Heróis que não tão no gibi – Inédita

História do Zé Carioca, de 10 páginas, composta em 10 de abril de 1993 e nunca publicada.

A trama começa simples, boba até, e vai se complicando rapidamente, quase que de um quadrinho ao outro. O Zé se disfarça para despistar um cobrador, mas acaba espalhando boatos sobre um bandido e uma recompensa, e acaba alvoroçando a turma toda.

A história chegou a ser enviada à redação para avaliação, e foi devolvida com várias marcações, que podem ser vistas em azul em algumas das páginas. As “sombras” do lápis apagado em alguns balões mostram que ele chegou a fazer reformulações, talvez até mesmo durante o processo de criação, ou como preparação para tentar uma nova avaliação.

Ela foi devolvida também com uma folha de rosto contendo comentários mais detalhados, mas papai não costumava guardar esse tipo de coisa. Ele sabia que fazia parte do trabalho, mas não gostava nadinha delas, e seguia a máxima de Chico Buarque, de quem era fã: “todo artista tem que tomar as críticas como se fossem tapas na cara”. O fato é que alguns tapas podem até servir para (ou ter a intenção de) fazer uma pessoa despertar, cair em si e entender algo, mas todos doem e alguns até ofendem.

Sobre as marcações em si nesta história, algumas servem para lembrar papai de detalhes como o nome da “identidade secreta” do Zé Galo, por exemplo, ou citar referências, e outras servem como revisão de texto para palavras repetidas sem necessidade.

Mas com uma em especial eu não concordo. Ela está no topo da segunda página, acusando a repetição da frase “grande novidade”. É que cada balão tem um tom: no primeiro, o Nestor não está nada animado com a ideia de um bandido estar escondido na vila. Já no segundo, ele fica animadíssimo ao ouvir falar de recompensa.

Uma última anotação, na página 9, expressa um certo desconforto com o nome da “identidade secreta” da Gilda. Papai quis fazer uma brincadeira com o personagem de capa e espada Zorro mas, realmente, a expressão “Zorra” fica meio estranha. Hoje um pouco menos, por causa de certos programas de TV, mas creio que há 23 anos essa palavra não era tão comum de se ouvir.

Digno de nota é o uso do Soneca, o fiel cachorrinho do Zé, que só papai realmente soube usar. Também interessante é a abordagem bastante “feminística” do finalzinho. Papai estava começando a pegar o jeito dos novos tempos.

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