Robin Pardal

História do Professor Pardal, de 1985.

Às voltas com uma grande e complicada encomenda, o nosso inventor predileto resolve dar uma voltinha no tempo, para espairecer. Assim, ele vai com o Lampadinha aos tempos de Robin Hood para uma visita, e também para pesquisar ideias para o seu projeto.

Esta é mais uma mistura de personagens de universos diferentes, daquelas que papai gostava tanto de fazer. E eu tenho a nítida impressão que as histórias que papai fez após passar de contratado a freelancer da Abril, de 1985 a 1988, têm uma atmosfera de “finalização”, onde papai (sabendo que essas seriam suas últimas histórias por um longo tempo, talvez até para sempre) tenta ver terminadas algumas histórias Disney que aparentemente não tem um final definido.

Por exemplo, na história do Biquinho na Terra do Nunca que comentei outro dia, o patinho chega a retirar o relógio da barriga do crocodilo, alterando seriamente a “tradição” daquele reino encantado. Até mesmo porque Peter Pan e os Meninos Perdidos estão aparentemente “parados no tempo”, numa eterna situação de luta com os piratas, que não acaba nunca. Mas depois da passagem do Biquinho por lá, aquela Terra nunca mais será a mesma.

Do mesmo modo, a história tradicional do Robin Hood está sempre parada num tempo em que o Rei Ricardo Coração de Leão está lutando nas Cruzadas, e a Inglaterra está entregue a um governo “do mal”. Nesta história que comento hoje, o Rei Ricardo finalmente volta da Terra Santa para reivindicar seu trono, efetivamente pondo um fim nos desmandos do Príncipe João. Desse modo, o final que todos passaram décadas esperando acontece, e a história dos Verdes da Floresta pode chegar à sua conclusão.

Robin Hood Pardal Rei

Mas antes que isso possa acontecer, o Pardal ainda tem que enfrentar os soldados do Príncipe João, e ajudar os amigos do Robin a libertá-lo das masmorras no castelo. O Pardal então elabora um caprichado plano, mas tomando o cuidado de usar apenas tecnologias da época, nada mirabolante demais, mas certamente criativo e eficiente. A única “tecnologia mirabolante” presente é o Lampadinha, a quem os habitantes da Inglaterra medieval têm uma certa dificuldade de compreender, chamando-o de “coisinha”, “brinquedo” e até de “rato estranho”, para a extrema irritação do robozinho.

Robin Hood Lampadinha

O plano dá certo, é claro, mas com a chegada do Rei Ricardo o Pardal se vê forçado a voltar sem ser visto ao século XX onde, com as ideias que coletou em sua aventura, consegue finalmente terminar o seu projeto de um modo bastante curioso.

Duelo Ao Pôr Do Sol

História do Pena Kid, de 1975.

O título desta história se refere a um filme de faroeste americano de 1946 (Duelo ao Sol), mas a trama em si é meio vagamente inspirada na história do Duelo de O.K. Corral, na cidade de Tombstone, Arizona, um acontecimento verídico do ano de 1881 que ficou famoso nos anos 1930 e virou filme em 1957.

No plano da história do Pena Kid o motivo para o duelo é bem fútil, só mesmo porque os bandidos (os irmãos Clanton) queriam provocar um a qualquer custo, para encobrir um plano secundário, o de chamar os irmãos Metraltons (Metralhas) para roubar o banco da cidade, de propriedade do Banqueiro Patatinhas (Tio Patinhas), enquanto todos assistem ao “espetáculo”.

No plano da história do Peninha, que é quem está criando e desenhando a história do Pena Kid na redação de A Patada sob os palpites do Tio Patinhas, esta é uma verdadeira aula de quadrinhos. Para começar, o autor é o “deus” da história, e pode fazer acontecer o que ele bem entender.

Uma característica das histórias do Pena Kid é que todos sempre estão armados, há muitas provocações e disputas, mas quase nunca é disparado tiro nenhum. Aqui não é diferente. O “autor” chega inclusive a sumir com as armas de todos, para a surpresa geral de seus próprios personagens, aliás. E a bomba que deveria explodir o banco também falha. A ideia é que Pacifica City seja realmente fiel ao seu nome, mesmo que para isso alguns absurdos precisem acontecer.

