História do Professor Pardal, de 1973.
Trata-se de um breve exercício em futurologia. O nome da história é uma brincadeira com o nome Patópolis (algo como “cidade das latas”), e o “2000” é uma referência ao novo milênio. Na segunda metade do século XX muita gente se divertia tentando imaginar como seriam/estariam as coisas no início do século XXI.
A comida enlatada é algo que remonta ao século XVIII, e que tem sido verdadeiramente providencial para a segurança alimentar de um número crescente de seres humanos no planeta. Mas é claro que esse método de conservação de alimentos tem seus prós e contras, desde o uso, lá no início, de metais tóxicos como o chumbo e o estanho e até um problema que perdura até hoje, que é o que fazer com as latas usadas.
Mas ao contrário do que papai previu, após atingir o auge nos anos 1970-80, hoje em dia o uso de latas para conservas parece se encontrar em franco declínio. Outro dia mesmo eu ouvi duas funcionárias de um supermercado comentando, enquanto reabasteciam uma prateleira, que há cada vez menos latas à venda. Os fabricantes estão preferindo as embalagens de vidro ou os sachês de plástico. Decididamente, esta não é uma das histórias “proféticas” de papai, como “O Roubo da Tocha Olímpica”, por exemplo, e talvez seja melhor assim.
Cansado de carregar latas e mais latas do supermercado até sua despensa, o Pardal resolve dar um pulinho no futuro e ver como vão as coisas. O que ele descobre é que ele mesmo acabou inventando milhares de utilizações inusitadas para coisas em lata, e quase enterrando Patópolis sob uma montanha de latas usadas. Em nenhum momento se fala em reciclagem, que seria o lógico hoje em dia para eliminar tanto material descartado, mas isso faz parte da graça toda da coisa.
Mais interessante do que o devaneio sobre latas é o exercício em ficção científica inspirado em filmes e séries dos anos 1960-70, com especial destaque para a presença de todo tipo de máquina eletrônica e as roupas em modelos bizarros. Se há uma coisa que mudou menos do que os nossos hábitos alimentares nesses anos todos, certamente foi a moda. Mas se dependesse dos filmes antigos, estaríamos realmente todos vestidos com batas de bolinhas, hoje em dia.
Outra sacada interessante é a evolução dos próprios personagens, nesse decorrer de mais ou menos 30 anos representado aqui: os sobrinhos do Donald, do Mickey e do Pateta, e até mesmo os Metralhinhas, já estão todos adultos. E todo mundo parece levar um abridor de latas no bolso para onde quer que vá.
E o Peninha, quem diria, agora é diretor do jornal A Patada. Esse era provavelmente papai tentando se imaginar dali 30 anos, já que ele sempre se identificou fortemente com o pato abilolado. Mas o Pardal tem razão: o mundo dá umas voltas bem malucas às vezes, e nem todas são como a gente espera…
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