Gruda, Cisne!

História do Superpateta, publicada pela primeira vez em 1980.

“Gruda, Cisne!” é o nome de uma antiga fábula infantil ambientada na Idade Média: um rei, pai de uma linda mas melancólica princesa, oferece um grande prêmio a quem a fizer sorrir. De olho na bolada, chega à cidade um jovem que traz pela coleira um lindo cisne mágico que ganhou de uma fada (ou bruxa) para esse fim.

Uma a uma, ele vai convencendo várias pessoas que encontra pela rua, incluindo alguns altos dignatários locais, a tocar no pássaro enquanto pronuncia a palavra mágica: “Gruda, Cisne”, e as pessoas vão ficando grudadas, sendo obrigadas a seguir o rapaz pela cidade.

Quando seu “séquito” já está grande o suficiente, o rapaz se dirige ao castelo, onde faz a princesa rir e exige sua recompensa. Mas o rei tenta se esquivar de pagar, e como punição o rapaz leva para longe a moça grudada também ela ao cisne. Quando ele finalmente resolve libertá-la, a princesa havia se divertido tanto que não quis mais sair de perto dele e concordou em casar-se com ele.

Na história de papai o rapaz pobre mas abençoado pela fada é substituído por um vilão hipnotizador que vai grudando pessoas ao pássaro por sugestão hipnótica com o objetivo de se tornar o dono de Patópolis.

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Assim, ficam grudados até o Prefeito Leitão, o Coronel Cintra e o próprio Superpateta.

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Mas, mesmo grudados, os bons da cidade são mais espertos que o vilão e conseguem virar o feitiço contra o feiticeiro.

Só Invente Se For Inventor

História do Professor Pardal, de 1974.

A ideia, aqui, é explicar exatamente como e porquê o Professor Gavião, apesar de todo o seu maquiavelismo, nunca vai chegar a ser um grande inventor. Ele até que tenta, mas seus inventos “autorais” são perfeitamente inúteis, como a máquina de alimentar sapos, ou a armadilha para pulgas que precisa que a bichinha seja colocada sobre uma plataforma na esperança de que fique quietinha no lugar para receber uma martelada.

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Esta é uma antiquíssima piada de português, que papai costumava contar. É mais ou menos como a receita para se pegar jacarés com um binóculo, pinça e caixa de fósforos. A graça toda da coisa reside no absurdo da situação.

Mas, como todo “bom”, quer dizer, mau, bandido Disney, ele não vai desistir tão fácil e começa então a usar inventos roubados do Pardal para roubar mais inventos do Pardal. Nem o Lampadinha escapa da onda de roubos, e é reprogramado para levar ao Gavião os projetos mais secretos e valiosos de seu arquivo.

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Em todo caso, como sempre, as máquinas fazem o que você as programa para fazer, não o que você quer que elas façam. Como último recurso, o bandido inventa uma cópia mal feita do Lampadinha, o Lampadosa, que também envia ao laboratório do Pardal para roubar. Mas também este autômato segue as ordens ao pé da letra, com resultados desastrosos para o vilão.

A piada recorrente e “fio de puxar” aqui é a presença do “Metralha robô”, construído pelo Gavião com base num projeto do Pardal. Apesar de funcionar até que bem o invento será de pouca valia para o bandido, e como todo bom monstro, voltará para se vingar no final.

O Fim da Terceira Companhia

História que combina guerra e terror, publicada na revista Seleções de Terror (Uma edição especial com Histórias Sinistras) Nº 79, da Editora Outubro. A capa, por outro lado, apresenta o número 17. O argumento é de papai, e o desenho do Julio Shimamoto, datado de 1961.

A guerra em questão, a julgar pelos uniformes, parece ser a Guerra Civil dos EUA em meados do século XIX, ou algo parecido. A Terceira Companhia estava guardando um forte, quando um fulminante ataque do inimigo mata a todos, apesar de terem lutado com bravura. Sobra só o tenente, comandante da Companhia, que mesmo ferido faz um esforço sobre-humano (ou melhor, sobrenatural) para chegar de volta ao posto e comunicar a derrota de seus soldados.

