Cartões Postais da Terra Santa, anos 1990

Papai idealizou estes cartões postais que mostram os personagens Disney passeando por Israel logo que chegou ao país. Ele também chegou a visitar todos estes pontos turísticos, daí a ideia.

Ele mesmo desenhou o lápis e colocou o nanquim, e eles permanecem inéditos até hoje. Eu sei que é sábado, e saibam que este blog está meio que em marcha lenta por causa dos feriados (ei, eu também mereço umas férias), mas apresento-os aqui como uma espécie de presente de boas festas.

1) Beit Shean

Beit Shean

 

2) Cesareia (o Zé está pensando “zzz”, em hebraico)

Cesareia

3) Jerusalém, Muro Ocidental

Jerusalem

4) Mar Morto (formação de sal em forma de coluna conhecida como “Esposa de Lot“, mas há outras “candidatas” na região)

Mar Morto

5) Mar Vermelho, Eilat

Mar Vermelho

6) Massada (você pode subir ou descer o monte com o bondinho, ou por uma trilha, à sua escolha)

Massada

7) Monte Hermon, estação de esqui nas Colinas do Golan

Monte Hermon

8) Nitzana

Nitzana

9) Rio Jordão, local do batismo

Rio Jordao

10) Tel Aviv, Fonte de Água e Fogo (note-se a predileção de papai pelo Zé Carioca de chapéu, guarda chuva e paletó, ao estilo clássico)

Tel Aviv

Um Natal Inesquecível

História do Zé Carioca, de 1974.

É véspera de Natal, o Zé como sempre está sem dinheiro nenhum, e seus primos regionais de repente começam a aparecer do nada para passar as festas com ele. E agora, José?

Um por um, vão chegando Zé Queijinho, Zé Paulista, Zé Jandaia e Zé Pampeiro, cada um trazendo uma árvore de Natal de presente. Quer dizer, todos, menos o Zé Pampeiro, que trouxe DUAS árvores de Natal. Todas pinheiros naturais, menos a do Zé Paulista, que é artificial, mas pelo menos já veio com os enfeites. Mas como o Zé queijinho trouxe a cabra Gabriela, algumas delas acabam sendo “vitimadas” pelo bicho, incluindo a árvore artificial.

ZC Natal

Mas o Zé Carioca estaria contente se o problema fosse só as árvores. Como é que ele vai alimentar essa cambada toda de parentes, assim sem aviso prévio e sem dinheiro? Situações desesperadas exigem, é claro, medidas desesperadas, e o Zé resolve (argh) trabalhar como entregador de presentes de uma loja para conseguir algum dinheiro, enquanto manda o Nestor distrair a turma com alguma história mirabolante.

ZC Natal1

O mais engraçado é que os primos acreditam nas mirabolâncias do Nestor, e saem em busca do Zé. No final é claro que tudo se resolve e todos têm a sua feliz e farta ceia, mas não exatamente com o dinheiro que o Zé ganhou trabalhando.

O Natal é realmente uma época mágica, onde tudo pode acontecer, tornando cada um deles realmente um acontecimento inesquecível. É neste espírito que desejo aos leitores deste blog um Feliz Natal, e um próspero Ano Novo.

http://www.lojamarsupial.com.br/ivan-saidenberg-o-homem-que-rabiscava

O Inferno de Dunquerque

História de Guerra, publicada na revista Almanaque de Combate AM-1, Mês 7, de 1971.

Esta é mais uma história adaptada para os quadrinhos por papai. O autor é Francisco de Assis, com desenhos de Salathiel Holanda e letras de Dolores Maldonado.

O ano é 1940, estamos em plena Segunda Guerra Mundial, e infelizmente numa época na qual os alemães nazistas ainda estão vencendo a maioria das batalhas e forçando os exércitos britânico, francês e belga a uma dramática retirada estratégica.

Dunquerque

A longa história é uma dramatização da terrível batalha, que começa com os britânicos tranquilos e confiantes demais por trás de suas linhas de defesa, que serão facilmente transpostas pelos nazistas, passando então a descrever a verdadeira odisseia dos soldados aliados para conseguirem chegar de volta à Inglaterra para se reagrupar.

Papai como sempre mistura frases em inglês no meio do texto, para dar mais autenticidade aos diálogos, enquanto o colega desenhista “abusa” dos desenhos de todos os tipos de máquina de guerra, entre tanques, aviões e navios, entre cenas de combate corpo a corpo.

