História do Zé Carioca, de 1984.
Sempre que uma Olimpíada acontece, de quatro em quatro anos em algum lugar do mundo, surgem também as “modinhas” de competições esportivas a torto e a direito. Todo mundo se acha quase na obrigação de organizar uma “olimpíada de bairro”, ou coisa parecida, em “homenagem” ao grande evento, ou pelo menos para se sentir mais “antenado” com o que está acontecendo no mundo.
É claro que, passado o evento, que todo mundo assiste sentado na frente da TV com a pipoca e o refri no colo, as pessoas comuns voltam à vida sedentária de sempre com aquele vago sentimento de dever cumprido. Todo mundo, menos o Zé Carioca. Adepto da lei do menor esforço, ele não vê lógica nenhuma em fazer essa correria toda só para depois voltar para a cama por mais 4 anos. Assim, ele nem se preocupa em aderir à modinha.
O problema aqui, pelo menos para o Zé, vai ser a pressão do grupo. Com a turma da Vila Xurupita ele nem se impressiona mais, mas uma “força maior” ainda é capaz de fazê-lo saltar da cama e sair correndo alucinadamente, mesmo sem ter um tostão no bolso, como sempre. A ANACOZECA. O pavor que ele tem dos cobradores é mais forte do que qualquer vontade de ficar deitado.
Mas a presença da ANACOZECA cria uma situação delicada. Por um lado, a Rosinha tem a ideia de fazer o Zé correr com os quatro cobradores atrás nas “Olimpíadas da Vila”, porque desse modo ele seria invencível. Ninguém corre mais do que o Zé Carioca quando está fugindo de uma cobrança.
Por outro lado, o Zé está liso e sem dinheiro, daí que ele não tem por que correr. Mesmo com a Rosinha dando a ele um emprego temporário, para que ele tenha o dinheiro e a motivação, a principal regra das histórias de cobrador é que eles nunca conseguem cobrar o Zé de verdade, esteja ele com dinheiro ou não.
Desse modo, papai se coloca em uma “sinuca de bico” criativa: O Zé não pode desapontar a Rosinha e voltar para a cama, simplesmente. Seria uma desfeita grande demais. Melhor seria se ele fosse realmente competir, e ainda por cima fizesse bonito. E apesar dos esforços da Rosinha para transformar o Zé em um cidadão de bem, pagador de suas dívidas, os Anacozecos não podem, absolutamente, conseguir cobrar o Zé. Nunca, nunquinha, em momento algum.
E agora, José? Quero dizer, e agora, Said? Essa não é a Grande Corrida de Tartarugas, e não é uma coisa muito bonita usar o papagaio como se ele fosse algum tipo de “isca”. Não é assim que se compete em um esporte sério. Além disso, mesmo que o Zé conseguisse correr dos cobradores, ganhar a corrida e ainda por cima escapar com a grana, seria óbvio demais colocar na história a cena que a Rosinha imaginou para as Olimpíadas locais. Em termos de composição da história em quadrinhos, o leitor já está com a cena na imaginação, e não haveria surpresa nem graça nenhuma em uma mera repetição.
A solução encontrada foi meio mirabolante, mas não deixa de ser criativa. Ela também se encaixa direitinho na trama, já que uma instalação portuária pode mesmo conter alguns equipamentos bastante perigosos. E como se não bastasse, o Zé não seria o primeiro herói dos quadrinhos a ganhar “poderes” ao entrar em contato com algum tipo de radiação atômica. O Homem Aranha e o Hulk são dois exemplos clássicos disso.
****************
Já leste o meu livro? Quem ainda não leu está convidado a conhecer minha biografia de papai, à sua espera nas melhores livrarias.
Marsupial: http://www.lojamarsupial.com.br/ivan-saidenberg-o-homem-que-rabiscava
Comix: http://www.comix.com.br/product_info.php?products_id=23238
Cultura: http://www.livrariacultura.com.br/p/ivan-saidenberg-o-homem-que-rabiscava-15071096
Monkix: http://www.monkix.com.br/serie-recordatorio/ivan-saidenberg-o-homem-que-rabiscava-serie-recordatorio.html