Uma vez lá, se depara com superiores que não querem enxergar as falhas no seu plano de guerra e que colocam a culpa toda no pobre tenente, condenado então ao pelotão de fuzilamento. Mas, quando vão buscá-lo ao amanhecer para a execução ele não está mais na cela, apesar de ter sido vigiado a noite toda. O que será que aconteceu? Um soldado tão valente e abnegado teria preferido fugir covardemente a enfrentar o seu destino? Impensável! E como ele poderia ter escapado? A surpreendente e aterrorizante resposta teremos, como de costume, no último quadrinho.

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No Ritmo Da Bruxa

História dos Sete Anões, de 1974.

Esta história se passa em uma época na qual a Branca de Neve já está casada com o Príncipe e vivendo no Castelo, enquanto os anões seguem com sua vidinha pacata na floresta.

O interessante é que a Bruxa Má, que todos pensavam ter morrido no final do filme original, está na verdade viva e ainda tramando maneiras de conseguir se vingar da princesa e de seus amigos.

Por meio de um feitiço aparentemente inofensivo, que faz os anões terem vontade de batucar nas panelas da cozinha, a bruxa consegue fazer com que eles briguem. Isso atrai a princesa de volta para a casinha, para cuidar deles por alguns dias e ver se consegue acalmar os ânimos.

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Isso, é claro, é o que a Bruxa Má queria: tirar Branca de Neve da segurança do Castelo para poder atacá-la novamente com a maçã enfeitiçada, agora na forma de uma linda torta de maçãs.

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Obviamente, o plano não vai dar certo. Mas graças a toda essa trama, a princesa teve a chance de rever seus amiguinhos dos velhos tempos.

A Invasão De Morcegos Vermelhos

Primeira história dos Alienígenas Transmorfos, de 1973.

Papai gostava de personagens versáteis, que pudessem literalmente “pousar” em cada um dos vários “ambientes” de personagens e deixar o seu recado. Assim, estes alienígenas já infernizaram, além do Morcego Vermelho, o Mancha Negra, os Escoteiros Mirins e o Zé Carioca.

Estes bichos alienígenas não conhecem absolutamente nada do nosso planeta, mas vão precisar viver aqui de agora em diante. O motivo é meio obscuro, mas parece que há alguma guerra no planeta natal deles, e o rei foi exilado com um pequeno séquito a bordo de um clássico disco voador, com direito a janelinhas em volta e antena no topo. Aqui na Terra, pelo menos, eles podem cultivar os cogumelos de que se alimentam, enquanto tentam aprender coisas como idiomas, cultura, usos e costumes para ver se conseguem se misturar à população. São de modo geral pacíficos.

Sua única vantagem é a capacidade de tomar a forma dos seres vivos de nosso planeta na tentativa de passar despercebidos, mas são completamente incapazes de aprender o que seja do modo de vida na terra, o que é claro leva a inúmeras situações bizarras.

Semelhantes a estes, mas mais belicosos, são os transmorfos Alfabeta e Gamadelta, duas nuvenzinhas, uma clara e mais paciente e outra escura e mais violenta, que têm a expressa missão de preparar a Terra para uma invasão e consequente aniquilação de seus habitantes. As principais vítimas deles são o Zé Carioca e o Nestor, mas já andaram às voltas com o Biquinho, também.

O grande mistério desta primeira história é a real aparência dos invasores. Eles só vão aparecer tais como são no último quadrinho, mas deixam algumas pistas espalhadas pelas páginas:

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De resto, a presença dos invasores provoca a maior confusão em torno da Caixa Forte, com o Morcego e o Donald atrás dos “Morcegos Vermelhos” para tentar entender alguma coisa, e o Tio Patinhas preocupado apenas em descontar o salário do Morcego Vermelho por causa das peraltices no meio da noite, quando ele deveria estar bancando o guarda noturno.

No final a forma original dos Transmorfos é revelada, e há quem os compare a bichos da seda. São umas lagartonas até simpáticas. A peculiaridade das lagartas em geral é o seu ciclo de vida, que as leva a se transformar em todo tipo de borboleta e mariposa, e que certamente foi a inspiração para estes personagens.

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(Para finalizar, uma dica: recebi várias perguntas do tipo desde a semana passada, então acho que vale a pena descrever um pouco como funciona este blog.

Primeiramente, e certamente mais importante, quem quiser saber em quais revistas esta história já foi publicada, quantas páginas tem, e quem é o desenhista, entre outros detalhes técnicos, deve clicar no link que está embutido no ano da história, logo na primeira frase deste artigo.