Pena Kid duelo

Desta vez os palpites do Patinhas não estão descabidos demais. Primeiro, ele pede que a situação da história “Pena Kid e Xaxam”, onde ninguém queria sacar primeiro e mandava o outro sacar, não se repita. Depois pede um duelo “diferente”, algo incomum para histórias de faroeste, e por fim exige um final criativo para a história. O Peninha atende os três pedidos, mas do seu jeito, é claro, como sempre.

E há, também, as piadas internas com o pessoal da redação. Alguns deles aparecem como figurantes (sempre lembrando que as construções da cidade têm um quê de cenário de cinema, e algumas delas são apenas fachadas escoradas por varas de madeira), e nesta história em particular podemos ver a caricatura Izomar Guilherme, de roupa de couro com franjas. O porquinho ao seu lado pode muito bem ser o Carlos Herrero, desenhista desta história, e o loirinho baixinho também não me é estranho, e já apareceu em outras histórias que eu inclusive já comentei aqui.

Pena Kid Izomar

A série de histórias do Pena Kid ilustra bem, também, como na maior parte do tempo era papai que “mandava” no trabalho do desenhista. Tudo já estava no “rafe” que o Mestre Said fazia a lápis, incluindo os detalhes que caracterizam o conceito da história como algo passado num “set” de cinema (como as fachadas escoradas e os remendos no “céu”), e até mesmo a maioria das caricaturas dos colegas. Pouco restava ao desenhista além de “passar a limpo e a tinta” o rafe original, com pouca coisa a adicionar, e não era só o caso do Herrero, mas também do Canini e de todos os outros desenhistas que finalizavam as histórias do meu pai.

O Rocambole Que Deu Bolo

História do Morcego vermelho, de 1974.

O Peninha, quer dizer, o Morcego, isto é…(às vezes ele mesmo se confunde), está às voltas com um misterioso ladrão de rocamboles que está atacando as padarias e docerias de Patópolis.

Depois de conseguir causar mais confusão que o bandido, com seus pulos errados, o nosso herói vai ver o Coronel Cintra, que também está preocupado com um roubo. Só que este não é de doces, mas sim de um valioso diamante, o “Estrela Matutina”.

Esse diamante não existe no mundo real, mas o nome é bastante sugestivo. No antigo testamento da bíblia, a “Estrela Matutina” (um outro nome para o planeta Vênus, que costuma brilhar mais forte no céu logo antes do nascer do Sol) é uma referência ao antigo império da Babilônia. Após o advento do Cristianismo, essa passagem passou a se referir também ao Diabo, pois Lúcifer (o Portador da Luz) é o nome da estrela nessa passagem da Bíblia como foi traduzida para o Latim.

Mas essas são considerações minhas, e não creio que papai tenha pensado em tudo isso ao dar nome ao diamante da história. Ele só queria um nome sugestivo, algo que soasse familiar aos ouvidos dos leitores, e como vários dos grandes diamantes famosos têm “estrela” no nome (por exemplo, Estrela da África e Estrela do Sul), ele então se saiu com este.

Em todo caso, no momento em que o “caldo” do enredo engrossa, o leitor atento se sente convidado a solucionar o mistério por si mesmo. A pista principal (e o elo de ligação) é a descrição do ladrão, que é a mesma nos dois casos de roubo. À exceção da risada, o bandido alto e magro se parece bastante com o Mancha negra fantasiado de pirata. O personagem, na história, pode ser um mestre dos disfarces e despistar a todos com eles, mas o nosso leitor que é fã das histórias de papai não se deixou enganar por um minuto sequer.

ladrao de rocamboles

Resta entender, é claro, qual é a ligação do diamante roubado com os rocamboles, e por quê o Mancha está se dando a esse trabalho todo. Esse é o ponto que “costura” a história toda, unindo os dois casos misteriosos de roubo e solucionando o mistério, mas se eu contar, perde a graça.

A Laranjada Mecânica

História do Professor Pardal, de 1974.

Esta história é um exemplo de como se faz comédia com elementos de livros e filmes de terror. O título da história é uma referência a “A Laranja Mecânica”, filme de 1971 de Stanley Kubrick, adaptado do romance de Anthony Burgess de 1962. Já a máquina em si tem qualquer coisa do Frankenstein de Mary Shelley, de 1818, da lenda do Golem de Praga, ou até mesmo da fábula do Aprendiz de Feiticeiro, no sentido que a engenhoca criada para ser útil e produzir laranjada (sem, aliás, espremer uma única laranja que se possa ver) acaba se voltando contra o seu criador e inundando a cidade.