Dunquerque1

No final, os alemães vencem a batalha, mas não a guerra, é claro. A história serve de alerta às futuras gerações, para que não pensem que, só porque os aliados venceram, foi uma guerra “fácil”. Não foi, e muitas vidas valiosas se perderam, para que nosso estilo de vida pudesse continuar existindo. Cada um desses soldados mortos era um ser humano único e insubstituível, e o mundo se tornou um lugar menos “rico” em capital humano com a perda de cada um deles.

O último quadrinho tem direito até a uma citação de Shakespeare, para ainda mais ênfase no drama:

Dunquerque2

O Rastreador-Morcego

História do Morcego Vermelho, de 1976.

Aqui temos a apresentação de mais um aparelho maluco do Professor Pardal, inventado para ajudar o nosso herói em sua luta contra o crime: um farejador eletrônico à base de “essência de faro apurado de perdigueiro”, o que o torna tão bom de faro quanto qualquer cachorro. Mas essa aparente vantagem vai se transformar também na sua maior desvantagem.

Um antigo ditado Zen diz que “todas as coisas contém em si o seu contrário”, e este parece ser o caso, aqui também. Afinal de contas, apesar do faro excepcional, um cão farejador é apenas tão bom quanto o seu treinamento. Mas a coisa mais engraçada nesse aparelho, além da sua capacidade de criar confusões, é claro, é o som que ele emite, semelhante ao grunhido de um porco:

MOV Rastreador

Já o bandido da vez é dos piores, o terrível Mancha Negra, que está atacando as joalherias de Patópolis. Ele não tem medo da polícia, nem do Morcego, nem de ninguém. Mas isso não quer dizer que ele não será preso no final. Só que antes ele vai ter um “contato imediato” com a invenção do Pardal, com efeitos hilários e desastrosos.

MOV Rastreador Mancha

Um Presente Para Tio Patinhas

História do Tio Patinhas, publicada em 1976.

O dia do aniversário do quaquilionário está se aproximando, e ele está chateado porque nesse dia ninguém dá a ele presentes de valor material, porque consideram que ele já tem tudo, ou pode facilmente comprar o que desejar. Mas o Patinhas pensa diferente. Afinal, um presente de valor seria mais uma adição à sua vasta fortuna, e isso é o objetivo de vida dele.

Mas, para sua surpresa, de repente começam a chegar à Caixa Forte presentes e mais presentes. Eletrodomésticos, móveis, o conteúdo de uma casa completa, e até mesmo as chaves de um carro, a ser buscado na concessionária.

Patinhas presente

Mas quem teria enviado esses objetos caros todos? E por quê? Num primeiro momento ele e o Donald suspeitam de mais um golpe da Maga Patalójika, mas logo o verdadeiro responsável se revela: um milionário da vizinha Gralhópolis (a cidades das gralhas, ao que tudo indica. Assim, a região metropolitana de Patópolis vai ficando maior) de nome Aramis Ântropo.

Este é mais um jogo de palavras baseado em um cacófato. “Misantropo” é sinônimo de alguém que sente uma antipatia geral por todos os seres humanos. Em nosso caso, trata-se de um misantropo “em recuperação”, que decidiu tentar fazer algo de bom pelo próximo, mas não exatamente o Tio Patinhas. O destinatário da boa ação era originalmente o Primo Nadinhas, parente pobre do pato mais rico do mundo.

Patinhas presente1

É claro que ninguém vai ficar sem os seus presentes. E mais: nesse processo o Patinhas finalmente entende a diferença entre os presentes de valor, e o valor dos presentes. Papai gostava muito de puxar por esse lado mais terno do ricaço de Patópolis, que não deixa de ser, ele também, um misantropo. Mas por baixo daqueles quaquilhões todos também pulsa um coração, afinal. E eu desafio o leitor a chegar ao último quadrinho desta história sem nem ao menos uma lágrima no cantinho do olho.

Quanto a mim, o melhor presente que eu posso ganhar neste final de ano é você passar lá no site da Editora Marsupial e reservar o seu exemplar do meu livro sobre papai:http://www.lojamarsupial.com.br/ivan-saidenberg-o-homem-que-rabiscava

O Estranho Mundo De Esquálidus

História do Mickey e do Esquálidus, publicada uma vez só no Brasil, em 1976.

A abertura desta história é uma referência a uma das primeiras aparições do Esquálidus nos quadrinhos, de 1947. Mickey e seu amigo estão na entrada da caverna onde se encontraram pela primeira vez, quando um acontecimento similar ao da primeira história faz o rato cair num buraco e ir parar na cidade do outro, que parece ficar na Terra Oca, ou algo semelhante.