Isso, é claro, vale para todos os outros artigos deste blog. O link leva ao site Inducks, cujos mantenedores se esforçam por catalogar o máximo de detalhes possível sobre o máximo de histórias Disney possível, e estão fazendo um ótimo trabalho, aliás.

Outros links que possam estar presentes ao longo do texto levam a páginas da Wikipédia e de outros sites, quando apropriado, que explicam melhor outras referências da história. Eu pessoalmente cliquei em cada um deles e meu computador não “morreu”, então acho que são seguros. Papai me dizia que o seu leitor ideal era aquele que lia o gibi com um dicionário do lado e uma enciclopédia ao alcance da mão. Hoje em dia, com a Internet, nada mais fácil.)

Além Da Imaginação

História publicada em 1973 para promover o Manual das bruxas Maga e Min.

As duas bruxas estão discutindo quais temas dentro da magia deverão ser abordados no manual, e como elas não conseguem chegar a um acordo, outros bruxos e seres mágicos de todos os ramos da História, da mitologia e dos quadrinhos começam a aparecer para tentar ajudar. Temos, assim, as participações do Conde Cagliostro, um ocultista do século XVIII, Medéia, da mitologia grega, e sua tia Circe, outra bruxa da mitologia grega.

Bruxas manual

Apesar da boa vontade dos bruxos mitológicos, Maga e Min resistem e o corvo Laércio acaba transformado em sapo por Medéia. Com isso, a coisa acaba em uma grande briga, que gira mais ou menos em torno de Circe e de sua mania de transformar a todos os seres vivos que vê em porcos. Ao que parece, esta é a única magia que ela sabe fazer, e ela se ofende quando a Min a confronta com isso.

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Quando a Min resolve então “entrar na onda” das transformações em porcos, a sala toda acaba parecendo um chiqueiro. Até mesmo o Laércio, que é o fio que vai unindo a trama toda, acaba transformado de sapo em porco. Nisso, outras bruxas e fadas dos quadrinhos começam a acudir, tanto para socorrer as colegas e as visitas, quanto para dar palpites sobre como deverá ser o Manual.

A primeira a chegar é a Bruxa Vanda com sua vassoura Jezebel, e neste momento descobrimos que a magia é mais ou menos como os computadores: o encantamento faz o que você manda, não o que você quer.

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Aos trancos e barrancos as bruxas vão percebendo que não adianta brigar, e que é melhor colaborar. A história termina numa grande apoteose, com a aparição de todo tipo de ser mitológico e personagem de quadrinhos associado com magia e folclore, e tudo parece acabar bem, com os planos para o manual bem encaminhados, finalmente.

Só o pobre sapo… quer dizer corvo Laércio é que não se dá tão bem assim. Desse modo, ele puxa o fio da meada e arremata num final coeso. Será que no Manual ele encontrará a solução para voltar a ser corvo? E o leitor, o que descobrirá por lá?

Os Cobrões do Corinthians visitam a Taika

Nem só quadrinhos papai escrevia naqueles tempos das histórias de terror e de guerra.

Ele fez também esta pequena matéria e entrevista com dois antigos craques do Corinthians, que foi publicada na Revista Combate número 5 da Editora Taika, de 1971.

Fãs de quadrinhos, José Maria Rodrigues Alves e Aladim Luciano um belo dia visitaram a redação e foram recebidos com festa, até mesmo porque era aniversário de um deles. A matéria vale pelo documento histórico que é, e especialmente pelas fotos dos funcionários, diretores e artistas da Taika presentes.

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Craques na Taika2

Craques na Taika3

O Mancha Branca

História do Pateta, de 1973.

A ideia para a história parece ter sido uma reflexão sobre a cor do manto do Mancha Negra e sobre a cor “oposta”, o branco. Que existe um Mancha Negra, todos nós sabemos. Mas como seria se o oposto, um “Mancha Branca”, também existisse? E a personalidade desse “Mancha”, seria má ou seria o oposto?