Como, exatamente, uma máquina relativamente pequena consegue produzir todo esse mar de suco permanece um mistério.

laranjada mecanica gaviao

Mas mais do que tudo, a máquina se volta mais contra o ladrão que a roubou, do que realmente contra o seu criador, que sabe como desligá-la. Neste caso, o Professor Gavião estaria então “fazendo o papel” de Aprendiz de Feiticeiro, mesmo, com a inundação e tudo.

Detalhes interessantes são a “sala das pequenas preocupações”, onde o Lampadinha se preocupa andando em círculos até fazer um buraco no chão, no estilo Tio Patinhas, e as camas flutuantes. A do Pardal se mantém no ar por meio do que parece ser jatos de ar comprimido, enquanto que a do Lampadinha é sustentada por bexigas de hélio, do tipo usado em festas de aniversário de criança.

laranjada mecanica lampadinha

As Aventuras de Falcon

Em 1977 a empresa fabricante de brinquedos Estrela comprou os direitos de uso de um boneco, brinquedo para meninos, que no exterior era conhecido como G.I. Joe, e que aqui foi chamado de Falcon.

Para promover o brinquedo, a empresa começou uma agressiva campanha de marketing que incluiu até mesmo a publicação de alguns números de uma revista de histórias em quadrinhos, pela Editora Três. Essa campanha parece ter sido tão ambiciosa, na verdade, que eles resolveram contratar simplesmente o melhor argumentista de quadrinhos daqueles tempos para pelo menos dar o “pontapé inicial” no personagem.

O problema é que esse argumentista, Ivan Saidenberg, já era contratado da Editora Abril e seu contrato o impedia de assinar trabalhos para outras empresas do ramo. Mas papai gostou do desafio, não era avesso a um “freela” de vez em quando, e tinha soluções criativas para contornar as limitações de seu contrato com a Abril.

Uma delas era usar o nome de mamãe, Thereza Saidenberg, para assinar algumas histórias. A explicação era que, naqueles tempos de governo militar, não era bom usar um nome completamente falso. Se os militares implicassem com alguma coisa, poderia haver problemas. Mamãe então “emprestou” seu nome algumas vezes, enquanto escrevia, ela também, histórias em quadrinhos (principalmente para a Turma do Pererê, do Ziraldo) e artigos para os jornais de Campinas, entre outras coisas.

Assim, papai criou duas histórias para a revista número 1 do boneco transformado em personagem de quadrinhos, tendo recebido da Editora Três apenas um breve histórico do personagem e ficando com bastante liberdade para criar em cima. O desenhista deste projeto é o Antonino Homobono e o mini poster central da revista, mostrando Falcon em ação, é de Michio Yamashita.

O Falcon de papai tem um pouco de soldado, especialista em missões de sobrevivência na selva, um pouco de agente 007, a inventividade e o senso técnico de um McGyver, a habilidade nas artes marciais de um Bruce Lee, e a inteligência e sagacidade do Zorro.

Mas se os quadrinhos Disney podem ser chamados de “quadrinhos comerciais”, o que dizer de uma publicação criada com o firme e exclusivo propósito de vender brinquedos? Papai acreditava que esse projeto seria algo efêmero e fez algo simples, aventuras que não trazem nada de novo para um personagem que também não traz nada de novo, realmente. Esse tipo de “super soldado” era a norma nos quadrinhos americanos desde a segunda guerra mundial, e esse foi um tema que papai trabalhou bastante aqui no Brasil. E é também por isso que as histórias em si têm uma forte influência das tramas de guerra, aventura e mistério que papai escrevia nos anos 1960.

Nem por isso deixou de fazer um bom trabalho. Todos os elementos de uma boa história em quadrinhos estão aí, com as doses certas de ação, aventura, suspense e humor, e até um pouquinho de romance no final.

A pista que papai deixou para trás, e que nunca me deixou com dúvida alguma sobre a real autoria dessas histórias, é o fato que todos os personagens têm alguma varição de um nome de pássaro em seu nome. Assim, temos Falcon (Falcão), os coadjuvantes do herói Vinicius Harpe (Harpia, ou Gavião Real) e Julius Hawk (outro nome para Falcão), e até os vilões, como o Vultur (de vulture, abutre ou urubu) e seu ajudante Bird (pássaro). Na segunda história da revista, que se passa no Brasil, os personagens principais têm por sobrenome Parrot (papagaio, em inglês) e o vilão é o Pedro Gavião.

