A Chegada Da Prima Vera

História do Zé Carioca, de 1982.

Esta é a primeira história (de duas) que papai compôs para a personagem Vera, uma adição à turma da Vila Xurupita que era inspirada em uma prima dele na vida real. Aqui, ela é parente do Nestor. A outra história, chamada “A Paixão do Pedrão”, já foi comentada neste blog.

A “Prima Vera” é uma garota muito bonita, e por isso mesmo atrai a atenção (algumas vezes indesejada) dos rapazes, e os ciúmes (frequentemente injustificados) das outras moças. A crise de ciúmes da Rosinha (e como o Zé lidará com isso) será uma parte central da trama.

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Mas além de ser uma celebração da estação do ano Primavera (muito apropriadamente, ela foi publicada pela primeira vez no mês de setembro) a história serve para mostrar que a Vila Xurupita está progredindo: ao time (e estádio!) de futebol e à escola de samba é adicionado um clube, onde a turma do agora bairro (que deixou de ser favela no ano anterior sob os auspícios do Gênio Eugênio), pode se reunir e fazer suas festas.

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Mais detalhes sobre de onde veio a ideia para a criação da personagem Prima Vera podem ser lidos na postagem “Pedrão, o fim do mistério” aqui neste mesmo Blog.

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Uma Tevê para Xicória

História da Xicória, de Daniel Azulay, escrita em junho de 1982 e publicada pela Editora Abril na revista “Turma do Lambe-Lambe” número 9 em janeiro de 1983.

A televisão é um fenômeno no Brasil por ser quase universal, até mesmo entre pessoas sem as mínimas condições financeiras. Esse nunca foi um aparelho barato, mas nos anos 1970 e 1980 era comum encontrar famílias que viviam em favelas, mal tinham o que comer, não tinham sequer uma geladeira no barraco em que viviam (para não falar de outros eletrodomésticos), mas que tinham o bendito aparelho de TV e a indefectível anteninha em cima do telhado de folhas de lata.

E, com a TV, vem o hábito quase irrefletido de assistir novelas. Nas rodinhas de conversa entre vizinhas e amigas (principalmente mulheres, mas os homens também, quando as mulheres não estavam ouvindo), comentar as novelas era algo comum, uma conversa corriqueira como comentar o clima, por exemplo. Ver novelas era algo que todo mundo fazia, e quem não tinha TV (ou não assistia novelas) podia se sentir positivamente um excluído.

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Papai nunca se sentiu confortável com o aparelho de TV dentro de casa. Para ele a “máquina de fazer loucos” (como ele a chamava), com sua constante demanda por atenção, fosse por causa dos programas ou principalmente dos sempre estridentes e barulhentos anúncios, era uma intrusa e uma perturbação.

Já mamãe e eu, talvez por causa do ofício de argumentista (mais dela do que meu, naquele tempo), sempre achamos as novelas meio que um insulto à nossa inteligência. As tramas sempre foram fracas, tecidas ao sabor das preferências do público, frequentemente com personagens que mudavam radicalmente de personalidade no meio da história sem motivo aparente e cheias de pontas soltas e reviravoltas ilógicas.

Assistir novelas nunca foi (e continua não sendo) um hábito automático em nossa casa e, em um tempo em que elas eram o assunto principal das rodinhas de conversa, algumas vezes fomos confrontadas com olhares espantados em festinhas de aniversário e outros eventos sociais por causa disso.

Nesta história é a empregada Xicória que, sentindo-se excluída da conversa, pede um aparelho de TV ao Professor Pirajá, que vive na floresta justamente para escapar das distrações da vida moderna e poder pensar melhor. A maneira como a solução do problema da TV e da novela causa outros problemas mas acaba levando a uma solução criativa é a linha central do roteiro desta história.

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Problemas Do Coração

História do Zé Carioca, composta no início de 1977 com o nome de “O Dia Dos Namorados” e publicada pela primeira vez em junho de 1978

O Zé está sempre sem dinheiro, mas só parece sentir falta dele quando precisa agradar a Rosinha por ocasião de datas especiais, como o Natal e o Dia dos Namorados.

