atenção redobrada dos profissionais da arte-final. Escreveu outras várias centenas de roteiros para estúdios brasileiros, tendo colaborado com a Turma do Pererê, de Ziraldo, a Turma do Lambe-Lambe, de Daniel Azulay, e a Turma da Fofura, de Ely Barbosa, juntamente com a esposa Thereza e a filha Lucila.

Criou também personagens próprios, como o piloto de corridas Va-Va-Vum (revista Crás) e Rei Napo, o Leão, sátira política ao governo de João Batista Figueiredo, publicada pelo jornal City News, de Campinas, onde morou de 1971 a 1988. Viveu ainda por dezesseis anos no Estado de Israel, onde ilustrou histórias infantis de autoria de sua esposa, Thereza.

Recentemente voltou ao Brasil e a colaborar com HQs da Editora Abril. Saidenberg faleceu em 30 de setembro de 2009, devido complicações do diabetes e insuficiência arterial.

(Fonte: Wikipedia)