Na primeira, estamos às voltas com um cientista maluco que quer dominar o mundo com armas eletromagnéticas e um raio de controle da mente. Seu único erro foi sequestrar o Falcon e oferecer a ele o “lado negro da força”, que nosso herói recusa, é claro. Frustrados os planos do vilão, é acionado um mecanismo que faz uma ilha toda no arquipélago do Havaí ir pelos ares, segundos depois que os heróis conseguem evacuar os últimos escravos da máquina de controle mental do vilão.

Falcon Abutre

A segunda história é mais simples, uma aventura nas selvas no norte do Mato Grosso, que envolve uma série de atentados contra um pesquisador e sua filha, uma disputa secreta por uma mina de diamantes, e um beijo final da mocinha.

Falcon Selva

Mais detalhes sobre esta publicação podem ser encontrados no blog do meu amigo Quiof.

A Faculdade De Bruxedos

História da Maga Patalójika e Madame Min, de 1974.

Décadas antes de se ouvir falar em Harry Potter e Hogwarts, Bruxópolis já tinha sua Faculdade de Bruxedos.

A escola oferece apenas cursos noturnos e ocupa um velho casarão caindo aos pedaços, contando também com aulas frontais, como qualquer escola, com direito a quadro negro e giz, e laboratório de alquimia (no lugar do tradicional laboratório de química das escolas “normais”). A Maga ministra as aulas teóricas, e a Min as práticas.

Min alquimia

Os alunos são a Bruxinha Perereca, o Bruxinho Peralta, e Jezebel, a vassoura da Bruxa Vanda, a quem o Peralta chama de “Tia Vanda”, estabelecendo aí um parentesco. Já a Perereca é sobrinha da Maga.

O elemento de instabilidade da história é o Peralta, que “toca o terror” na escola com sua máquina de fabricar monstrinhos instantâneos, e acaba indo parar no canto do castigo por isso. Mas por pouco tempo.

Maga monstrinhos

No começo da história temos uma discussão entre a Madame Min e a Bruxa Vanda sobre quem seria a mais velha, e a Min ironiza mencionando Circe, antiga e famosa bruxa da mitologia grega que se divertia transformando homens em porcos.

Vanda Min Circe

 

Biquinho Na Terra Do Nunca

História do Biquinho, publicada pela primeira vez em 1985.

Achando que poderia ser uma boa ideia, Peter Pan manda Sininho levar o Biquinho para a Terra do Nunca, sem imaginar o tamanho da encrenca que está “comprando”.

Como diz a própria Sininho, o Biquinho não passa de um patinho ainda amarelo. E mesmo assim, a coisinha arma o maior rebuliço no navio dos piratas: para começar, solta a caríssima Ave do Paraíso do Barrica e prende a si mesmo na gaiola em seu lugar.

Mas nem mesmo a gaiola é uma limitação para o Biquinho, sua criatividade indisciplinada e suas “artes”: ele morde dedos, pula pelo convés, voa com o pó de pirlimpimpim dentro da gaiola mesmo, e nenhum dos piratas consegue pegá-lo. O próprio Peter, quando finalmente chega para socorrer o patinho, tem dificuldade em chegar a um acordo com o pestinha, que só faz o que quer.

Biquinho piratas

A Sininho é chamada por ele de todas as variações possíveis de seu nome: sineta, campainha, badalinho, e por fim sinusite e sinuca. Nem o crocodilo “tic tac” escapa: após engolir o patinho com gaiola e tudo, é obrigado a cuspi-lo, porque a praguinha faz cócegas em sua barriga… por dentro! E quando o Biquinho sai, ainda leva consigo o despertador que o monstro engoliu, todos esses anos atrás.

Com o pestinha por perto, nada é sagrado. É a completa “subversão” da Terra do Nunca e de todas as características tradicionais da história clássica do Peter Pan. Com o Biquinho por lá, a Terra do Nunca corre o risco de “nunca” mais ser a mesma.