Como se sabe, quando papai foi chamado para fazer as histórias do papagaio verde, o personagem ainda não estava bem desenvolvido. Nem “turma” ele tinha direito. Papai foi adicionando personagens coadjuvantes aos poucos mas, depois de algum tempo, certamente percebeu que o único ali que tinha uma namorada era o Zé.

Isso fazia com que os amigos Nestor e Pedrão não fossem nem um pouco compreensivos com os problemas amorosos do Zé. Além disso, essa é uma situação que não parece nada natural. Afinal, todo mundo, ou quase todo mundo, tem alguém por quem tem um interesse romântico.

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Desse modo, hoje vemos que a Gilda foi criada por papai especialmente para ser a namorada do Nestor, em algo como um eco não intencional de Gênesis 2:18. O fato é que formar pares é uma necessidade humana que acaba se refletindo também na literatura em todas as suas formas. Alguns anos depois, ele faria a mesma coisa para outro “solteirão” da Vila, o Pedrão.

O interessante é a maneira como a história tem uma reviravolta de 180 graus. O Nestor começa sugerindo que o Zé desista da Rosinha, somente para acabar ele mesmo se apaixonando no final. Não existe, aliás, coisa mais canalha e deselegante do que terminar um relacionamento às vésperas de datas importantes somente para não ter que dar presente. Crianças, não façam isso em casa!

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Detetive Embolado

História da Turma do Lambe Lambe, de Daniel Azulay, escrita em maio de 1982 e publicada pela Editora Abril na revista da turma de número 8 em dezembro do mesmo ano.

É um daqueles pequenos mistérios resolvidos muito por acaso por um detetive totalmente inepto que poderia também se passar na Vila Xurupita, protagonizada pelo Zé Carioca. O estilo é o mesmo.

A expressão “embolado” no nome da história geralmente é usada mais em conexão com “bola” do que com “bolo”, mas pode também ser uma alusão ao formato arredondado do personagem elefante.

As meninas da turma abrem o mais recente empreendimento de uma longa série, desta vez uma loja de bijuterias finas. Como muitos tipos de lojas, parece uma boa ideia. Mas, também como em muitos outros tipos de negócios no Brasil, difícil de levar em frente. Essa realidade é bem representada na primeira página da história. A música que a menina canta é uma marchinha de Carnaval da época, chamada “Massa Real

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O resto é a confusão com o sumiço de um anel que seria uma cópia perfeita de algo que aparentemente estava em uma novela da TV da época, e fazia bastante sucesso. Vender bijuterias semelhantes a jóias famosas ou a coisas que aparecem na TV tem sido uma boa estratégia de marketing. Parece que as meninas estão no caminho certo.

É claro que o leitor também se sentirá convidado a investigar, entre muitas pistas falsas e linhas de investigação que não levam a nada. A principal pista sobre o paradeiro do anel e do “responsável” por seu desaparecimento está na cena abaixo. Como sempre nos mistérios de detetive de papai, o culpado é o menos suspeito.

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Dançando na Corda Bamba – Inédita

História do Zé Carioca, criada em 17 de maio de 1993 e nunca publicada.

De todos os planos do Zé Carioca para levantar uma graninha com pouco esforço, este é certamente o “menos honesto”, e isso dá a esta história um estilo um pouco mais “alternativo” do que à maioria das outras criadas por papai.

É provavelmente por isso mesmo que ela nunca foi comprada, nem na primeira e nem na segunda vez em que foi apresentada à turma da Abril.

Mas, como diziam os antigos, “a mentira tem asas, mas tem pernas curtas, e a verdade é uma velhinha que mora no fundo de um poço”. Quando a verdade finalmente consegue sair do poço, sempre escalando as paredes com muito esforço, a mentira perde suas asas e, por ter pernas curtas, não consegue mais fugir.

A trama de hoje, mais do que ser somente sobre o plano do Zé, é inspirada por um antigo samba de Ismael Silva chamado “Antonico“. O nosso anti-herói canta a primeira estrofe todinha na primeira página. “Dançar na corda bamba” era uma antiga gíria que queria dizer “passar por grandes dificuldades na vida”.

Já a cena mais engraçada desta história certamente está na página 05: os Anacozecos não apenas nunca conseguiram cobrar o Zé, como desta vez darão dinheiro (!) a ele. No final, é tudo um grande elogio e uma homenagem ao Nestor, o amigo fiel para todas as horas, pois aqui vemos o quanto ele é querido por todos na Vila Xurupita.