MK mundo

E já que eles estão lá, o Esquálidus convida o Mickey para um passeio. A primeira surpresa da história é o material de construção da cidade, que é toda feita de diamante. Depois, vem o fato de que é só pensar em algo de que se está precisando, e essa coisa se materializa do ar.

Feitas as apresentações à cidade e seus habitantes, incluindo os membros das famílias do Pflip e do Próprio Esquálidus, alguns até então inéditos e criados por papai especialmente para esta história, como o Juiz Armandinho e o Vovô Esquálidus, é hora de inserir alguma tensão na trama.

MK mundo1

Uma pergunta que não quer calar é: como tudo o que se deseja aparece do nada? Num mundo tecnológico como esse, que está 500 anos à frente do nosso, o fato não pode simplesmente ser explicado por magia. É na verdade uma máquina que capta os pensamentos dos habitantes e materializa tudo. (Daí que deduzo que esse deve ser, também, o segredo do calção do Esquálidus, de onde ele tira uma coisa após outra, não importa o tamanho. É possível que ele tenha uma miniatura dessa máquina, ou talvez até uma super conexão Wi-Fi com ela, que leva dentro de sua única peça de roupa para todo lugar.)

Mas o caso é que o Mickey, desacostumado com essa coisa de usar seus poderes mentais, acaba causando um mau funcionamento na máquina. O problema é que lá isso é crime, e ele será julgado e condenado, já que o tal juiz não sabe o que é um julgamento justo. O rato, que não conhece a severidade de seu crime, nem a da punição que deverá receber, fica bastante ansioso. Só que esta é uma história da Disney, não se esqueçam disso.

Por fim, é preciso encontrar uma maneira de tirar o Mickey de lá. O Esquálidus pode subir flutuando de volta pelo buraco, mas para o rato isso está fora de cogitação. A verdade é que as maravilhas da cidade e as peripécias dos personagem são tantas, que o leitor até se esquece desse “detalhe”.

É nessa hora que papai aproveita para “amarrar” o resto das pontas soltas da trama, como o estranho aparelho com aparência de cadeira elétrica e os cacos de diamante que se desprendem dos prédios da cidade (e que lá são considerados lixo) que o Mickey insistiu em guardar no bolso.

E não se esqueçam de dar uma passadinha lá no site da Editora Marsupial e reservar o seu exemplar do meu livro sobre papai: http://www.lojamarsupial.com.br/ivan-saidenberg-o-homem-que-rabiscava

Cobrar Ou Quebrar?

História do Zé Carioca, publicada pela primeira vez em 1979.

O Zé se sente tão perseguido pela ANACOZECA (a Associação Nacional dos Cobradores do Zé Carioca), que até sonha com os cobradores. E como ele também acredita que tem sonhos proféticos (como papai também acreditava, aliás, e por isso “repassou” a característica ao personagem), esse pavor acaba se retroalimentando e se reforçando na realidade desperta.

ZC cobrar

O problema é que, de acordo com o esoterismo, os sonhos proféticos (ou premonitórios) não costumam fazer mais sentido do que sonhos “comuns”, e geralmente precisam de um bom esforço de interpretação, já que costumam apresentar informações acuradas misturadas aos nossos medos, anseios e ilusões. Desse modo, é frequentemente muito difícil entender qual, exatamente, é a profecia contida neles, se é que existe alguma.

Mas o Zé acredita, e muito, e geralmente age com base no que sonhou, com efeitos hilários. Neste caso, ele sonha que o Nestor agora faz parte da associação dos cobradores e que jura, também ele, “cobrar ou quebrar”. Assim, o papagaio malandro vai a extremos para evitar o amigo, para a suprema diversão do leitor.

ZC cobrar1

No final é claro que a interpretação que o Zé fez do próprio sonho não estava 100% correta, o que, aliás, acaba não sendo algo tão ruim assim.

O Carrinho Fantástico

História infantil publicada na Revista Recreio número 189, de 21/02/1973.

Escrita por papai e desenhada por Brasílio, esta é a história de um menino chamado Valtinho, que tem um carrinho de madeira todo incrementado, com direção, breque, farol, buzina e banco. Um dia o carrinho ganha também um motor de bicicleta, presente do irmão de Valtinho.

É o sonho de todo menino: ter um carrinho que não apenas desce a ladeira no embalo, mas também tem um motor para dar mais velocidade! (Taca-le pau, Valtinho!) Só que Valtinho acelera tanto, mas tanto… que acaba viajando no tempo e indo parar na época dos índios e dos bandeirantes, onde encontra dois meninos da sua idade, um índio e um bandeirante, e faz amizade com eles.