Biquinho piratas nunca

O uso indiscriminado do jargão naval aprendido nos livros de aventura aparece nesta história também, como era costume de papai em todas as histórias que escrevia sobre o tema. “Dobrões de oito”, “Arriar a mezena”, “Todos a bombordo”, são algumas das palavras de ordem que o Biquinho grita, de brincadeira.

Além de tudo isso, a história tem também uma referência “cultural” aos tempos em que foi escrita. Naquela época havia um irritante comercial das canetas “BIC“, que se tornou uma espécie de mania nacional. Depois dessa campanha publicitária, qualquer pergunta, a qualquer pessoa, sobre a grafia de uma palavra, passou a receber essa resposta “engraçadinha”. A partir daí, perguntar “como se escreve” passou a ser um mico e caiu em desuso. Pena.

Biquinho piratas caneta

A Conquista Do Oeste

História do Pena Kid, de 1983.

O Inducks nos diz que esta é a primeira história do Vingador do Oeste que é desvinculada da série “Histórias em Quadrinhos na Redação de A Patada”. O interessante é que ela foi escrita três anos antes de sua publicação. Disso, eu concluo que esta mudança pode muito bem ter sido uma sugestão de papai, mais do que um pedido da redação, ao contrário da transformação do Alazão de Pau em cavalo de verdade (mas isso já é outra história).

Aqui papai nos conta sobre o “desbravamento” do Oeste, e as origens da fundação de Pacífica City, mais ou menos nos moldes da origem do Alazão de Pau, por exemplo.

Começa com o Pena Kid, no estilo “cavaleiro solitário” atravessando o deserto enquanto canta “Oh Suzana” sendo contratado por um grupo de pioneiros em seus carroções para afugentar índios com sua, bem, música. Até uma certa lesma parece ter sido posta para correr. A letra cantada por ele é diferente das mais tradicionais, mas até aí, essas canções folclóricas podem mesmo ter muitas versões (se bem que esta letra em particular é uma “composição original” do Mestre Said em pessoa).

Pena Kid Oh Suzana

A história pode ser dividida em várias partes. Na primeira, o Oeste é chamado de “bravio”, e os pioneiros têm a missão de passar pelos índios para chegar lá. Por um pedágio montado pelos índios Pés Chatos (o que parece ser uma homenagem a Humpá-Pá, de Uderzo & Goscinny), mais exatamente.

Encontrada uma área apropriada e fundada a cidade, entramos numa segunda fase, onde o Oeste é chamado de “desbravado”, só por causa da existência da cidade à qual o Pena Kid dá o nome de Pacífica City. Logo de cara aparece o Zé Cejames (Jesse James), a quem o nosso herói enfrenta e vence, literalmente no grito.

Pena Kid Oleriqui

Mas a cidade é feita só de fachadas, como num filme de faroeste tipo B, e o bandido acaba fugindo da cadeia. Aqui começa a terceira parte da história, onde o Pena Kid se embrenha nos “confins do Oeste” e enfrenta seus muitos perigos, voltando de lá meio chamuscado (quarta parte), é verdade, mas trazendo consigo seu primo e ajudante de xerife Donald Kid, cuja origem é desta maneira também explicada.

As páginas estão recheadas de referências ao Velho Oeste dos EUA, aos filmes e às suas figuras históricas.

Assim, além da canção clássica, que se refere também à época da Corrida do Ouro (e que o Tio Patinhas conhece bem), e do bandido, temos menções a Pancho Aldeia (Pancho Villa), aos chefes indígenas Touro Sentado, Pé Grande (Bigfoot) e Cavalo Louco, e ao general Custo (Custer) do lendário Sétimo Regimento de Cavalaria.

Pena Kid Chefes Indigenas

A ameaça do índio, que menciona a curva de um rio, é uma referência ao Best Seller de 1970 (e subsequente filme) “Enterrem Meu Coração na Curva do Rio”, que pela primeira vez conta a história da Conquista do Oeste do ponto de vista dos índios americanos, que foram os grandes conquistados nessa história toda.

Pena Kid Curva Rio

Marinheiro Só

História do Zé Carioca, de 1973.

Há um antigo ditado que diz que não se deve subir num navio sem antes saber para onde ele está indo, e esta parece ser a base da trama. O nome desta história vem de uma canção tradicional de Capoeira, que pode ser ouvida aqui.

As coisas acontecem mais ou menos como consequência umas das outras, uma situação vai levando a outra, até que, por um belo acaso, tudo no final se ajeita.