E será que existem “Manchas” de outras cores? O próprio “Mancha Branca” fala em “Mancha Cor de Rosa”, o Mancha Negra ameaça bater nele até transformá-lo em “Mancha Roxa”, e no mundo real temos até uma torcida de futebol com o nome de Mancha Verde, e um símbolo que deixa poucas dúvidas quanto à fonte da inspiração:

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O que acontece é que o Mancha Negra fugiu da cadeia novamente. Até aí, nada de novo. A surpresa vem quando o Pateta também desaparece de repente. O bilhete deixado na parede da casa do Mickey, alegando o rapto do Pateta, tem letras invertidas e uma assinatura inspirada na do bandido, mas completamente branca. O vilão pode ser mau, mas se há uma coisa que ele não faz é escrever errado. Isso é coisa de gente com pouca inteligência, e o Mancha Negra pode ser tudo, menos bobo.

Para piorar, os crimes praticados pelo Mancha Branca são bem toscos, e o bandido logo sai atrás do imitador para tirar satisfações. O interessante é que essa cara comprida mesmo por baixo do capuz, a calça azul e os grandes sapatos bicudos são bastante familiares.

Mancha Branca

A sensação geral criada é de confusão, e um certo desconcerto. O leitor menos desconfiado passará a história toda tentando imaginar o que o personagem comprido fantasiado com um lençol pretende, já que a fantasia realmente não engana ninguém, enquanto o leitor mais atento logo intuirá do que se trata. O fato é que logo o vilão estará novamente na cadeia, e o mistério do Mancha Branca será finalmente revelado.

Mal Me Quer, Bem Me Quer

História do Morcego Vermelho, de 1973.

Por causa de suas aventuras como herói, o Peninha está atrasado para seu trabalho em A Patada. Na pressa, ele acaba pisando na sombra da Bruxa Má, que considera isso ofensa o suficiente para lançar-lhe um feitiço. E o pior de tudo é que o Peninha nem viu a vilã, muito menos a sombra.

A intenção do feitiço é que quem gosta do pato passe a não gostar dele, e quem não gosta passe a gostar. Mas a coisa é um pouco mais caótica do que isso: as mudanças de tratamento acompanham as mudanças de humor das pessoas, o que leva a uma série de situações hilárias e inusitadas.

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O problema é que a urucubaca não está apenas com o Peninha. Mesmo em sua identidade secreta como Morcego Vermelho ele passa a ser hostilizado pelo povo e amado pelos bandidos. Até o Donald, que também não está entendendo nada, quase revela a identidade do primo, só para melhor maltratá-lo.

A sorte do nosso amigo enfeitiçado é que o feitiço só dura um dia. E não nos esqueçamos da bruxa: ela também terá o seu castigo por atacar um pato perfeitamente inocente, e também não vai entender nada, quando o feitiço virar contra a feiticeira.

O personagem “Dr. Importantino” é uma sátira com os figurões das colunas sociais, aquela gente fútil de Ego inchado que se acha muito importante e adora se ver no jornal, e que fica furiosa com coisas bobas, como pequenos erros de grafia em seus nomes, e coisas assim.

Uma década depois papai voltaria a este tema com “O Feitiço da Vila”, história do Zé Carioca já comentada aqui, onde faz uma variação, melhorando a ideia e misturando o feitiço da inversão dos amores e ódios com as três bruxas de Macbeth e a música de Noel Rosa.

Se estivesse vivo, papai completaria hoje 75 anos de idade. Por favor dedique um momento de oração à sua memória.

O Dono Do Sítio

História da Vovó Donalda, publicada pela primeira vez em 1974.

Bem no estilo de papai, este é mais um caso no qual o leitor é convidado a bancar o detetive: o sítio da vovó um belo dia recebe o que parece ser um novo dono, que se baseia num documento antigo para se aboletar debaixo de uma árvore e fazer a vovó de empregada.

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Sem muitas alternativas, a velhinha resolve fazer a vontade do invasor enquanto o Gansolino investiga os fatos para ela. Aos poucos mais detalhes e pistas vão sendo adicionados, até que o mistério todo é revelado. O documento de 1875 é verdadeiro, mas em 100 anos as coisas costumam mudar bastante, e às vezes muda até o que parece nunca mudar.

Como sempre o segredo está nos detalhes, e o leitor atento vai perceber desde a primeira página que algo está errado. O Urtigão pode ser um bronco, mas não é mau. Não é não.

Urtigao Donalda

Uma légua é uma unidade de medida bastante arcaica, que corresponde a qualquer coisa entre de 2 a 7 Km. E nesta história aprendemos também que “Urtigão” é um sobrenome.