Recreio 189

Valtinho então os traz de volta para o futuro em seu carrinho, e quer levá-los à TV para provar que viagens no tempo são possíveis. Mas eles acabam indo parar no meio de uma banda de Carnaval que passava na rua (afinal, é fevereiro), cheia de meninos e meninas fantasiados de índios e de bandeirantes, tornando bastante improvável que alguém vá acreditar na história dele.

Papai voltaria a esta ideia no ano seguinte ao criar o Vavavum, uma versão mais adulta do menino com o carrinho, em uma aventura também um pouco mais adulta, para a revista Crás!

Biquinho Kid

História do Pena Kid, publicada pela primeira vez em 1984.

Papai nunca se conformou com o fato de ter sido obrigado a transformar o Alazão de Pau, um cavalo de madeira mágico, em Torniquete, cavalo de verdade. Parte do propósito desta história é resgatar o cavalinho de pau, desta vez apresentado como brinquedo do Biquinho Kid.

Biquinho Kid

Pois é, quem diria, o Pena Kid também tem um sobrinho pestinha. Afinal, se todos os personagens da Família Pato têm seus “equivalentes” no Velho Oeste, o equivalente do Biquinho não poderia faltar.

Além disso, papai faz questão de colocar o patinho como o herói absoluto desta história, com direito a estátua e tudo. O titio Pena Kid não tem chance alguma, do começo ao fim, de tomar o papel principal: sua fama de mau músico o persegue, o que o torna mal visto onde quer que vá. Já o pequenino pode ser um pestinha arteiro, mas sabe “pagar” um bandido na mesma moeda. É a suprema homenagem às crianças, para quem (mais do que para esta ou aquela editora) papai trabalhou a vida toda.

Já o hábito do Biquinho Kid de dar caneladas nos bandidos vem de um episódio que aconteceu com nossa família uns anos antes. Fomos os quatro assistir uma peça de teatro infantil, e ao ver o pirata fazendo maldades com os outros personagens meu irmão, naquela época um menino bem pequeno, não teve dúvida: sem ainda entender muito bem o que é uma representação, subiu no palco e deu um chute dos fortes na canela do ator. Papai ficou super sem graça na hora, mas o ator foi boa praça e considerou aquilo um elogio à sua arte.

Biquinho Kid1

 

E não se esqueçam de dar uma passadinha lá no site da Editora Marsupial e reservar o seu exemplar do meu livro sobre papai: http://www.lojamarsupial.com.br/ivan-saidenberg-o-homem-que-rabiscava

Penadim E A Lâmpada Quase Maravilhosa

História do Peninha, publicada pela primeira vez em 1984.

Esta é uma paródia do clássico conto de fadas “Aladim e a Lâmpada Maravilhosa” , com algumas adaptações. A primeira é a participação da Companhia Teatral Peninha inteira, aqui sob a alcunha “Trio Assombroso”, dando uma de saltimbancos no Bazar de Bagdá.

Mas apesar de algumas reviravoltas a mais, é a mesma história: um homem mau pede ao jovem e inocente Aladim para entrar num local em ruínas e pegar de lá de dentro uma velha lâmpada a óleo que, quando esfregada, liberta um gênio que atende desejos. O resto da trama são as correrias em volta da lâmpada e do seu gênio, que vão trocando de mãos repetidas vezes enquanto a confusão só aumenta.

Papai tinha uma regra clara para esses seres mitológicos: eles não agem de boa vontade e nada do que criam tem alguma utilidade, ou dura muito tempo. Aqui há um agravante, já que o Gênio na verdade não cria nada, mas apenas transfere coisas de um lugar ao outro sem pedir licença, o que pode dar (e dá) problemas aos incautos que se arvoram a querer ser amos dele.

Penadim

Interessante é o uso de palavras bastante fortes para uma história Disney, que surpreendentemente os editores da época deixaram passar. Primeiro, o Gênio menciona um fictício “Reino da Bestarábia” (uma alusão à região da Bessarábia). Até aí, pode-se argumentar que “besta” não é exatamente um palavão, já que pode ser também o nome de uma arma medieval.

Mas lá pelo final da história o Gênio acaba sendo chamado uma vez de “lorpa“, um claro pejorativo, e até mesmo de “idiota”, mais de uma vez, e com todas as letras.

Em todo caso, o Peninha em seu papel de Aladim, como parte inocente da história, não vai acabar tão mal. Termina a história tão pobre quanto começou, isso é certo, mas ganha seu prêmio, no final, na forma do amor da princesa, filha do sultão.

Penadim1