O Zé está fugindo de um cobrador, que o persegue até o cais do porto. Lá, o papagaio entra num navio e é tomado por marujo, numa situação que nos lembra as clássicas aventuras de piratas que papai costumava ler quando criança, como por exemplo “A Ilha do Tesouro”.

ZC Cap Arara

Ele até pensa em pular e voltar nadando, mas até aí o navio já está longe do cais e o tal cobrador está lá à espera. O jeito é ficar, e dar um duro danado como marujo, se bem que meio contra a vontade. É só aí que o Zé lembra que está mesmo sem dinheiro, que não faria diferença se o cobrador o alcançasse, e começa a imaginar se precisava mesmo estar ali. O problema é que o Zé descobre um pouco tarde demais que o navio está levando uma perigosa carga de nitroglicerina que pode explodir a qualquer momento.

ZC Nitroglicerina

Marinheiro de primeira viagem, primeiro se amotina contra o trabalho e é mandado descascar batatas, só para ter uma crise de enjoo e ser preso no porão juntamente com a carga explosiva. É só quando a tripulação abandona o navio por causa de uma tempestade que pode mandar tudo pelos ares que o Zé consegue se soltar e chegar ao convés.

É neste momento que os acontecimentos convergem para algo tão aleatório que se assemelha a alguma forma de providência divina: O Zé fica preso no timão, e seu corpo serve de contrapeso para a oscilação causada pela tempestade, controlando o navio e impedindo a explosão.

O Capitão Arara pode até ser “uma arara” (no sentido de ser muito bravo), mas também sabe ser grato, e leva o Zé de volta ao porto no Rio. Surpresa maior vai ter o cobrador, que ficou lá esperando, Mas é surpresa…

O Pequeno Campeão

Publicada na revista Destaque e Brinque 113, de 1981, esta história tem argumento de papai e desenhos de Rodolfo Zalla.

Esta publicação sempre continha as partes de um brinquedo para montar impressas em cartão, acompanhadas de uma história em quadrinhos sobre o mesmo tema.

Neste caso o tema é Fórmula 1, e a revista traz três carrinhos de corrida, box, alguns membros das equipes e até os personagens da história, para destacar, montar (eles diziam que não precisava de cola, mas uma gotinha aqui e ali certamente ajudava) e brincar.

D&BF1 personagens

Na história em quadrinhos, uma família composta pela filha Lucila (quem?), pelo filho Ivan (ein?), pela mãe Thereza (como?) e pelo pai Raul (???) vai assistir a uma corrida de automobilismo no autódromo, porque o menino é fã desse tipo de esporte. O menino, entusiasmado, quer ser piloto de corrida, e o pai resolve fazer a vontade do filho já no dia seguinte.

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Como vimos, alguns nomes foram mudados. Talvez o pessoal do estúdio tenha achado que “não cabia” mais de um Ivan na história, e mudaram o nome do personagem de papai. Além disso, também não consegui identificar os nomes dos personagens corredores profissionais, Cacá Santana e Beto Cruz.

O pai vai falar com seus amigos automobilistas, e com a ajuda deles acaba conseguindo promover uma corrida de “Fórmula 0”, que seria uma corrida de Karts com carroceria imitando a Fórmula 1. É claro que o personagem Ivanzinho vai participar, mas antes terá de treinar bastante e passar nos testes.

Esse era bem o meu pai, naqueles anos em Campinas. Conhecia todo mundo, todos o conheciam, e não havia projeto pessoal, artístico ou cultural que ele não conseguisse por em prática. Era só falar com as pessoas certas, e ele sempre sabia a quem se dirigir.

Nessa época meu irmão tinha 11 anos de idade, justamente a idade em que as crianças podem começar a correr, e se não me engano até participou de alguns treinos enquanto papai pesquisava para esta história, num Kartódromo em Campinas. Essa é a clássica história de papai que mistura ficção e realidade de um modo delicioso para mim.

Na história o Ivanzinho sai na frente, mas há um outro menino, um concorrente desleal, que tenta tirar o pequeno campeão da pista, sem sucesso. O mocinho da história vence a corrida, mas de marcha a ré, de forma completamente inusitada. É aí que o leitor atento começa a desconfiar que tem alguma coisa errada, aí… A história não é verídica, não passa de fantasia: é uma história em quadrinhos criada por um pai carinhoso para agradar aos filhos.

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