O Nestor é, aliás, tão “boa praça” que em momento algum nesta história fica bravo com o Zé por causa da trapaça que o papagaio tentou aprontar.

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Heróis que não tão no gibi – Inédita

História do Zé Carioca, de 10 páginas, composta em 10 de abril de 1993 e nunca publicada.

A trama começa simples, boba até, e vai se complicando rapidamente, quase que de um quadrinho ao outro. O Zé se disfarça para despistar um cobrador, mas acaba espalhando boatos sobre um bandido e uma recompensa, e acaba alvoroçando a turma toda.

A história chegou a ser enviada à redação para avaliação, e foi devolvida com várias marcações, que podem ser vistas em azul em algumas das páginas. As “sombras” do lápis apagado em alguns balões mostram que ele chegou a fazer reformulações, talvez até mesmo durante o processo de criação, ou como preparação para tentar uma nova avaliação.

Ela foi devolvida também com uma folha de rosto contendo comentários mais detalhados, mas papai não costumava guardar esse tipo de coisa. Ele sabia que fazia parte do trabalho, mas não gostava nadinha delas, e seguia a máxima de Chico Buarque, de quem era fã: “todo artista tem que tomar as críticas como se fossem tapas na cara”. O fato é que alguns tapas podem até servir para (ou ter a intenção de) fazer uma pessoa despertar, cair em si e entender algo, mas todos doem e alguns até ofendem.

Sobre as marcações em si nesta história, algumas servem para lembrar papai de detalhes como o nome da “identidade secreta” do Zé Galo, por exemplo, ou citar referências, e outras servem como revisão de texto para palavras repetidas sem necessidade.

Mas com uma em especial eu não concordo. Ela está no topo da segunda página, acusando a repetição da frase “grande novidade”. É que cada balão tem um tom: no primeiro, o Nestor não está nada animado com a ideia de um bandido estar escondido na vila. Já no segundo, ele fica animadíssimo ao ouvir falar de recompensa.

Uma última anotação, na página 9, expressa um certo desconforto com o nome da “identidade secreta” da Gilda. Papai quis fazer uma brincadeira com o personagem de capa e espada Zorro mas, realmente, a expressão “Zorra” fica meio estranha. Hoje um pouco menos, por causa de certos programas de TV, mas creio que há 23 anos essa palavra não era tão comum de se ouvir.

Digno de nota é o uso do Soneca, o fiel cachorrinho do Zé, que só papai realmente soube usar. Também interessante é a abordagem bastante “feminística” do finalzinho. Papai estava começando a pegar o jeito dos novos tempos.

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Olimpíadas Na Vila

História do Zé Carioca, de 1984.

Sempre que uma Olimpíada acontece, de quatro em quatro anos em algum lugar do mundo, surgem também as “modinhas” de competições esportivas a torto e a direito. Todo mundo se acha quase na obrigação de organizar uma “olimpíada de bairro”, ou coisa parecida, em “homenagem” ao grande evento, ou pelo menos para se sentir mais “antenado” com o que está acontecendo no mundo.

É claro que, passado o evento, que todo mundo assiste sentado na frente da TV com a pipoca e o refri no colo, as pessoas comuns voltam à vida  sedentária de sempre com aquele vago sentimento de dever cumprido. Todo mundo, menos o Zé Carioca. Adepto da lei do menor esforço, ele não vê lógica nenhuma em fazer essa correria toda só para depois voltar para a cama por mais 4 anos. Assim, ele nem se preocupa em aderir à modinha.

O problema aqui, pelo menos para o Zé, vai ser a pressão do grupo. Com a turma da Vila Xurupita ele nem se impressiona mais, mas uma “força maior” ainda é capaz de fazê-lo saltar da cama e sair correndo alucinadamente, mesmo sem ter um tostão no bolso, como sempre. A ANACOZECA. O pavor que ele tem dos cobradores é mais forte do que qualquer vontade de ficar deitado.

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Mas a presença da ANACOZECA cria uma situação delicada. Por um lado, a Rosinha tem a ideia de fazer o Zé correr com os quatro cobradores atrás nas “Olimpíadas da Vila”, porque desse modo ele seria invencível. Ninguém corre mais do que o Zé Carioca quando está fugindo de uma cobrança.

Por outro lado, o Zé está liso e sem dinheiro, daí que ele não tem por que correr. Mesmo com a Rosinha dando a ele um emprego temporário, para que ele tenha o dinheiro e a motivação, a principal regra das histórias de cobrador é que eles nunca conseguem cobrar o Zé de verdade, esteja ele com dinheiro ou não.

Desse modo, papai se coloca em uma “sinuca de bico” criativa: O Zé não pode desapontar a Rosinha e voltar para a cama, simplesmente. Seria uma desfeita grande demais. Melhor seria se ele fosse realmente competir, e ainda por cima fizesse bonito. E apesar dos esforços da Rosinha para transformar o Zé em um cidadão de bem, pagador de suas dívidas, os Anacozecos não podem, absolutamente, conseguir cobrar o Zé. Nunca, nunquinha, em momento algum.

E agora, José? Quero dizer, e agora, Said? Essa não é a Grande Corrida de Tartarugas, e não é uma coisa muito bonita usar o papagaio como se ele fosse algum tipo de “isca”. Não é assim que se compete em um esporte sério. Além disso, mesmo que o Zé conseguisse correr dos cobradores, ganhar a corrida e ainda por cima escapar com a grana, seria óbvio demais colocar na história a cena que a Rosinha imaginou para as Olimpíadas locais. Em termos de composição da história em quadrinhos, o leitor já está com a cena na imaginação, e não haveria surpresa nem graça nenhuma em uma mera repetição.

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A solução encontrada foi meio mirabolante, mas não deixa de ser criativa. Ela também se encaixa direitinho na trama, já que uma instalação portuária pode mesmo conter alguns equipamentos bastante perigosos. E como se não bastasse, o Zé não seria o primeiro herói dos quadrinhos a ganhar “poderes” ao entrar em contato com algum tipo de radiação atômica. O Homem Aranha e o Hulk são dois exemplos clássicos disso.

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Monkix: http://www.monkix.com.br/serie-recordatorio/ivan-saidenberg-o-homem-que-rabiscava-serie-recordatorio.html

Gilda em Hollywood

História da Turma do Lambe Lambe, de Daniel Azulay, criada em julho de 1982 e publicada pela Editora Abril em novembro do mesmo ano.

Pode-se dizer que este foi mais um de vários “projetos especiais”, dos quais papai era convidado a participar de tempos em tempos. A cada vez que aparecia um novo autor para publicar seu projeto pela Abril, a “casa” disponibilizava seus melhores artistas para participar, e papai entre eles.

A “paleta de personagens” de Azulay mistura figuras mistas de animais, como ocorre com os personagens da Disney, e seres mais antropomórficos, ao estilo MSP e Ely Barbosa. Ao que parece, quanto mais jovem o personagem, menor a chance de ele ser representado como um animal. Todas as crianças representadas têm uma aparência bastante humana. Já os adultos são todos meio zoomórficos.

Já a história em si é uma aventura em Hollywood, que logo de saída começa com a Gilda, uma personagem atriz e cantora com cara de vaca que lembra bastante a Clarabela da Disney (e Gilda, um filme clássico dos anos 1940), saindo do avião para participar da gravação de um filme.

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É uma comédia de erros, com muitas confusões, um caso de identidade trocada, uma crise de soluços que ameaça por tudo a perder e até mesmo tietagem por parte do Bufunfa, o elefante namorado da Gilda, com uma atriz famosa. O nome da tal atriz, Bô Dearaque, é um daqueles trocadilhos que com o tempo se tornaram uma marca registrada de papai, e uma referência à atriz Bo Derek.

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A Paixão Do Pedrão

História do Zé Carioca, publicada uma única vez em 1984.

O tema, aqui, é “dia dos namorados”. Todo mundo na vila está namorando. O Zé com a Rosinha, o Nestor com a Gilda, e até o Afonsinho, com uma moça de aparência bastante desengonçada, como ele próprio. Todos, quer dizer, menos o Pedrão. Esse é o “do contra”. Não tem namorada, e acha que não precisa, que é “perda de tempo”, e que é melhor ir cuidar de sua granja em vez de ficar de namoricos.

A “granja” é a área em volta da casa do Pedrão, que é um pouco mais afastada das demais casas da Vila Xurupita. Lá ele plantou um pomar, completo com jaqueira e bananeira, além de goiabas e outras frutas comuns em plantações desse tipo nas casas do interior (e até das cidades) dos tempos de infância de papai, frutas essas que o Zé adora “pegar emprestado” de vez em quando. Esse pomar já foi mostrado com mais detalhes em histórias como “O Caso das Frutas Furtadas”, já comentado aqui. Para a área merecer a denominação de granja, o Pedrão provavelmente está criando galinhas no quintal, também.

O caso é que é dia dos namorados e o Zé precisa retribuir o presente da Rosinha, mas como sempre – está sem dinheiro. Por isso ele tem a ideia de fazer uma aposta com o Pedrão, que se acha “imune” às coisas do amor, e até arma um truque para fazer o amigo se apaixonar ainda naquele mesmo dia e pagar o presente que ele quer dar à namorada. Mas a verdade é que nem vai ser preciso planejar tanto, e nem mesmo passar a perna no proprietário da granja de quintal. Ninguém é realmente imune à magia do amor, especialmente no dia dos namorados.

A chegada de uma parente do Nestor criada por papai em 1982, a bela Prima Vera (um jogo de palavras com a estação do ano “Primavera”) vem a calhar para o plano. O duplo “V” no nome da viação no ônibus no qual ela chegou (e como mulher sofre! Lembrem-se, rapazes, respeito não é favor, é obrigação) é uma abreviação de “Viação Vai e Volta”.

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O tanque na área de serviço da casa do Pedrão também é algo que era comum em casas do país inteiro, e que tínhamos, nós também, na nossa casa em Campinas. A diferença é que, em casa, essa área era coberta e fechada. Esses elementos visuais não são coincidência, nem inserção do desenhista. Papai tinha o maior cuidado em dar um ar genuinamente brasileiro, e o mais autêntico possível, às histórias do Zé Carioca. A intenção era mostrar o Brasil como ele realmente é, e não de acordo com a “visão americanizada” das primeiras histórias do personagem, quando de sua criação.

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Joga Lenha Na Fogueira

Em 1981 as casas da Vila Xurupita já são de alvenaria, mas as cercas entre elas continuam sendo de madeira.

Mais uma vez é noite de São João e mais uma vez o Zé Carioca não foi convidado para festa nenhuma. Acontece que o Nestor também não foi convidado, e pelo jeito mais ninguém da turma. Pior: ninguém parece ter tido a iniciativa de planejar uma festa e convidar os outros.

É então que o Zé se toca que fazer uma festa em comunidade é muito mais fácil do que parece. Basta que cada um traga alguma coisa para comer ou beber, e está feito. Só que o papagaio nunca tem nada para comer em casa, e por isso fica com a tarefa de arranjar a madeira para a fogueira.

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Não é por acaso, nem é inserção do desenhista, que há cercas de madeira ao fundo em três dos seis quadrinhos da primeira página, e em vários quadrinhos da segunda e terceira, também. Elas são tão “personagens” desta história quanto todos os outros. Papai queria que elas ficassem bem à vista, mas que ao mesmo tempo passassem despercebidas como algo “sem importância”, como as principais pistas e suspeitos dos melhores romances policiais que ele gostava de ler.

Quando o Zé já está acendendo uma curiosa fogueira de tábuas todos chegam de volta para a festa, cada um trazendo algo para comer ou beber. É neste momento que a trama se transforma em um pequeno mistério: todos voltam contando que ouviram barulhos esquisitos em seus quintais. O Pedrão até deixou queimar a pipoca, por causa disso. Todos conjecturam: será um ladrão, um alienígena, um fantasma da noite de São João?

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Até aí, o leitor atento já se deu conta do que está acontecendo. Mas enquanto a turma não desconfia, o Zé pelo menos tem tempo de se divertir, dançar, comer e beber um pouco. Quando os amigos descobrem de onde, exatamente, veio a madeira para a fogueira eles só poupam o Zé de uma surra porque a ideia da festa foi ótima e todos estão se divertindo.

Mas ele não vai escapar de ser punido, é claro. O problema é: se estava assim tão difícil arrumar madeira para a fogueira, onde ele vai arranjar as tábuas para refazer as cercas de todos?